Em meio ao avanço da IA, um novo "Ludismo" ganha força
Movimento que rejeita smartphones e redes sociais cresce entre jovens que buscam alternativas para reduzir dependência tecnológica

Em uma cafeteria local há algumas semanas, ouvi uma jovem na casa dos 20 anos perguntando para outra: "Posso perguntar que tipo de celular você tem?"
A outra respondeu: "Ah sim, é um Jelly Star..." Comecei a pesquisar no Google enquanto elas conversavam.
A conversa foi breve, mas elas falavam sobre o telefone como quem elogia as botas de uma desconhecida: "Que legal, é confortável, onde você comprou, quero um também."
O Jelly Star é um smartphone do tamanho de um cartão de crédito que roda Android. Ele faz todas as coisas consideradas essenciais na vida moderna: e-mails, chamadas, mensagens, GPS. Mas a tela de 3 polegadas é tão pequena — cerca de metade do tamanho de um smartphone comum — que não faz sentido tentar olhar para ela por mais que alguns segundos, segundo fãs no Reddit.
"É pequeno demais para viciar, e usá-lo até me dá dor de cabeça — perfeito para reforço negativo", comentou um usuário no r/dumbphones, um subreddit que incentiva membros a "participar da revolução e aproveitar a vida simples".
Essa revolução — mais um "não, obrigado" coletivo do que uma campanha organizada em massa — não se limita apenas a telefones com dimensões reduzidas.
Existe um genuíno renascimento do Ludismo impulsionado pela geração Z, com pessoas rejeitando as plataformas tecnológicas que disputaram nossa atenção (e dinheiro) nas últimas duas décadas — um movimento que parece ganhar força à medida que essas plataformas, como Instagram e TikTok, são inundadas com conteúdo gerado por IA cada vez mais sofisticado.
Os ludistas originais eram trabalhadores têxteis da Inglaterra rural do século XIX que se rebelaram contra a ascensão das máquinas automatizadas que os ameaçavam com desemprego e fome. E embora o termo hoje seja frequentemente usado como uma espécie de insulto para alguém que não entende de tecnologia, os ludistas modernos estão redefinindo seu significado.
Assim como os insurgentes da era da Revolução Industrial, os novos ludistas não são contra a tecnologia, mas contra a exploração, explica o jornalista de tecnologia Brian Merchant. Longe de serem excêntricos desinformados, muitas das pessoas que abraçam o Ludismo cresceram com smartphones e conhecem muito bem o quanto a tecnologia pode ser tentadora (e avassaladora).
No mês passado, dezenas de pessoas se reuniram em Nova York para um comício do "Renascimento Ludista". O Clube Ludista, uma organização sem fins lucrativos fundada por um grupo de "ex-viciados em telas" no Brooklyn, expandiu-se para mais de 20 filiais em escolas de ensino médio e universidades nos Estados Unidos.
As vendas de celulares básicos – os "dumbphones" – estão disparando, como observou meu colega Tom Page na semana passada, citando pesquisas que relacionam o tempo de tela com problemas de sono e saúde mental, especialmente entre crianças. Esta semana, um artigo do Wall Street Journal declarou que "Jovens Estão se Apaixonando por Tecnologias Antigas", destacando o interesse da Geração Z por celulares flip e câmeras compactas. Discos de vinil, CDs e até fitas cassete voltaram à moda.
O comediante Caleb Hearon, de 30 anos, frequentemente brinca sobre o quanto odeia seu celular: "Eu desligo, coloco numa gaveta e saio de casa. Faço isso várias vezes por semana", disse ele recentemente em uma entrevista em podcast.
Foi um processo gradual, disse Merchant, mas "muitas pessoas estão chegando ao seu limite agora".
"Acho que, no final, isso se resume a uma frustração com o desenvolvimento e implantação profundamente não democráticos da tecnologia visando o lucro", disse Merchant, autor do livro e do Substack "Blood in the Machine". "Eles não são contra a ideia de ter uma tela no bolso... a queixa deles é – e é justificável – que ela está repleta de aplicativos viciantes e tóxicos desenvolvidos por empresas do Vale do Silício para servir a um conjunto limitado de interesses".
Atualmente, somos todos trabalhadores na fábrica da internet: fornecemos as imagens, escrevemos o conteúdo, interagimos com os anúncios, promovemos os produtos. Esse trabalho sustenta uma economia tecnológica desigual na qual um punhado de empresas, incluindo Meta, Google e Amazon, acumulam lucros e enriquecem seus acionistas. Em troca, os consumidores recebem um produto projetado para nos manter rolando a tela.
Não que essas redes não ofereçam valor algum – é legal ver as fotos dos amigos em suas viagens à Itália, cruzando a linha de chegada de sua primeira maratona ou se casando. Mas o conteúdo gerado por pessoas reais é uma parcela cada vez menor do universo das redes sociais.
Durante o verão, Kyle Chayka, do The New Yorker, argumentou que podemos estar "nos dirigindo a algo como o Posting Zero, um ponto em que pessoas comuns — as massas não profissionalizadas, não comercializadas e não refinadas — param de compartilhar conteúdo nas redes sociais conforme se cansam do ruído, do atrito e da exposição."
Sem todos nós, pessoas comuns, postando atualizações triviais sobre nossos cafés da manhã e exercícios, "só restarão marketing corporativo sem graça, conteúdo gerado por IA de baixa qualidade e material produzido por influenciadores sedentos por atenção tentando monetizar uma audiência cada vez menor de voyeurs", escreveu Chayka.
Os executivos das redes sociais não estão fugindo desse futuro.
No início deste ano, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, apresentou sua visão de um futuro em que "amigos" com IA superarão nossos companheiros humanos. "Você estará rolando seu feed, e haverá conteúdo que talvez pareça inicialmente um Reels, mas você poderá conversar com ele, ou interagir com ele, e ele responderá, ou mudará o que está fazendo. ...Tudo isso será IA."
E isso pode até funcionar, se "funcionar" significar manter usuários suficientes viciados na plataforma. Mas também é possível que imagens e chatbots gerados por IA tornem ainda mais tênue a linha entre realidade e desinformação, alimentando o que já se tornou uma reação contra a invasividade da tecnologia.
"Se a desinformação gerada por IA estiver simplesmente em todo lugar", disse Merchant, "isso tornará muito mais fácil dizer "que se dane" e abandonar tudo de uma vez."



