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    Fóssil de crânio encontrado no Brasil revela evolução do cérebro de pássaros

    Descoberta da Navaornis preenche uma lacuna de 70 milhões de anos na compreensão da evolução da neuroanatomia aviária

    Will Dunhamda Reuters

    O cérebro das aves modernas tem condições de atingir um nível de cognição e de complexidade comportamental comparável apenas ao dos mamíferos. A maneira, contudo, como o cérebro das aves evoluiu ao longo de milhões de anos, a partir de uma forma ancestral de dinossauro, intrigava há muito tempo os cientistas. Isso agora mudou, graças a uma espetacular descoberta fóssil no Brasil.

    Pesquisadores descobriram o crânio de uma espécie de ave anteriormente desconhecida do tamanho de um pardal, chamada de Navaornis hestiae, tão bem preservado que foi possível reconstruir digitalmente seu cérebro e ouvido interno com base no formato da caixa craniana. Ela habitava um ambiente árido há cerca de 80 milhões de anos, durante o Período Cretáceo, a última fase da era dos dinossauros.

    “Esta descoberta é única”, disse o paleontólogo Guillermo Navalón, da Universidade de Cambridge, coautor do estudo publicado na quarta-feira (13) na revista Nature.

    As aves evoluíram a partir de pequenos dinossauros com penas durante o Período Jurássico. A descoberta da Navaornis preenche uma lacuna de 70 milhões de anos na compreensão da evolução da neuroanatomia aviária, remontando à ave mais antiga conhecida, o Archaeopteryx, que viveu na Europa há cerca de 150 milhões de anos.

    Como é o crânio da nova espécie?

    Com uma geometria moderna em termos de formato do bico e grandes órbitas oculares, o crânio da Navaornis lembra superficialmente o de um pombo pequeno. Seu cérebro exibia um mosaico de características modernas e arcaicas, além de algumas intermediárias.

    “É uma evidência há muito esperada, pois crânios 3D bem preservados de aves primitivas — aquelas que sobrevoaram as cabeças dos dinossauros — são extremamente raros e este é o melhor preservado de todos”, afirmou o paleontólogo Luis Chiappe, do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles e coautor do estudo.

    “Os cientistas tinham dificuldade para entender como e quando evoluíram os cérebros únicos e a notável inteligência das aves. Toda uma área de estudos aguardava a descoberta de um fóssil exatamente como este”, disse Daniel Field, paleontólogo da Universidade de Cambridge e autor sênior do estudo.

    O cérebro da Navaornis — com cerca de 10 mm de largura — era menor, em relação ao tamanho do crânio de aves modernas, mas maior e mais complexo do que no Archaeopteryx.

    Seu cerebelo, estrutura do cérebro que nas aves vivas ajuda a coordenar o controle motor durante o voo, era menor do que nas espécies aviárias atuais e mais semelhante ao do Archaeopteryx.

    Mas o cérebro estava conectado à medula espinhal de forma similar à das aves modernas — e, inclusive, dos humanos — ao contrário do Archaeopteryx e dos dinossauros dos quais as aves evoluíram.

    A espécie apresentava características intermediárias entre o Archaeopteryx e as aves modernas. O tamanho e formato intermediários de seu telencéfalo, uma estrutura que nas aves atuais contém áreas envolvidas na cognição complexa, sugerem que ela era mais avançado cognitivamente do que as aves mais primitivas, mas menos do que as aves modernas.

    A Navaornis exibe algumas características únicas, como um aparelho vestibular, órgão do equilíbrio no ouvido interno, maior do que o de qualquer outra ave conhecida.

    Seu nome significa “pássaro de Nava”, em homenagem a William Nava, cientista que descobriu o fóssil em 2016 no estado de São Paulo, no sudeste do Brasil.

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