CES 2022: cinco lições da gigante feira de tecnologia
Primeira edição presencial desde início da pandemia trouxe produtos inovadores, mas foi marcada pela falta de grandes empresas do setor
A CES, feira anual de eletrônicos de consumo que é acompanhada de perto por entusiastas, pareceu drasticamente diferente este ano.
Claro, algumas coisas ainda eram familiares: as empresas exibiam o último lote de TVs chamativas. A investida de dispositivos excêntricos ficou mais estranha. E não faltaram rastreadores de saúde de alto nível, incluindo uma lâmpada que monitora como você dorme.
Mas a CES deste ano também foi uma grande experiência de como realizar um evento presencial durante uma pandemia. Os testes rápidos de Covid-19 foram entregues aos participantes, e exigidos comprovante de vacinação e máscaras.
Muitas das grandes empresas de tecnologia e meios de comunicação desistiram de participar. Fotos amplamente compartilhadas mostravam áreas de showroom quase vazias. E uma série de apresentações, incluindo o evento inicial da CES com a CEO da General Motors, Mary Barra, foram pré-gravadas.
“Foi surreal”, disse Martin DeBono, presidente da GAF Energy, que decidiu continuar participando pessoalmente para mostrar a nova telha solar de sua empresa. “Este foi provavelmente o meu décimo primeiro ano indo à CES e a falta da multidão de pessoas foi bizarra.”
Mesmo assim, muito foi falado sobre os produtos expostos este ano. Aqui estão cinco lições da gigante feira de tecnologia:
Todos querem um pedaço do metaverso
Já se passaram anos desde que a CES apresentou a “próxima grande coisa” sobre a qual todos estariam falando, mas este ano as discussões foram amplamente focadas no metaverso, que se refere aos esforços para combinar tecnologias de realidade virtual e aumentada em um novo reino online.
A Meta, empresa-mãe do Facebook e seu sistema de jogos Oculus, é de longe a líder de mercado no momento, uma vez que ela passa por uma onda de contratações para desenvolver o conceito, enquanto muitas outras empresas ainda estão tentando entrar na ação.
O novo fone de ouvido PlayStation VR 2 e seu controle VR2 Sense, bem como o controle de pulso Vive da HTC para o fone de ouvido Vive Focus 3, foram apresentados na CES.
O controle VR2 Sense, por exemplo, apresenta rastreamento ocular e retorno de áudio no fone de ouvido, que amplifica as sensações das ações do jogador durante o jogo.
Em um comunicado à imprensa, a empresa disse que os jogadores podem sentir os “batimentos acelerados de um personagem durante os momentos de tensão, o movimento de objetos passando perto da cabeça do personagem ou o impulso de um veículo conforme o personagem acelera”.
“Esta é a primeira vez em muito tempo que vemos um novo e forte tópico emergir na CES, já que durante anos sempre foi sobre IA, internet das coisas ou veículos autônomos”, disse Pedro Pacheco, diretor sênior de pesquisas na empresa Gartner, que faz pesquisas de mercado.
“No momento, muitas empresas estão incluindo o metaverso em seu roteiro de tecnologia de longo prazo, pensando em como deveriam trazê-lo à vida”.
Carros tomam o centro do palco
A tecnologia automotiva sempre é uma grande parte da CES, mas, neste ano, um anúncio após o outro parecia chegar às manchetes: a BMW lançou um carro que muda de cor, a John Deere apresentou um trator autônomo e empresas se comprometeram a tornar os veículos elétricos mais acessíveis.
O carro-conceito elétrico iX da BMW apresentava painéis eletrônicos semelhantes aos que você encontraria em um leitor digital como o Kindle, revestidos para proteção contra o clima.
Em uma demonstração, a BMW mostrou como um proprietário poderia mudar a cor do carro de preto para branco em questão de segundos. (A BMW não anunciou planos de trazer esse tipo de tecnologia para um veículo de linha de produção).
As montadoras também lançaram vários novos veículos elétricos com preços mais competitivos, incluindo o Silverado EV, a partir de US$ 39.900 (cerca de R$ 225 mil), e o 2024 Chevy Equinox, a partir de US$ 30 mil (o equivalente a R$ 170 mil).
Enquanto isso, a tendência de empresas de tecnologia entrando no mundo da fabricação de veículos continuou: a Sony anunciou planos para sua própria marca de automóveis, seguindo os passos de outras empresas de tecnologia como Xiaomi e Foxconn.
Se os rumores forem verdadeiros, a Apple também pode se juntar ao clube.
