Podemos abre processo para expulsar deputado Arthur do Val
Na semana passada, vazaram áudios do parlamentar em que ele diz que as refugiadas ucranianas "são fáceis porque são pobres"
![Deputador Arthur do Val desembarca em São Paulo após viagem para a Ucrânia Deputador Arthur do Val desembarca em São Paulo após viagem para a Ucrânia](https://www.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2022/03/PHO20220305004.jpg?w=1220&h=674&crop=1&quality=85)
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O partido Podemos anunciou que abriu nesta segunda-feira (7) o procedimento disciplinar interno que pode culminar na expulsão do deputado Arthur do Val, o Mamãe Falei, da legenda. Na última sexta-feira (4), vieram a público mensagens de áudio enviadas pelo parlamentar nas quais ele diz que as refugiadas ucranianas “são fáceis porque são pobres”. Ele admitiu a veracidade do material.
“A realização do procedimento é necessária para qualquer tipo de punição, em respeito à ampla defesa e ao contraditório”, diz nota enviada pelo partido. O pedido foi assinado pelas presidentes do Podemos Mulher Nacional e estadual de São Paulo, Márcia Pinheiro e Alessandra Algarin, respectivamente.
O presidente da Executiva Estadual do partido em São Paulo, Thiago Milhim, acolheu o pedido e nomeou uma comissão de ética para julgar o pedido. Ele ordenou ainda que o deputado apresente sua defesa em até cinco dias.
“A mencionada postura adotada pelo deputado estadual Arthur do Val é intolerável e demonstra um problema ainda mais grave da sociedade, pois revela a discriminação de gênero oculta, que aflora quando o indivíduo se sente protegido e acobertado por outros que compartilham da mesma mentalidade retrógrada. Quando essa sensação de impunidade se estabelece, o machismo, o elitismo e o oportunismo surgem na sua forma mais repulsiva”, diz trecho do pedido.
O documento acrescenta que “o fato de tais conversas serem privadas, como por si alegado na mídia, não servem de justificativa para a conduta aqui combatida. Ao invés, somente serve para demonstrar o verdadeiro caráter do ofensor, que se revela pelas palavras ditas de forma livre quando não sob olhar público, desvelando uma discrepante distância entre aquela figura teatralizada perante o público e o partido, e um perfil hediondo de sua personalidade que agora se revela”.
“Não bastasse tudo isso, o problema é agravado diante da situação de guerra, onde milhares de mulheres ucranianas se encontram desamparadas e desprotegidas. O momento clama e exige o esforço coletivo para suporte aos ideais democráticos e auxílio assistencial à população civil, vítima do conflito. Os representantes populares devem, mais do que nunca, possuir firmes predicados de empatia, igualdade e justiça”, diz outro trecho do documento.
“Tendo em vista que o Partido Podemos luta diariamente para eliminar o abismo histórico de desigualdade de tratamento e de oportunidades entre homens e mulheres, não há condições de se adotar qualquer postura complacente diante das declarações sexistas e desrespeitosas emitidas contra mulheres em situação de
vulnerabilidade extrema. Razão esta pela qual requer o Podemos Mulher, nos termos dos artigos 61 e 62 do Podemos, seja aberto procedimento ético disciplinar, com final aplicação da pena de expulsão ao filiado denunciado”, finaliza o texto.
Procurado pela CNN, o deputado disse que não quer que o partido seja “forçado” a aceitá-lo. “Eu sinceramente nem pensei nisso [no processo disciplinar]. Eu fiquei tão preocupado com esse negócio de recuperar minha namorada, recuperar minha saúde mental. Agora, assim, eu não vou forçar o partido a me aceitar, de jeito nenhum. Não pretendo fazer isso. Eu não quero que o partido seja forçado a me aceitar lá dentro. Se o partido não me quer, eu saio. É que eu sinceramente não tive tempo para pensar sobre isso”, respondeu.
Entenda o caso
Do Val foi para a Ucrânia na semana passada para, segundo ele, “ver o que está acontecendo ‘in loco’”, durante a invasão do país pelas forças russas, lideradas pelo presidente Vladimir Putin. Ao sair do país, enviou mensagens de voz nas quais faz comentários sexistas sobre as refugiadas ucranianas.
“É inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo se você dá bom dia elas ‘iam’ cuspir na tua cara. E aqui elas são supersimpáticas, super gente boa. É inacreditável”, disse.
“Mano, eu ‘tô’ mal. ‘Tô’ mal, ‘tô’ mal. Eu passei agora… são quatro barreiras alfandegárias. São duas casinhas em cada país. Mano, eu juro para vocês. eu contei: foram 12 policiais deusas. Deusas, mas deusas, assim, que você casa e, assim, você faz tudo o que ela quiser. Eu ‘tô’ mal, cara. Assim, eu não tenho nem palavras ‘pra’ expressar. Quatro dessas eram ‘minas’, assim, que você, tipo… mano, nem sei o que dizer. Se ela cagasse, você limpa o c* dela com a língua. Assim que essa guerra passar eu vou voltar para cá”, acrescentou Do Val em outra mensagem.
No sábado (5), ao desembarcar no Brasil, ele reconheceu a veracidade dos áudios e pediu desculpas pelos conteúdos vazados.
“Foi errado o que falei, não é isso que eu penso. O que falei foi um erro num momento de empolgação. Pelo amor de Deus, gente, a impressão que está passando é que cheguei lá e tinha um monte de gente e falei ‘quem quer vir comigo aqui que eu vou comprar alguma coisa?’. Não é isso, nem poderia. Inclusive nos áudios, de modo jocoso, informal, falo que não tive tempo de fazer absolutamente nada. Nem tempo para tomar banho, estou há três dias sem banho”, disse.