Pesquisa mostra reprovação e pessimismo sobre plano de Bolsonaro contra COVID-19
Uma pesquisa realizada pela consultoria Atlas Político com exclusividade para a CNN Brasil mostra que 64% da população reprova o plano de combate ao coronavírus adotado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Os dados, coletados entre segunda-feira e quarta-feira desta semana, com 1900 entrevistados, apontam ainda grande pessimismo por parte da população em relação ao crescimento dos casos da doença no Brasil. Para 80% das pessoas, o sistema de saúde não está preparado para suportar o aumento de doentes e 73% avaliam que a situação irá piorar.
A maior parte (38%) acredita que a crise vai durar até seis meses. Praticamente um terço (28%) avalia que ela terá duração de algo entre dois e três meses. A expectativa econômica também é baixa. Para 57%, o Brasil entrará em uma recessão neste ano. Outros 67% estão com medo de deixar suas casas e 29% com receio de perderem seus empregos. 29% dos entrevistados acham que alguém da família irá perder o emprego. 67% estão com medo de sair de casa em razão do coronavírus.
O nível de confiança é ao redor de 95% e a margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais. A amostra foi coletada online a partir de um algoritmo que considera cinco variáveis: região, faixa etária, renda, gênero e uso de redes sociais.
Os dados ajudam a explicar os motivos pelos quais o presidente Jair Bolsonaro iniciou nesta semana uma reação à crise. Até domingo, sua postura era mais cética quanto à gravidade e à celeridade do seu avanço no Brasil. Subestimou seu impacto. Assistiu aos poderes Legislativo e Judiciário se mobilizarem para tomar providências que estão ao seu alcance e ignorá-lo ao mesmo tempo.
Esboçou a partir daí um contra-ataque. Na terça-feira, promoveu finalmente uma primeira grande reunião do que acabou por ser chamado de gabinete de crise. Depois, fez declarações convocando chefes de poderes para um encontro no Planalto que acabou inviabilizado tanto por sua postura pregressa de ataques ao Congresso quanto pela confirmação de que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, fora infectado.
Nesta quarta, conduziu uma entrevista coletiva com a imagem que ficará marcada como o símbolo de país em convulsão: presidente e ministros à mesa com máscaras. Bolsonaro dividiu-se entre falar de união nacional, ao citar nominalmente os presidentes de poderes que vinha atacando, e manter seu público cativo sob sua guarda, criticando a imprensa e dizendo que sempre estará “ao lado do povo”.
A crise, porém, já é muito maior do que o embate político radicalizado que se tornou o novo normal na política brasileira. Ela é aguda justamente porque não se sabe o que vem por aí, nem como o país sairá dela. É bem vinda a tentativa do presidente de ensaiar uma trégua, mas foram tantas vezes que esse ensaio ocorreu desde que tomou posse que a população parece não acreditar.