7 em 10 garotos nos EUA veem conteúdos sobre "masculinidade", diz estudo

Estudo indica que jovens geralmente não buscam esse conteúdo de forma ativa, mas recebem do algoritmo mesmo assim

Kara Alaimo
7 em 10 garotos adolescentes veem conteúdos sobre "masculinidade" nas redes, segundo pesquisa feita nos EUA  • Tetra Images/Getty Images
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*Kara Alaimo é professora de comunicação na Universidade Fairleigh Dickinson. Seu livro "Over the Influence: Why Social Media Is Toxic for Women and Girls — And How We Can Take It Back" foi publicado em 2024 pela Alcove Press nos EUA.

Se seu filho adolescente está online, ele certamente está vendo conteúdo que promove a masculinidade e sugere ideias problemáticas sobre meninas, de acordo com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (8).

A maioria dos meninos – 73% – vê regularmente conteúdo sobre "masculinidade digital", o que inclui publicações sobre brigas, desenvolvimento muscular e como ganhar dinheiro, segundo uma nova pesquisa da Common Sense Media.

Meninos com maior exposição a esse tipo de conteúdo têm menor autoestima e são mais solitários, conforme a pesquisa realizada em julho com mais de 1.000 jovens entre 11 e 17 anos nos Estados Unidos. Esses meninos também são mais propensos a esconder seus sentimentos e acreditar que não devem expressar emoções, como chorar ou demonstrar medo.

Curiosamente, os meninos geralmente não buscam esse conteúdo de forma ativa, afirmou Michael Robb, autor principal do estudo e diretor de pesquisa da Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos de São Francisco que auxilia pais e professores a desenvolver pensamento crítico nas crianças.

"Uma pequena parcela disse que realmente procurava por isso", disse Robb. "Mas 68% afirmaram que o conteúdo simplesmente começou a aparecer em seus feeds sem que eles procurassem."

Isso provavelmente ocorre porque os algoritmos aprenderam que adolescentes do sexo masculino costumam ser receptivos a esse tipo de publicação, explicou ele.

Quase todos os meninos – 91% – veem conteúdos sobre imagem corporal ou aparência, como formas de se vestir e ter pele limpa, segundo o estudo. Aqueles com alta exposição a essas mensagens têm quatro vezes mais probabilidade de dizer que as redes sociais os fazem pensar que deveriam mudar sua aparência.

E a maioria dos meninos – 69% – também vê regularmente conteúdo que promove papéis de gênero de forma problemática, como publicações sugerindo que garotas preferem namorar um tipo específico de rapaz ou usam sua aparência para atingir seus objetivos, de acordo com a pesquisa.

Os resultados são especialmente preocupantes para mim, porque minhas pesquisas sugerem que, quando mensagens negativas sobre mulheres e meninas são normalizadas online, isso pode causar violência offline.

O uso das redes sociais por meninos foi "pouco estudado" no passado, disse Robb. "Aqui, estamos documentando como os algoritmos dos quais as crianças fazem parte estão especificamente moldando sua identidade durante este período crucial da adolescência, que é uma fase de formação da identidade."

Robb reconheceu, no entanto, que o estudo não pôde provar que o uso das redes sociais pelos adolescentes causou efeitos específicos na vida real.

Ele também afirmou que os resultados podem ter subestimado o quanto os meninos adotaram crenças masculinas, pois aqueles que mantêm essas visões podem não ter estado dispostos a admitir na pesquisa que estavam enfrentando dificuldades emocionais ou se sentindo vulneráveis.

Felizmente, os pais podem ajudar seus filhos adolescentes a processar de maneira saudável aquilo que encontram nas redes sociais e neutralizar os efeitos negativos.

Conversando sobre "masculinidade digital"

Primeiro, parta do princípio de que seus filhos serão expostos a esse tipo de conteúdo, afirma Melissa Greenberg, psicóloga clínica do Centro de Psicoterapia de Princeton, que não participou do estudo. "Mesmo que monitoremos e limitemos o que nossos filhos veem em casa, eles serão expostos a conteúdos que desconhecemos em outros ambientes, através de amigos e colegas", disse ela por e-mail.

Então, converse com seus adolescentes sobre isso. Você pode começar perguntando o que eles estão vendo online. "Uma dica secreta é que os jovens, na verdade, ficam bastante empolgados para falar sobre seu uso de mídia", disse Robb.

