Entenda como identificar e denunciar os robôs nas redes sociais
Especialistas listam as principais características dos 'bots' que tentam se passar por humanos na internet
A remoção de robôs nas plataformas digitais é uma prática cada vez mais constante pelas empresas. Além do Twitter, recentemente o Youtube decidiu eliminar os robôs da plataforma. Entretanto, a “limpa digital” também pode ser realizada por usuários em suas próprias redes sociais, observando padrões e detectando os comportamentos considerados distintos do engajamento comum na internet.
Antes de mais nada, é preciso entender o que são os robôs e como eles agem. Pesquisador da área de Democracia e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS), Diego Cerqueira explica que os robôs são um pedaço de tecnologia.
“O robô é criado por um humano através de uma linguagem de programação, em uma língua que o computador consegue entender. É uma forma de os humanos construírem um diálogo com a máquina, e fazer com que a máquina execute algumas ações. O uso de automação para realizar tarefas; o que o robô estaria executando como tarefa no lugar de um humano? No contexto das redes sociais, eles podem construir e espalhar narrativas, criar bolhas de conteúdo e disseminar desinformação. É esse o perfil que as plataformas estão procurando remover”, disse Cerqueira.
Quais comportamentos observar para identificar um robô?
Para tentar identificar os robôs nas redes sociais, é preciso observar os comportamentos “fora da curva”, dizem os especialistas. De forma simplificada, é tentar entender quais são os padrões dos usuários humanos, nas redes sociais, e identificar como um robô faria as mesmas atividades, de forma muito mais ágil, e com comportamentos suspeitos, é claro.
Um grande desafio é tentar separar os robôs assumidos dos não assumidos. O pesquisador do (ITS) Diego Cerqueira explica que a presença de robôs é permitida pelas plataformas, desde que eles sejam os “robôs do bem”, como são conhecidos no universo tecnológico.
“Primeiro classificar esses robôs em assumidos e não assumidos, por exemplo, existem robôs que estão dentro do Twitter, que não são removidos, porque eles fazem parte dos robôs que se identificam como robôs. Eles têm uma função de avisar ou espalhar mensagens que é permitida pela plataforma, eles estão cumprindo uma função da tecnologia e não estão infringindo as regras”, diz.
Dentre as características principais para identificar robôs, o especialista destaca: “analisar características de ampliação do conteúdo, a performance do conteúdo e também o sucesso do conteúdo. Vamos ver o tempo de interação, se posta muito, qual o intervalo de conteúdo produzido, a quantidade de postagens, quantas palavras por segundo, se o intervalo é muito pequeno entre uma postagem e outra e se o conteúdo é repetitivo”, afirma Cerqueira.
Uma forma ainda mais simples de detectar os robôs é observar se o nome do perfil é muito aleatório, se o usuário combina uma quantidade muito grande de dígitos, se o nome do perfil é muito diferente do nome do usuário.
“Pode também observar a foto, fazer uma pesquisa reversa na internet, para ver se essa foto já foi utilizada em outros perfis, se é de um banco de imagens. Falta de foto também chama atenção”, diz o pesquisador do ITS.
Ele ainda acrescenta outra característica importante: poucos seguidores e muita interação com outros usuários.
“Perfil com 50 amigos, tendo alcance e sucesso muito grande, isso é uma probabilidade, porque mostra que é incompatível. É inconsistente o alcance muito grande, mostra que pode ser controlado por automação, ou que o conteúdo viralizou, ou que esse perfil está sendo controlado por um robô”.
Identifiquei um robô, como denunciar?
Felipe Volpato, CEO da Globalbot, explica que, após observar as características, a forma mais prática de prosseguir com a denúncia seria clicando na conta, direcionando-se para o ícone “denúncia”, descrever na rede social o ocorrido e finalizar em “denunciar”.
Muitos usuários, entretanto, se queixam da demora para obter uma resposta ou na falta de ação por parte das plataformas.
“Depende de cada rede, pois é feita uma análise da denúncia, verificação dos perfis e da veracidade da informação. Geralmente, são de 3 a 10 dias. Caso a resposta seja negativa, ainda é possível insistir na denúncia. O melhor jeito é realizar uma denúncia em massa, com grupos denunciando juntos uma mesma conta”, afirma Volpato.
“Se você acha que o comportamento é disruptivo, denuncia, as plataformas têm seus mecanismos. Vai existir uma análise por uma máquina, ou normalmente existe uma análise humana. Não caia na armadilha, se você interage, compartilha e comenta, você está gerando engajamento, o algorítimo vai puxar essa informação e vai acabar chegando em mais pessoas. Também é muito importante não ter interação com esses perfis”, explica Diego Cerqueira.
“É possível bloqueá-los, ou mesmo bloquear a palavra-chave que é usada por eles no momento dos ataques – geralmente, os “bots do mal” são programados para responder a determinados termos e buscas. Outra ação essencial para a proteção é jamais clicar em links desconhecidos, enviados por perfis suspeitos. Além disso, a denúncia também é uma boa forma de proteção”, reitera Felipe Volpato.
Algumas ferramentas gratuitas são aliadas dos internautas para a identificação de robôs, como a Pegabot e a norte-americana Bot Sentinel, conforme explica o pesquisador Diego Cerqueira.
“Algumas ferramentas nos auxiliam nesse processo, como a pegabot.com.br, que opera no Twitter e faz análise dos perfis, para encontrar o nível de automação desses perfis. É uma ferramenta de educação midiática, para levar o debate sobre a desinformação dentro das redes sociais. Você coloca o nome do perfil e ela manda umas características. Também tem o Bot sentinel, que faz a detecção de perfis que infringe algum tipo de regra da comunidade do Twitter”, afirma.
Como proteger a minha máquina?
Como destacado pelos especialistas, é importante não haver interação com os robôs, pois, além de gerar engajamentos para perfis que disseminam informações incoerentes, estes perfis podem ser disruptivos também para os computadores.
O CEO da Globalbot Felipe Volpato recomenda a instalação de programas para proteger as máquinas e manter o sistema atualizado.
“É importante instalar firewalls para bloquear ataques maliciosos, e jamais desativá-los; usar senhas longas e complicadas, que misturem números, letras e símbolos; jamais usar a mesma senha para diversos programas e contas; utilizar softwares antimalware de alta qualidade para a proteção do dispositivo; e checar se o software está atualizado, sem jamais ignorar as atualizações do sistema. Caso o computador seja infectado, é importante evitar o uso de pen drives e unidades flash neles”, afirma.