Quem são os candidatos à presidência do PT e o que defendem cada um

Eleição do partido está marcada para 6 de julho; Edinho SIlva tem apoio do presidente Lula

Alice Groth, da CNN*, em Brasília
Bandeira do Partido dos Trabalhadores  • Reprodução: Flickr
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A eleição para a presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) está marcada para 6 de julho. O segundo turno, se necessário, será em 20 de julho. O PT prevê a realização de ao menos dez debates entre os candidatos.

Após 12 anos, a sigla decidiu retomar o modelo de eleições diretas para as instâncias partidárias. Nas duas últimas duas eleições — em 2017 e 2019 — a deputada Gleisi Hoffmann foi eleita e reeleita presidente do PT, com apoio de Lula, em votação híbrida.

Gleisi, atual ministra da Secretaria de Relações Institucionais, deixou o cargo em março para assumir a pasta. O senador Humberto Costa (PE) é presidente interino do partido desde então.

A disputa promete ser a mais acirrada da história.

Quatro nomes estão concorrendo à liderança do partido, representando diferentes correntes: Edinho Silva (CNB - Construindo um Novo Brasil), Valter Pomar (Articulação de Esquerda), Romênio Pereira (Movimento PT) e Rui Falcão (Novo Rumo).

Veja quem são:

Edinho Silva

Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP) e pré-candidato a presidente nacional do PT, em entrevista à CNN • CNN
Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP) e pré-candidato a presidente nacional do PT, em entrevista à CNN • CNN

Representante da corrente "Construindo um Novo Brasil (CNB)", Edinho Silva é ex-prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Dilma Rousseff. Edinho é o candidato preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A CNB, porém, enfrenta um racha interno entre seus filiados. Segundo fontes ouvidas pela CNN, Lula teria sinalizado que apoia Edinho em uma das principais causas da crise interna: a distribuição de cargos na nova direção partidária.

De acordo com relatos de interlocutores, o chefe do Executivo teria concordado que o futuro presidente do PT deve ter autonomia para indicar nomes da sua confiança para determinadas funções na direção partidária.

A tesouraria do PT é tida como o grande pano de fundo da crise que tomou a eleição interna. É ali que se faz a gestão do fundo eleitoral e do fundo partidário, o que confere ao ocupante da vaga um enorme poder de influenciar a gestão da sigla.

Edinho afirmou à CNN que o PT tem que enfrentar grandes desafios.

“Melhorar seu funcionamento interno, fortalecer as instâncias, para preservar a democracia interna, e cada vez mais construir processos decisórios que sejam coletivos. Precisamos de um partido que volte a priorizar o trabalho de base, que tenha mais presença junto à nossa base social”, disse.

Segundo o ex-prefeito de Araraquara, o partido precisa trabalhar para ter um sucessor de Lula. “O PT precisa se preparar para o pós Lula, quando o presidente não estiver mais nas urnas. O sucessor do Lula não será um nome, será o PT forte, organizado e totalmente em sintonia com a sociedade brasileira. O PT forte construirá nomes.”

Edinho defende ainda que a sigla precisa ser atuante em assuntos como transição energética, mudanças climáticas, crise da democracia representativa, segurança pública e precarização do trabalho.

O candidato de Lula reiterou que o êxito do governo federal significa o êxito do partido, e que é necessário manter o espaço de diálogo entre as duas instituições.

“Quando necessário, o PT tem que construir espaços de mobilização social, nas redes e nas ruas, para dar sustentação política ao governo. Mas também cabe ao PT, por meio dos movimentos sociais, dos nossos parlamentares, disputar a agenda política do governo”, afirmou.

Rui Falcão

Rui Falcão, deputado federal do PT • Billy Boss/Câmara dos Deputados
Rui Falcão, deputado federal do PT • Billy Boss/Câmara dos Deputados

Presidente do PT entre 2011 e 2017 e atual deputado federal por São Paulo, Rui Falcão, tem o apoio de parte da corrente "Novo Rumo". Ele é jornalista e foi coordenador das campanhas à Presidência da República de Lula, em 1994, e Dilma Rousseff, em 2010.

Rui propõe uma reorganização da estrutura partidária, com núcleos ativos do PT em bairros nas cidades. “Precisamos aprender com as igrejas evangélicas em termos de capilaridade e presença cotidiana. Precisamos de um PT que esteja presente nas lutas diárias do povo, que ouça e mobilize, que seja a ponte para um outro modo de viver”, destacou à CNN.

Se for eleito presidente da sigla, ele também planeja criar um grupo de trabalho com visão estratégica, que pense sobre o futuro do país, afirmou. “Meu plano é colocar a política no comando — não os aparelhos, não as disputas personalistas, não os cargos —, mas sim o debate profundo sobre o Brasil que queremos construir.”

O deputado defende a preservação da autonomia crítica do partido. “Partido é uma coisa, governo é outra”, afirmou. Para ele, o partido tem o papel de mobilizador social, ajudando a articular a base da sociedade para pressionar legitimamente por avanços.

