
Pré-candidatos a presidente falam sobre o papel da Caixa
Banco estatal é o principal agente das políticas do governo federal
Daniella Marques, nova presidente da Caixa, foi nomeada na quarta-feira (29) para substituir Pedro Guimarães, alvo de denúncias de assédio sexual por parte de funcionárias do banco estatal.
Ela assume o cargo com a missão de isolar a crise e manter os programas da Caixa em funcionamento. O banco é o principal agente das políticas públicas do governo federal. É responsável, por exemplo, pelo pagamento do Auxílio Brasil e pelo financiamento habitacional do programa Casa Verde e Amarela.
A CNN perguntou aos pré-candidatos à Presidência da República o que eles pensam que a Caixa deve ter como banco estatal.
Confira abaixo as respostas:
Luiz Inácio Lula da Silva (PT):
As diretrizes programáticas da chapa “Vamos juntos pelo Brasil” deixam clara a estratégia de fortalecer os bancos públicos – como BB, Caixa, BNDES, BNB, Basa e a Finep – em sua missão de fomento ao desenvolvimento econômico, social e ambiental e na oferta de crédito a longo prazo e garantias em projetos estruturantes, compromissados com a sustentabilidade financeira dessas operações.
A Caixa em particular sempre teve um papel fundamental no Brasil, tanto no gerenciamento e pagamento dos diversos benefícios sociais concedidos pelo governo federal, quanto no financiamento imobiliário e das famílias brasileiras.
Nos governos Lula, os bancos públicos foram fortalecidos e se tornaram instrumentos fundamentais para o desenvolvimento nacional. A Caixa teve um papel decisivo na implementação e sucesso do programa Bolsa Família, devido a sua enorme capilaridade nacional que a tornou a instituição responsável pelo pagamento do benefício.
Também cumpriu papel destacado no sucesso do programa Minha Casa Minha Vida, que além de garantir acesso à moradia para mais de 10 milhões de famílias brasileiras, foi um instrumento fundamental para a superação da crise de 2008/9 causada pela bolha imobiliária nos EUA.
Além disso, a Caixa e os demais bancos públicos criaram uma série de modalidades de crédito popular, garantindo a ampliação da bancarização e do acesso ao crédito às famílias brasileiras.
Nesse período, a Caixa passou por um processo de ampliação dos investimentos e aumento do número de trabalhadores e salários, conjuntamente a um incremento da lucratividade. Nos governos Lula, a Caixa acumulou R$ 39,7 bilhões de lucro líquido entre 2003 e 2010, sendo que nos governos Dilma esse valor alcançou R$ 51 bilhões. Ao mesmo tempo em que se tornava mais lucrativa, a Caixa praticamente dobrou seu corpo de funcionários, demonstrando que é possível crescer, investir, valorizar o trabalhador e ampliar a lucratividade ao mesmo tempo.
Para o futuro, a Caixa e os demais bancos públicos, enfraquecidos em sua capacidade de atuação e descapitalizados pelos recentes governos neoliberais, devem retomar seu potencial de contribuir para o desenvolvimento brasileiro. Um dos temas diretamente relacionados ao papel da Caixa é a operacionalização de um novo e amplo programa de acesso à moradia, já que o Minha Casa Minha Vida foi totalmente paralisado para a faixa de renda mais baixa, que corresponde a 75% do déficit habitacional do país, pelos governos Temer e Bolsonaro.
Também é de suma importância que a Caixa e os demais bancos públicos atendam adequadamente a demanda por crédito e serviços bancários das pequenas empresas, da economia cooperativada e solidária, das famílias de baixa renda e ajudem a financiar os investimentos sociais e ambientais fundamentais para recuperação do crescimento e do desenvolvimento nacional.
Os governos Lula já provaram que bancos públicos fortalecidos e atuantes, em particular nas áreas onde o setor privado não é capaz de prover crédito de forma adequada, podem ser instrumentos poderosos para a economia e sociedade brasileira. Agora é preciso recuperar o potencial de atuação dessas instituições, as direcionando para enfrentar os desafios do presente e do futuro.
Jair Bolsonaro (PL):
O pré-candidato não respondeu até o momento da publicação.
Ciro Gomes (PDT):
O pré-candidato não respondeu até o momento da publicação.
André Janones (Avante):
O pré-candidato não respondeu até o momento da publicação.
Pablo Marçal (Pros):
O pré-candidato não respondeu até o momento da publicação.
Simone Tebet (MDB):
A pré-candidata não respondeu até o momento da publicação.
Luciano Bivar (União Brasil):
O pré-candidato não respondeu até o momento da publicação.
Vera Lúcia (PSTU):
Acreditamos que o sistema financeiro deveria ser estatal, a serviço dos trabalhadores e pequenos produtores e comerciantes. Com créditos abundantes e baratos, em vez da especulação que existe hoje (juros de mais de 300% ao ano).