Tecnologia distópica
Enquanto algumas das inovações apresentavam uma visão otimista para o futuro, outras tornaram o futuro (e até mesmo nossa realidade atual pandêmica) um pouco mais sombrio.
É o caso do “Vision Omnipod”, um conceito que a LG anunciou esta semana. O veículo autônomo – que ainda não é um produto comercial real – possui uma geladeira, uma cadeira que reclina e vira uma cama, uma tela que os passageiros podem usar para assistir a filmes ou acessar jogos e outros espaços virtuais, além de um assistente de inteligência artificial que pode manter as pessoas entretidas, ajudá-las a malhar ou pedir comida.
Gostou de ficar sozinho em casa durante a pandemia? Então, talvez você goste de se esconder nesta cabine de alta tecnologia para sempre.
Outras empresas introduziram produtos mais realistas, mas ainda inquietantes, incluindo uma estação de carregamento que pretende ser capaz de impedir que seu telefone ou dispositivo inteligente ouça conversas confidenciais. (Embora, há tempos, os usuários tenham medo que aparelhos tecnológicos possam ouvir conversas, isso é basicamente infundado, entretanto a própria preocupação aponta para nossa relação às vezes tensa com a tecnologia).
Como se isso não bastasse, havia também um bicho de pelúcia, chamado Amagami Ham Ham, que mordiscava seu dedo para aliviar o estresse, porque aparentemente é assim que estamos depois do caos dos últimos dois anos.
O futuro dos eletrônicos dobráveis
As empresas têm experimentado a tecnologia dobrável nos últimos anos, mas muitas como a Samsung exibiram versões aprimoradas na CES 2022, que destacam como o nicho de mercado está evoluindo.
Os conceitos Flex S e Flex G de três dobras da Samsung permitem que os usuários dobrem um tablet em três partes, parecendo quase um “s”, sugerindo como suas linhas de smartphones dobráveis, Flip e Fold, poderiam evoluir no futuro.
Enquanto isso, o novo Zenbook 17 da Asus, um laptop dobrável de 17 polegadas com uma tela OLED, pode ser usado como um tablet ou dobrado ao meio como um laptop, com uma tela de 12,5 polegadas na parte superior e um teclado exibido na tela abaixo.
Outras empresas como a Dell adotaram produtos que atendem à tendência de trabalho híbrido.
O Concept Flow, da Dell, conecta e desconecta laptops de uma segunda tela com base na proximidade, e o protótipo de webcam móvel Pari, também da Dell, se conecta a qualquer lugar, seja na lateral da tela do computador ou acima de um bloco de notas, se você quiser que os colegas vejam as anotações em tempo real durante uma reunião.
Pequenas empresas saem da sombra das Big Techs
Em anos normais, grande parte da atenção durante a CES é dirigida aos maiores nomes da tecnologia, e havia preocupações de que o evento deste ano iria cair por terra depois que grandes expositores como a Meta e a Amazon desistiram dias antes de começar.
Mas, para as empresas que decidiram manter o curso e comparecer pessoalmente, alguns disseram que os espaços vazios do showroom eram, na verdade, uma bênção.
“Normalmente, quando você vem para uma CES, ela é dominada pelas maiores empresas de tecnologia”, tornando mais difícil chamar a atenção da mídia, disse Richard Browning, diretor de marketing e vendas da Nextbase, que lançou na CES deste ano uma nova câmera smart chamada Nextbase IQ.
O novo produto da empresa recebeu mais cobertura da imprensa do que o esperado neste ano, em parte “porque muitas das grandes marcas não estiveram aqui pessoalmente”, disse ele.
Embora os gigantes da tecnologia tenham muitas outras maneiras de alcançar o público, a CES é um local internacional crucial para que participantes menores alcancem consumidores e parceiros da indústria.
Os que atenderam presencialmente disseram que, apesar da menor participação geral, aqueles que foram, estavam mais abertos para descobrir novas tecnologias e se envolver mais profundamente.
E algumas empresas disseram que os elementos virtuais da feira eram menos atraentes depois de quase dois anos exibindo regularmente sua tecnologia em reuniões via Zoom e outros fóruns virtuais.
Na verdade, depois deste ano, alguns como DeBono, da GAF Energy, veem potencial para um novo (embora improvável) futuro para conferências CES, onde as “hordas de pessoas” que só querem ver as mais novas TVs e outros dispositivos comuns ficam em casa, e apenas aqueles quem realmente quer ver as inovações tecnológicas fazem a viagem para estar lá pessoalmente.
“A CES persistirá e acho que a proporção da inovação verdadeira aumentará em relação ao que é apenas iteração”, disse ele.