Se essas conversas parecerem desconfortáveis, tente tê-las no carro, sugere Justine Carino, psicoterapeuta baseada em Westchester, Nova York, que trata jovens e não participou do estudo. "Sentar lado a lado é menos ameaçador do que o contato visual direto, e estar em um espaço fechado ajuda os adolescentes a se sentirem seguros para se abrir", disse ela à CNN por e-mail.

Ensine os adolescentes a questionar o que veem

Explique por que devemos questionar o que vemos nas redes sociais, orienta Greenberg.

"Quando vemos coisas online, especialmente quando vemos as mesmas mensagens repetidamente, ou posts que recebem muitas curtidas, podemos acreditar neles implicitamente", disse ela. "Podemos nem perceber que isso está acontecendo."

Se uma criança parece ter aceitado algumas das mensagens preocupantes que viu, não diga apenas que estão erradas. "Podemos ter reações instintivas a essas mensagens problemáticas e ser tentados a rejeitá-las imediatamente", disse Greenberg. No entanto, "isso pode ter o efeito contrário, pois pode fazer seu filho pensar que você 'não entende' ou que ele não pode conversar com você sobre suas dúvidas em relação a essas ideias."

Em vez disso, tente reconhecer que o conteúdo das redes sociais pode ser muito convincente, especialmente quando é compartilhado por pessoas de quem gostamos.

Greenberg sugere: "Compartilhe um exemplo pessoal e questione junto com eles, dizendo algo como: desde criança, vi programas de TV e filmes onde meninos eram envergonhados e ridicularizados quando choravam ou demonstravam emoções. Mas por que isso acontece? Será que é verdade que emoções nos tornam fracos? Podemos ver isso de outras perspectivas?"

Com tanta desinformação nas redes sociais, esse tipo de conversa pode transmitir habilidades importantes para a vida, que os adolescentes precisam para avaliar a veracidade de outras informações que veem ou ouvem, como supostas notícias.

Carino ressalta que os pais devem "enfatizar o quanto é seguro" para os filhos procurá-los para conversar sobre esses assuntos (ou qualquer outro) a qualquer momento. E é importante que sejam sinceros ao dizer isso.

Cultive modelos positivos e comunidades

Um dos motivos pelos quais os meninos consomem esse tipo de conteúdo nas redes sociais é que "eles estão ativamente buscando conexão, inspiração ou orientação, porque são aspectos fundamentais para seu desenvolvimento nessa fase", explica Robb. "São necessidades básicas do desenvolvimento."

Os pais podem ajudar os filhos a satisfazer essas necessidades de maneira saudável fora do ambiente virtual.

O estudo descobriu que jovens que tinham pelo menos uma pessoa com quem podiam contar pessoalmente para apoio apresentavam melhores resultados em saúde mental, afirma Robb. Ele sugere cultivar modelos positivos para os meninos – como pais, familiares, professores, treinadores ou líderes escoteiros.

"Os meninos precisam ouvir e ver que os homens em suas vidas podem expressar uma ampla gama de emoções, e que existem muitas maneiras diferentes de ser homem, sem ser tão rígido sobre como meninos e homens devem agir ou se expressar emocionalmente", disse ele.

Também é importante garantir que os meninos façam parte de comunidades presenciais, participando de atividades como teatro ou esportes, sugere Robb.

Seja criativo. Por exemplo, se um menino gosta de jogos, "isso não precisa ser uma atividade solitária", explica. "Existem clubes locais de games, times de e-sports ou aulas de programação e equipes de robótica, todo tipo de atividade que pode combinar interesses com interação presencial."

De fato, esta pesquisa recente sugere que a maioria dos meninos está exposta a conteúdos sobre masculinidade, ideias negativas sobre gênero e imagem corporal — e aqueles que consomem mais esse tipo de conteúdo parecem apresentar piores resultados em saúde mental.

No entanto, os pais podem aproveitar essa oportunidade para conversar com os filhos, ensiná-los a questionar o que veem online e garantir que tenham modelos positivos e atividades saudáveis fora da internet.

Embora as redes sociais possam expor adolescentes a conteúdos potencialmente prejudiciais, podemos contra-atacar oferecendo experiências melhores no mundo real.

Veja também: O que é "incel", termo que aparece na série "Adolescência"

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