Neste sentido, a Caixa deveria ser um banco que atuasse junto aos setores mais carentes da sociedade, buscando atender às necessidades básicas, como habitação e saneamento básico.
O controle de recursos governamentais como FGTS e PIS deveria estar integrado à realização de obras sociais e de infraestrutura, garantindo desenvolvimento social e econômico em vez de privatizações.
A Caixa, 100% pública, não deveria ser um banco para disputar o mercado, ainda que atue nesses negócios. Não deveria ter metas de vendas de produtos e nem o lucro como um objetivo.
O corpo de funcionários seria especializado em atender aos trabalhadores, não vendedores de cartão e seguros. A gestão teria base nas avaliações dos atendimentos aos clientes e não nas metas alcançadas. Essas metas são frutos de uma visão administrativa de mercado, não social.
Felipe d’Avila (Novo):
A Caixa não deve ter papel algum. Não é função do governo federal administrar banco. Defendo que a Caixa seja privatizada.
José Maria Eymael (DC):
Uma das missões da Caixa Econômica Federal, na área da habitação popular, é possibilitar ao trabalhador de baixa renda a compra de casa própria sem a necessidade de entrada.
Isso é absolutamente necessário porque o trabalhador utiliza boa parte de seu salário no pagamento de aluguel de moradia, não tendo condição, portanto, de acumular poupança para entrada na compra da casa própria.
A falta de renda não pode representar a falta de moradia. Na minha visão, a moradia é um vetor fundamental na construção do estado de bem-estar social.
Leonardo Pericles (UP):
A Caixa Econômica Federal é uma empresa pública de enorme importância para a implementação de políticas públicas do governo federal. Há anos, ela vem sendo atacada por dentro e por fora. O mercado financeiro tenta a todo custo transformá-la numa empresa de capital misto para, posteriormente, privatizá-la.
Por dentro, agentes políticos, militares do alto escalão e grandes empresários do ciclo de convivência do fascista Bolsonaro utilizam os enormes recursos, particularmente da maior poupança dos trabalhadores brasileiros (o FGTS) para implementar programas e projetos que fortaleçam grandes grupos econômicos, monopólios nacionais e estrangeiros, aprofundando e aprimorando a corrupção ‘institucional’.
Utilizam o privilégio de controle de enormes recursos para aumentar as graves desigualdades sociais do Brasil. Mesmo assim, o povo brasileiro sabe do destacado papel cumprido pela empresa, ressaltando a dedicação e esforço dos seus mais de 85 mil funcionários. Sem a Caixa, os auxílios sociais que muito ajudaram os mais pobres durante a pandemia não seriam executados.
Reafirmamos, em primeiro lugar, o caráter público da Caixa. No governo da Unidade Popular, iremos fortalecer o papel da empresa, bem como dos bancos públicos, unificando suas ações para execuções de ações de combate à pobreza e desenvolvimento econômico do Brasil. Podemos destacar algumas que, ao nosso ver, permitirão uma mudança enorme na economia brasileira:
– Fortalecimento do corpo funcional da Caixa. Abertura de concurso público para acabar com a sobrecarga dos atuais funcionários do banco e melhoria do atendimento à população;
– Acabar com a abertura de capital em áreas como a seguridade e cartões de crédito do Banco;
– Ampliação do crédito a baixo custo para projetos de moradias populares, garantindo a construção de milhões de unidades habitacionais. Para isso, queremos ampliar a participação dos movimentos sociais no Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Redução do lobby das grandes construtoras privadas e apoio a criação de empresas públicas ou cooperativas de construção;
– Financiamento de ações nas áreas mais pobres do país. Apoio a projetos urbanos ou rurais nas comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas, garantindo a permanência e desenvolvimento sustentável dessas comunidades;
– Investimento do Plano Safra voltado prioritariamente aos pequenos produtores rurais. Forte combate à inadimplência do agronegócio;
– Ampliação de crédito a baixo custo para os pequenos comerciantes, camelôs, trabalhadores por conta própria. Estímulo ao cooperativismo desse setor;
– Manutenção e aperfeiçoamento dos programas de combate à pobreza e transferência de renda. Fiscalização externa desses programas e avaliação dos seus resultados com participação popular.
Luciano Bivar (União Brasil):
Como banco estatal, a Caixa tem de ter também função social, além do lucro. Embora eu seja um liberal, não defendo a privatização pura e simples de todos os órgãos estatais. A Caixa já opera num mercado com concorrência. O mais importante é que ela atenda com eficiência alguns programas sociais.
É necessário aperfeiçoar a gestão do banco, para que a população tenha à disposição as melhores condições possíveis.
