PF diz que núcleo político usou Abin para beneficiar Bolsonaro

Informação consta no relatório da corporação, que teve sigilo retirado nesta quarta-feira (18) pelo Supremo Tribunal Federal (STF)

Leticia Martins e Douglas Porto, da CNN, São Paulo
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o principal beneficiado pela estrutura da "Abin Paralela", segundo relatório da Polícia Federal (PF) que teve sigilo retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (18).

Segundo a PF, Bolsonaro passou a ser beneficiado desde a indicação do atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) para o posto de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que aconteceu em 2019.

"Essa estrutura utilizou assessores nomeados em cargos públicos e recursos estatais para produzir e disseminar sistematicamente narrativas falsas e ataques contra instituições (como o Sistema Eleitoral Brasileiro e o Poder Judiciário), opositores políticos e quaisquer indivíduos ou grupos que contrariassem os interesses do grupo político no poder", cita a PF no relatório.

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, foi o idealizador da Abin Paralela, com a materialização da organização sendo feita por Ramagem, prossegue a PF.

"A coordenação de estrutura paralela que municiava com o produto da desinteligência de Estado núcleo formado essencialmente por funcionários em exercício na Presidência da República situam o NÚCLEO POLÍTICO no ápice da estrutura da organização criminosa desnudada na presente investigação", diz a investigação.

Também é evidenciado no documento que Carlos admite ser o responsável por gerenciar as redes sociais de Bolsonaro, "por meio das quais, em diversas oportunidades, foram divulgadas as desinformações que inflamaram e mantiveram a mobilização social necessária ao fomente da ruptura com o Estado Democrático de Direito".

Ainda conforme a PF, os depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e dos ex-ministros Gustavo Bebiano e Alberto dos Santos Cruz "apresentam lastro nas demais evidências que corroboram a premissa da criação da estrutura paralela de inteligência que dentre outras tarefas realizas realizavam ações clandestinas valendo-se dos recursos humanos, tecnológicos e financeiros da Abin para, dentre outras, criar campanhas de desinformação contra opositores, bem como destinadas à obtenção de vantagens políticas e financeiras".