Veículos militares só poderiam atuar no RJ com GLO? Entenda

Em meio à megaoperação, governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), criticou o governo federal e cobrou mais apoio das Forças Armadas

Lucas Schroeder, da CNN Brasil, São Paulo
Militares apresentam veículos blindados durante demonstração no estágio de preparação para jornalistas para atuação em áreas de conflito, do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), na Vila Militar, na zona oeste do Rio de Janeiro  • Tomaz Silva/Agência Brasil
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O Rio de Janeiro presenciou, ao longo de toda terça-feira (28), a operação policial mais letal da história do estado, com ao menos 132 mortos (sendo quatro policiais), segundo a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, 81 presos e 93 fuzis apreendidos. A ação — que mobilizou 2.500 agentes — teve como objetivo combater a expansão territorial da facção criminosa CV (Comando Vermelho).

A jornalistas, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), disse que a operação foi planejada, criticou o governo federal e cobrou mais apoio das Forças Armadas, que não estiveram envolvidas nas atividades de ontem. Por sua vez, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou não ter recebido nenhum pedido de Castro para a megaoperação no Complexo do Alemão.

Em entrevista à CNN Brasil na tarde de ontem, Castro chegou a comentar a questão e disse que pedidos por veículos blindados foram feitos à Marinha em "outras três ocasiões". Segundo o governador, a instituição negou os pedidos dizendo que seria necessária a decretação de uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

A CNN Brasil ouviu especialistas para entender em quais circunstâncias veículos militares — como os blindados do Exército solicitados pelo governador fluminense — poderiam ser utilizados em operações como a de terça-feira.

O que dizem os especialistas?

Rafael Alcadipani, professor da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas) e associado pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, explica que os blindados do Exército apenas poderiam ser empregados com a GLO.

Segundo o especialista, com o emprego de uma ação desse tipo, há o "apoio do Exército para que o pessoal tenha o respaldo legal para realizar sua operação".

"Isso tem que ser uma solicitação do governo do Rio de Janeiro e que é enviada para o Ministério da Justiça e Segurança Pública e da Defesa. Esse é o trâmite geral a ser realizado", detalha Alcadipani.

André Santos Pereira, presidente da ADPESP (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), corrobora o entendimento de Alcadipani e acrescenta que o pedido para uma operação de GLO "deve ser justificado, demonstrando a incapacidade das forças locais de manter a ordem".

"A Garantia da Lei e da Ordem está prevista no artigo 142 da Constituição Federal, permitindo que a atuação das Forças Armadas em situações excepcionais em que a segurança pública não pode ser adequadamente mantida pelos órgãos locais, realizando-se geralmente com operações em áreas com altos índices de criminalidade ou em emergências", contextualiza o delegado.

José Vicente, coronel reformado da PM paulista e ex-secretário nacional da Segurança Pública esclarece que após a decretação de uma operação de GLO "o comando da operação passa a ser do Exército, que analisa qual será o emprego adequado para o tipo de operação — quanto de infantaria, tipo de blindado, etc".

"Toda a calibração desse tipo de recurso é feita pelo Estado-Maior das Forças Armadas. Esse caso, portanto, não é uma questão de emprestar equipamentos [como sugerido pelo governador Claudio Castro]. Os veículos são operados dentro de uma lógica operacional", conclui Vicente.

(Com informações de Beto Souza, Caio Junqueira, Camille Couto, Fernanda Pinotti, Jussara Soares e Rafael Villarroel)