Sofia Manzano (PCB):
A Caixa Econômica tem uma vocação histórica de atendimento às demandas da parcela mais pobre e sofrida da população trabalhadora brasileira, desde seus primórdios. Vale lembrar que na sua criação, em 1861, ainda no Império, a Caixa iniciou com duas linhas voltadas para esse segmento: empréstimo sob garantia de penhor a juros muito mais baixos do que as casas de penhor privadas, e conta caderneta que inclusive recebeu à época muitos depósitos de escravos de ganho, que ali poupavam suas economias visando adquirir a carta de alforria.
Vale lembrar ainda que, desde 1932, no primeiro governo Getúlio Vargas, a Caixa passou a ter o monopólio das operações de empréstimo sob penhor civil; este monopólio agora se encontra ameaçado por projetos de parlamentares ultraliberais, que não conseguem admitir que uma instituição pública possa ser ao mesmo tempo eficiente, lucrativa e prestar um bom serviço à população por um preço mais justo.
Entendemos que a Caixa deve manter e fortalecer sua vocação de principal agente financiador da aquisição da casa própria, especialmente da população de mais baixa renda. Condenamos o esvaziamento dos programas sociais de financiamento habitacional para baixa renda promovido por este governo liberal-fascista, genocida e antipovo de Jair Bolsonaro.
Defendemos ainda o fortalecimento e ampliação do papel da Caixa como principal agente das políticas públicas do governo federal. Saudamos a dedicação, empenho e profissionalismo dos empregados da Caixa. No período mais crítico da pandemia, eles se desdobraram num esforço sobre-humano para garantir o pagamento do auxílio emergencial a todos os beneficiários, muitas vezes mantendo as agências atendendo por mais de dez horas uma população tão carente e sofrida.
Perseguições e assédio moral por parte de diretorias da instituição não são novidades para os funcionários da Caixa.
No governo Collor, milhares de funcionários recém-contratados foram demitidos numa desumana reforma administrativa em 1990 – a união e luta dos funcionários fez com que todos fossem readmitidos: foi a única estatal a readmitir por acordo os demitidos de 1990. Em 1991, novas demissões injustas ocorreram na empresa por conta de retaliações contra uma greve – e, mais uma vez, a união e luta do funcionalismo da Caixa impôs a readmissão destes funcionários em 1992, no bojo da queda de Collor.
No período de Fernando Henrique Cardoso na Presidência, houve novamente muita perseguição e assédio moral contra o funcionalismo e muitas demissões sem justa causa foram implementadas. O funcionalismo da Caixa não se dobrou e, com o fim do governo FHC, a partir de 2003, o infame normativo interno que previa a demissão sem justa causa foi revogado e a maioria daquelas demissões foi revertida.
Os assediadores passam, a Caixa e seus funcionários permanecem. Pedro Guimarães foi o espelho fiel do governo Bolsonaro: fascista, machista, misógino e antitrabalhador. Pedro Guimarães foi para a lata de lixo da história. Em breve, Bolsonaro terá o mesmo destino.
Debate
A CNN realizará o primeiro debate presidencial de 2022. O confronto entre os candidatos será transmitido ao vivo em 6 de agosto, pela TV e por nossas plataformas digitais.
Fotos – Os pré-candidatos a presidente
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Jair Bolsonaro, presidente do Brasil e candidato à reeleição pelo PL
Crédito: CLÁUDIO REIS/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 2 de 12
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente, governou o país entre 2003 e 2010 e é o candidato do PT
Crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação - 3 de 12
O candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) - 20/07/2022
Crédito: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 4 de 12
Simone Tebet cumpre o primeiro mandato como senadora por Mato Grosso do Sul e é a candidata do MDB à Presidência
Crédito: Divulgação/Flickr Simone Tebet - 5 de 12
Felipe d'Avila, candidato do partido Novo, entra pela primeira vez na corrida pela Presidência
Crédito: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO - 6 de 12
José Maria Eymael (DC) já concorreu nas eleições presidenciais em 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018, sempre pelo mesmo partido
Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Bras - 7 de 12
Vera Lúcia volta a ser candidata à Presidência da República pelo PSTU. Ela já concorreu em 2018
Crédito: Romerito Pontes/Divulgação - 8 de 12
Leonardo Péricles, do Unidade Popular (UP), se candidata pela primeira vez a presidente
Crédito: Manuelle Coelho/Divulgação/14.nov.2021 - 9 de 12
Sofia Manzano (PCB) é pré-candidata à Presidência da República nas eleições de 2022
Crédito: Pedro Afonso de Paula/Divulgação - 10 de 12
Pablo Marçal, candidato à Presidência pelo Pros. Ele é empresário e se filiou ao partido no fim de março de 2022
Crédito: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 11 de 12
O PTB escolheu o ex-deputado federal Roberto Jefferson como candidato. Condenado em 2012 pelo caso do mensalão, Jefferson está em prisão domiciliar desde janeiro de 2022 por suspeita de ligação com uma milícia digital que atenta contra a democracia, segundo o Supremo Tribunal Federal
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Senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), candidata à Presidência da República - 02/08/2022
Crédito: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO