Conheça ‘EMMA’: o massagista robô que pratica antigas terapias de bem-estar
Tecnologia usa sensores e visão 3D para medir a tensão muscular e oferecer massagens para ajudar no alívio da dor e relaxamento
Por milhares de anos, a medicina tradicional chinesa (MTC) foi usada na China e no sudeste da Ásia. Variando da acupuntura aos remédios à base de ervas, suas práticas têm evoluído constantemente ao longo do tempo – e agora, inovadores estão dando a elas uma atualização de alta tecnologia.
Desenvolvido pela startup de Cingapura AiTreat, “EMMA” é um massagista robô projetado para oferecer a Tui Na, um tipo de trabalho corporal de MTC semelhante a uma massagem profunda, uma transformação do século 21.
Usando sensores e visão 3D para medir a rigidez muscular, EMMA (que significa “Expert Manipulative Massage Automation” ou Automação de Massagem Manipulativa Especializada) identifica pontos de pressão e oferece massagens aos pacientes para ajudar no alívio da dor e no relaxamento.
“O princípio da medicina tradicional chinesa envolve tratamentos personalizados”, disse o fundador e CEO da AiTreat, Albert Zhang, acrescentando que o EMMA é “altamente flexível e personalizável”. Em última análise, Zhang espera que o EMMA possa criar tratamentos de massagem consistentes e de baixo custo que podem fazer parte da tendência crescente da medicina preventiva.
Um massagista de Inteligência Artificial (IA)
Em 2015, Zhang fundou a AiTreat como uma empresa spin-out da Universidade Tecnológica de Nanyang (NTU, na sigla em inglês) em Singapura, onde estudou ciências biomédicas. Médico treinado da MTC, Zhang tem experiência em primeira mão no diagnóstico de pacientes e na administração de tratamentos, que ele observou serem “tediosos e repetitivos”.
Com módulos de tratamento de toque suave aquecidos a uma temperatura de 38 a 40 graus Celsius, os pacientes deitados na mesa podem nem notar a diferença entre EMMA e um massagista da vida real.
Mas Zhang não quer robôs para substituir massagistas. Em vez disso, ele diz que os robôs podem ajudar eliminando o trabalho árduo que os massoterapeutas fazem todos os dias e capacitá-los a “se concentrar na parte altamente qualificada de 10%”, o que pode aumentar sua produtividade e renda enquanto reduz o custo para os pacientes.
“Um médico só pode ver um paciente por vez, mas com o EMMA, ele pode operar dois robôs e ver até quatro pacientes simultaneamente”, diz ele.
Enquanto os praticantes de MTC normalmente passam por anos de treinamento antes de serem credenciados, com certificação adicional para práticas especializadas, como Tui Na ou acupuntura, o sistema de IA do EMMA foi treinado com milhares de “pontos de dados” – corpos de diferentes formas, tamanhos e etnias – para calcular os meridianos e os pontos de acupuntura em cada indivíduo, diz Zhang.
Como o robô pode identificar a tensão muscular com seus sensores, ele diz que é capaz de diagnosticar de forma mais holística; por exemplo, a dor no joelho pode exigir não apenas uma massagem na perna, como normalmente administrada, mas também na parte inferior das costas, acrescenta Zhang. O EMMA também pode realizar diferentes tipos de massagens, incluindo massagens esportivas, e um robô médico para fisioterapeutas está em construção, de acordo com a empresa.
Atualmente, Zhang diz que há 11 robôs implantados em oito clínicas diferentes em Singapura, com planos de expansão no exterior. “Estamos vendo respostas esmagadoras de profissionais nos Estados Unidos e na China”, acrescenta.
Uma prática controversa
Em 2018, a medicina tradicional foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua 11ª versão de sua Classificação Internacional de Doenças (CID-11), um compêndio global de doenças, diagnósticos e tratamentos.
Embora a medicina tradicional seja amplamente utilizada em todo o mundo, ainda há falta de regulamentação e cobertura de seguro – e este novo reconhecimento pode ajudar a mudar isso, diz a OMS. “Com o capítulo da medicina tradicional da CID-11 sendo implementado, isso permitirá a contagem mais fácil dos serviços de saúde da medicina tradicional e a medição de seu tipo, frequência, eficácia, segurança, qualidade, resultados e custo, tanto nacional quanto internacionalmente”, disse a OMS por e-mail à CNN.
Mas a decisão não foi isenta de controvérsias, e a comunidade médica está dividida sobre sua inclusão na CID-11, devido a preocupações com a falta de evidências científicas ou dados sobre a eficácia. Embora a MTC tenha tido algumas vitórias recentes – mais notavelmente a cientista chinesa Tu Youyou, que ganhou um prêmio Nobel em 2015 por sua participação na criação de um medicamento antimalárico a partir de um antigo remédio chinês – a toxicidade de certas ervas, o comércio ilegal de produtos ameaçados de animais em extinção e a falta de dados clínicos deixaram muitos profissionais médicos com incertezas.
É aqui que a tecnologia pode ser inestimável para o futuro da MTC. Um metaestudo de 2019 revelou um número crescente de pesquisadores adotando a tecnologia de big data e “Internet das coisas” para ajudar a testar a eficácia e melhorar o diagnóstico de pacientes na prática antiga.
Soluções para smartphones
Combinar o conhecimento da MTC com a tecnologia pode ser a chave para uma assistência médica acessível não invasiva e de baixo custo, diz o cientista da computação Kun-Chan Lan. Atualmente cursando doutorado em medicina chinesa na China Medical University, na cidade de Taichung, em Taiwan, Lan está desenvolvendo softwares para smartphone que reúnem diagnósticos de MTC com IA para colocar a saúde na palma de nossas mãos.
Ele se interessou pela medicina tradicional chinesa há cerca de 10 anos, quando sua mãe foi diagnosticada com câncer de pulmão. “Alguns tratamentos da MTC, como a estimulação de pontos de acupuntura, funcionaram bem para aliviar a dor da quimioterapia”, diz Lan. A área atualmente está em estudo pelo Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa dos Estados Unidos.
Usando os sensores já embutidos em smartphones, Lan diz que biomarcadores de MTC comuns, como ritmo de pulso, o som de uma tosse ou a cor da língua podem ser avaliados usando IA para detectar sinais precoces de doenças ou problemas de saúde.
Os softwares que ele está desenvolvendo – um sistema de modelagem 3D que visualiza pontos de acupuntura, um banco de dados alimentado por IA que reconhece ervas tradicionais e uma ferramenta de diagnóstico de pulso – estão todos na fase de protótipo e teste inicial enquanto aguardam a certificação.
Assim como o EMMA, os aplicativos não substituirão os médicos, mas Lan diz que eles podem agir como métodos preventivos para doenças mais graves e reduzir o tempo e o dinheiro gastos em consultas hospitalares.
Após a Covid-19, Zhang disse que a AiTreat planeja realizar testes clínicos com EMMA na Alemanha, China e Cingapura para provar a eficácia do robô e da massagem terapêutica. “Acho que é apenas o começo”, diz Zhang. “Eu posso ver que com o apoio dos médicos, de diferentes países, o robô ficará cada vez melhor, e mais pessoas serão beneficiadas com essa tecnologia robótica”.
(Texto traduzido, leia o original em inglês)