1ª usina de fusão nuclear em escala de rede do mundo é anunciada nos EUA

O anúncio foi feito pela startup Commonwealth Fusion Systems (CFS) na terça-feira (27)

Laura Paddison, da CNN
Plasma confinado em um tokamak projetado pela Energy Singularity, uma startup chinesa de fusão nuclear, durante um experimento
Plasma confinado em um tokamak projetado pela Energy Singularity, uma startup chinesa de fusão nuclear, durante um experimento  • Energy Singularity
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Se tudo correr conforme o planejado, a Virgínia, nos Estados Unidos, será o local da primeira usina de energia de fusão nuclear em escala de rede do mundo, capaz de aproveitar essa energia limpa futurística e gerar eletricidade a partir dela até o início da década de 2030. A notícia foi divulgada em um anúncio feito na terça-feira (27) pela startup Commonwealth Fusion Systems (CFS).

A CFS, uma das maiores e mais badaladas empresas de fusão nuclear, fará um investimento multibilionário na construção da instalação perto de Richmond. Quando em operação, a usina será capaz de se conectar à rede e produzir 400 megawatts, o suficiente para abastecer cerca de 150.000 residências, disse o CEO, Bob Mumgaard.

"Isso marcará a primeira vez que a energia de fusão estará disponível no mundo em escala de rede", afirmou Mumgaard. O governador da Virgínia, Glenn Youngkin, saudou o anúncio, chamando-o de "um momento histórico para a Virgínia e para o mundo em geral".

A usina representaria um novo estágio na busca para comercializar a fusão nuclear, o processo que alimenta as estrelas. No entanto, o caminho para isso dificilmente será tranquilo, até porque a tecnologia ainda não se provou viável.

O mundo busca desesperadamente por uma fonte de energia limpa e abundante que possa substituir os combustíveis fósseis como uma energia de base sempre disponível; a fusão nuclear promete ser exatamente isso.

O processo envolve a fusão de átomos para criar uma poderosa explosão de energia, alcançada usando o elemento mais abundante do universo: o hidrogênio. A tecnologia mais popular utiliza uma máquina em formato de donut chamada tokamak.

A fusão é quase ilimitada, não produz poluição que aquece o planeta e, ao contrário da fissão — a tecnologia nuclear que o mundo utiliza atualmente —, não deixa um legado de lixo nuclear de longo prazo.

No entanto, levar essa tecnologia de projetos de pesquisa em laboratórios ao redor do mundo para o uso comercial tem se mostrado diabolicamente difícil. Uma piada comum na indústria é que, por décadas, a fusão esteve "apenas a décadas de distância".

É algo que a CFS reconhece. "Nada acontece da noite para o dia na fusão", disse Mumgaard. Mas a startup, que foi desmembrada do MIT em 2018 e já arrecadou mais de US$ 2 bilhões até agora, afirma que está avançando rapidamente.

A empresa está "profundamente engajada" na construção de um tokamak capaz de demonstrar energia de fusão líquida: ou seja, uma reação que produz mais energia do que consome. A expectativa é produzir seu primeiro plasma — a nuvem superaquecida de gás carregado onde as reações de fusão acontecem — em 2026 e alcançar a energia de fusão líquida logo em seguida.

Construir, possuir e operar uma usina para conectar a energia de fusão à rede elétrica é o seu "próximo ato", disse Mumgaard.

A startup analisou mais de 100 locais em todo o mundo para a usina antes de escolher o James River Industrial Center na Virgínia. O local é de propriedade da Dominion Energy, que o alugará à CFS e fornecerá assistência técnica. O processo de construção será longo, e a CFS afirma que ainda está buscando licenças.

O local foi escolhido por sua economia em crescimento, mão de obra qualificada, foco em energia limpa e a capacidade de conexão à rede após a desativação de uma usina a carvão, disse a CFS.

"No início da década de 2030, todos os olhos estarão voltados para a região de Richmond... como o berço da energia de fusão comercial", afirmou Mumgaard.

A Virgínia também é o maior mercado de data centers do mundo, um setor que exige quantidades enormes e crescentes de energia. O consumo de eletricidade por data centers nos EUA deve triplicar até 2030, o equivalente à quantidade necessária para abastecer cerca de 40 milhões de residências americanas, de acordo com uma análise do Boston Consulting Group.

A CFS afirma que a usina da Virgínia pretende ser a primeira de milhares que eles planejam colocar na rede no futuro.

A startup está longe de ser a única empresa privada tentando acelerar o cronograma para alcançar e comercializar a fusão nuclear, com outras também prometendo fazê-lo até o início da próxima década.

Em geral, as startups de fusão nuclear "tendem a ser um pouco agressivas no que prometem", disse Jerry Navratil, professor de energia de fusão e física de plasma na Universidade de Columbia, à CNN no mês passado. Há uma grande diferença entre produzir energia a partir da fusão e ter um sistema prático que coloque energia na rede e seja seguro, licenciado e operacional, acrescentou.

Mumgaard reconheceu que "haverá obstáculos e as coisas não mudarão da noite para o dia". Mas, ele acrescentou, "os projetistas e planejadores agora podem passar de uma noção geral para um local específico para o próximo capítulo na jornada da fusão".

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