Ministério da Saúde investiga 72 casos suspeitos de hepatite misteriosa no Brasil

Análises reúnem pacientes de dois meses a 16 anos; principais sintomas apresentados são pele e olhos amarelados, febre, vômito e dor abdominal

Iuri Corsini, da CNN, no Rio de Janeiro
Ministério da Saúde informou ainda que cerca de 10 amostras de casos suspeitos estão sendo analisadas pela Rede de Laboratórios de Referências Nacionais  • Getty Images/Westend61
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O Ministério da Saúde investiga 72 casos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida no país, com seis mortes confirmadas até o momento. As informações constam na atualização mais recente da pasta, com dados divulgados até o último sábado (28). As mortes aconteceram nos estados do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão.

As análises reúnem pacientes de dois meses a 16 anos. No entanto, os casos suspeitos estão espalhados por 17 estados e, a maior parte, concentrada em São Paulo e Minas Gerais.

Segundo o Ministério da Saúde, dos casos em investigação, 54,2% são em meninas e 45,8% em meninos. Os principais sintomas apresentados são, em ordem: icterícia (cor amarelada da pele ou olhos), febre, vômito e dor abdominal. A pasta também informou que 20 casos foram descartados.

No entanto, os números vêm revelando alta de casos: no boletim de 6 de maio, eram apenas sete casos monitorados, nos estados de Paraná e Rio de Janeiro. Na edição do dia 27, já eram 69, até chegar aos atuais 72.

A pasta informou que os Centros de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) monitoram junto à Rede Nacional de Vigilância Hospitalar qualquer alteração do perfil epidemiológico, bem como a detecção de casos suspeitos da doença, e orienta aos profissionais de saúde e da Rede Nacional de Vigilância, Alerta e Resposta às Emergências em Saúde Pública do Sistema Único de Saúde (VigiAR-SUS) que suspeitas sejam notificadas imediatamente.

Em nota, o Ministério da Saúde informou ainda que cerca de 10 amostras de casos suspeitos estão sendo analisadas pela Rede de Laboratórios de Referências Nacionais, incluindo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com explicações do médico hepatologista Hugo Perazzo, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e que constam na página da instituição, “a grande maioria ocorreu em crianças menores de cinco anos. O que chama a atenção é que em torno de 15% precisou de uma internação em unidade de tratamento intensivo, que é bastante alto”. Embora seja uma condição grave, o médico ressalta que a necessidade de transplante é para casos extremos.

“Os pais devem estar atentos a sintomas digestivos muito intensos ou prolongados e, principalmente, ao aparecimento de olhos e pele amarelos, que é a icterícia. Isso deve chamar a atenção para a procura de um atendimento médico mais urgente”, orientou.

Quais são as hipóteses até o momento?

Segundo Hugo Perazzo, nesse momento está sendo feito uma investigação de dados epidemiológicos e comparação com bases de anos anteriores. Os pesquisadores não descartam a hipótese de que os casos de hepatite já estivessem acontecendo em crianças em anos anteriores, mas não estavam sendo identificados.

O médico explicou algumas hipóteses que estão sendo observadas: “A hepatite aguda pode ter origem em medicamentos utilizados para tratar infecções por vírus respiratórios; pode ser um novo vírus que está surgindo - e aqui vale lembrar que o vírus da hepatite C foi descoberto em 1992 e antes disso, em 1985, mais ou menos, começaram a ser notificados casos de uma hepatite identificada na época como “não A – não B” posteriormente reclassificados como hepatite C", afirma.

De acordo com o especialista, os casos também podem ter relação com vírus respiratórios, como o adenovírus. "Ficamos muito reclusos na pandemia e o isolamento social e uso de máscara resultaram na baixa exposição das crianças aos vírus respiratórios da infância o que pode ter levado, agora nesse período, ao desenvolvimento de hepatites”.

Principais sintomas

A hepatite é uma inflamação do fígado e classificada como aguda quando ocorre de forma rápida e abrupta.

Em sua versão aguda, apresenta diferentes sintomas: gastrointestinais, como diarreia ou vômito, febre e dores musculares, mas o mais característico é a icterícia – uma coloração amarelada da pele e nos olhos.