Falcão elenca quatro desafios “estruturais” do PT: o afastamento das bases populares; a fragmentação interna; o desinteresse da juventude na política institucional; e a desinformação.

“Grande parte da militância se vê envolvida em disputas internas, em gabinetes parlamentares, em correntes organizadas que, muitas vezes, não dialogam com a sociedade. E isso precisa mudar. A política não pode ser sequestrada por grupos que disputam cargos e aparelhos em vez de ideias”, avaliou.

Para ele, não se pode mais aceitar que o PT seja um partido que atua só nos períodos eleitorais.

Rui Falcão promete retomar o trabalho de base e a reconexão com jovens e trabalhadores.

Romênio Pereira

Romênio Pereira, secretário de Relações Internacionais do PT • Germana Chaves
Romênio Pereira, secretário de Relações Internacionais do PT • Germana Chaves

Romênio Pereira é um dos fundadores do PT e, atualmente, é membro da executiva nacional e secretário de Relações Internacionais do partido. Ele representa a corrente "Movimento PT".

Segundo ele, a direção nacional da sigla precisa escutar os pequenos e médios municípios do país e fazer uma melhor distribuição do fundo eleitoral.

“Isso não tem acontecido. O campo político que eu coordeno foi o único campo que defendeu 6% para o fundo eleitoral dos setoriais”, afirmou à CNN. Ele conta que pretende fazer uma defesa forte dos parlamentares das assembleias legislativas neste debate.

Romênio entende que o partido precisa estreitar relações não só nas comunidades rurais e nas áreas de maior vulnerabilidade social, mas também em setores como a igreja evangélica. “Nós precisamos ter um diálogo mais próximo com eles, da mesma forma que eu defendo o diálogo com todas as matrizes religiosas”, disse.

“O PT se formou muito visitando as comunidades rurais, os assentamentos e subindo as vilas e as comunidades mais pobres nas grandes cidades e andando pelas periferias. O PT foi criado para defender as mulheres, a população negra, a juventude, a população LGBTQIA+, o meio ambiente, os trabalhadores rurais sem terra. É isso que nós vamos continuar”, defendeu.

Romênio declarou que “não trabalha com racha interno” e que ter diferentes grupos na disputa é natural.

Se for eleito presidente do PT, ele pretende trabalhar para a reeleição do presidente Lula. “Esse é o projeto prioritário da minha campanha. Nós vamos organizar o PT com os partidos do campo progressistas, democrático e de esquerda, para que a gente possa ganhar as eleições e governar o país até 2030.”

“Eu não estou preocupado com quem vai assinar o cheque do PT. A minha grande preocupação nesse momento é com o processo da defesa do governo, da democracia e da reeleição do presidente Lula”, finalizou.

Valter Pomar

Valter Pomar, dirigente nacional do PT • Felipe L. Gonçalves/Brasil247
Valter Pomar, dirigente nacional do PT • Felipe L. Gonçalves/Brasil247

Representante da corrente "Articulação de Esquerda", Valter Pomar é historiador e dirigente nacional do PT.

Ele defende que o partido precisa voltar a lutar pelo socialismo e por mudanças estruturais, como reforma agrária, revogação das reformas trabalhista e previdenciária, industrialização do Brasil e soberania alimentar e energética.

“O PT precisa voltar a falar e a lutar pelo socialismo, precisa voltar a ser um partido militante, presente de forma organizada nas lutas cotidianas do povo brasileiro, da classe trabalhadora urbana e rural, dos pequenos proprietários, dos negros e negras, dos quilombolas, dos indígenas, das mulheres, dos LGBT, da esquerda, do socialismo”, avaliou à CNN.

Diferente de Quaquá, Pomar é crítico às alianças do governo com a direita e com o centro e entende que é necessário mais disputa política para romper um “ciclo vicioso”.

“O governo precisa ousar mais, enfrentar mais, disputar mais. Em geral, é melhor uma boa disputa do que um péssimo acordo. E o partido precisa apostar tudo na organização e mobilização da sociedade, ajudando a criar as condições para derrotar este Congresso de direita”, opinou.

“Somos defensores da tradição de esquerda, segundo a qual a direção do partido deve ter funcionamento coletivo, cabendo ao presidente ser porta-voz e coordenador deste coletivo. Nosso plano é trabalhar pela reconstrução e transformação do partido”, disse.

Sobre as divergências dentro do PT, Pomar aponta que a tendência Construindo um Novo Brasil precisa deixar de ser hegemônica e que os dois pré-candidatos, Edinho e Quaquá, têm que ser derrotados. Ele também defende que o próximo tesoureiro do PT não seja da CNB.

O historiador ainda destaca que o trabalho de base, feito com a presença junto à classe trabalhadora, é um problema na sigla porque as diretorias não coordenam essa questão.

“Se eu for eleito presidente, significa que o partido escolheu fazer um giro à esquerda”, concluiu.