Dados diários isolados não permitem avaliar evolução da pandemia, diz Conass

Presidente da entidade, o secretário de Saúde do Pará, Alberto Beltrame, defendeu divulgação mais completa possível para facilitar tomada de decisões

Guilherme Venaglia, da CNN em São Paulo
Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONAS
Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e secretário de Estado de Saúde do Pará em entrevista para a CNN (08.jun.2020)  • Foto: CNN Brasil
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Em entrevista exclusiva à CNN nesta segunda-feira (8), o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, afirmou que o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, se comprometeu com a entidade a retomar a divulgação completa dos dados da pandemia da Covid-19.

O secretário afirmou que a divulgação dos dados totais, além da oscilação diária de novos casos e mortes, é importante para a avaliação correta da situação e a tomada de decisões a respeito de políticas públicas, como os rumos das medidas de distanciamento social.

"Precisamos saber em que ponto da pandemia estamos e para isso não é possível ter dados parciais, precisamos ter os dados completos, a quantidade total e precisamos sim ter os óbitos contados dia a dia. O dado solto, de um dia, não serve para fazer a análise adequada das curvas de tendência", afirmou Beltrame.

O Conass lançou neste domingo (7) uma plataforma para a divulgação dos dados da Covid-19 informados pelos estados, os mesmos que são repassados diariamente para o Ministério da Saúde. O governo federal, no entanto, passou a desde a última sexta-feira (5) fazer apenas a divulgação das atualizações diárias, sem a divulgação dos números totais.

Segundo o portal mantido pelos estados, são 37.314 mortes e 707.412 casos confirmados da Covid-19 no país. Os números batem com as oscilações diárias divulgadas pelo governo federal, com o registro de 679 novas mortes e 15.654 novos casos confirmados.

"A primeira coisa que precisa ser dita é: os dados epidemiológicos não pertencem nem aos estados nem ao Ministério da Saúde, pertencem ao povo brasileiro", disse Beltrame, que também é secretário de Saúde do estado do Pará. "Não é permitido ao gestor público omitir dados e informações, sobretudo quando se trata de saúde pública", completou.

O secretário afirmou também ser a favor da divulgação de dois tipos de informação a respeito da pandemia. Os casos e mortes registrados no dia, independentemente da data que tenham ocorrido, e um recorte de quais efetivamente aconteceram naquela data. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu um foco maior nesta segunda informação. Beltrame ponderou a sua experiência no Pará, em que chega a levar quatro dias para ser comunicado de casos ocorridos em cidades do interior do estado.

Governo federal

Segundo Alberto Beltrame, apesar das divergências em torno das divulgações oficiais, o diálogo com o governo federal melhorou após Eduardo Pazuello se tornar ministro interino da Saúde.

O presidente da entidade afirma que a reunião diária do Ministério com o Conass e o Conasems (Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde) para tratar da crise, que era feita na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e havia sido suspensa sob Nelson Teich, foi retomada na nova gestão.

Beltrame disse que Pazuello se mostrou, durante a conversa desta segunda, "surpreso com a repercussão" da mudança nos boletins diários. O Brasil chegou a ser excluído momentaneamente do monitoramento global feito pela Universidade Johns Hopkins, referência mundial em relação ao novo coronavírus.

"Para nós, nesse momento, é incompreensível que dados não sejam fornecidos à sociedade na íntegra. É importante que eles sejam do conhecimento de todos, principalmente da academia, da ciência, que possam fazer previsões e melhorar o conhecimento da doença no Brasil", disse o presidente do Conass.

A respeito de Pazuello, Beltrame ainda disse que "ele não tem intenção de omitir nenhum dado, mas é importante que ele mesmo diga isso e faça a divulgação dos dados".

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