Entenda o que há de especial no algoritmo do Tiktok, alvo de disputas

Operações americanas passaram para investidores, mas a posse da IA que impulsiona o app segue sob debate

Eduardo Baptista, da Reuters
Bandeiras dos EUA e da China ao lado do logo do TikTok em foto de ilustração
Bandeiras dos EUA e da China ao lado do logo do TikTok em foto de ilustração  • 16/07/2020 REUTERS/Florence Lo
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O algoritmo de recomendação de conteúdo do TikTok voltou a ser o centro das atenções depois que a chinesa ByteDance, controladora do aplicativo, assinou acordos vinculantes ⁠para a formação de uma joint venture que entregará o controle das operações ‍do app nos EUA a investidores norte-americanos e globais, incluindo a empresa de bancos de dados Oracle.

Embora a criação dessa nova entidade represente um grande passo para evitar uma proibição do app nos EUA, além de aliviar as tensões entre Washington e Pequim, ainda há incertezas quanto à propriedade do algoritmo de recomendação, considerado a joia da coroa do TikTok.

Rush Doshi, que trabalhou no Conselho de Segurança Nacional dos EUA sob o comando do presidente Joe Biden, disse no X, antigo Twitter, que não está claro se o algoritmo foi transferido, licenciado ou ainda pertence e é controlado por Pequim, com a Oracle apenas fornecendo "monitoramento".

O código de controle ​é considerado essencial para o sucesso global do TikTok e, ⁠até alguns meses atrás, a posição da ByteDance era de que preferia encerrar o aplicativo nos EUA a vendê-lo.

Porém, em setembro, a ‌Reuters informou, citando fontes, que a ByteDance manteria a propriedade das operações comerciais do TikTok nos EUA, mas cederia o controle dos dados, do conteúdo e do algoritmo do aplicativo para a joint venture.

A joint venture ⁠serve como operação de suporte para a empresa norte-americana e lida com os dados dos usuários dos EUA e com ‌o ‍algoritmo, disseram as fontes na época, acrescentando que uma divisão separada que continuará a ser de propriedade integral da ByteDance controlará as operações comerciais geradoras de ‍receita, como comércio eletrônico e publicidade.

Esses acordos formaram o contorno do acordo anunciado na última quinta-feira (18), disseram duas fontes com conhecimento do assunto à Reuters na última sexta-feira (19).

A entidade norte-americana TikTok, controlada pela ByteDance, seria a geradora de receita, enquanto a nova joint venture receberá uma parte da receita por seus serviços de tecnologia e dados, disseram ⁠as fontes.

O governo chinês ainda não declarou sua posição sobre o acordo assinado.

Pequim fez alterações em suas leis de exportação em 2020 que lhe conferem direitos de aprovação sobre qualquer exportação de algoritmos e códigos-fonte, adicionando uma camada de complexidade a qualquer esforço para vender ou separar o aplicativo dos EUA.

O que torna o algoritmo poderoso?

O TikTok mostrou ‌que um algoritmo, impulsionado pela compreensão do interesse de um usuário, pode ser poderoso. ​Em vez de criar seu algoritmo com base no "gráfico social", como o Meta, os executivos do TikTok disseram que seu algoritmo se baseia em "sinais de interesse".

O formato de vídeo curto permite ⁠que o algoritmo da rede social se torne muito mais dinâmico e até mesmo capaz de rastrear as mudanças nas preferências e nos interesses dos usuários ao longo do tempo, chegando a ser tão granular quanto o que um usuário pode gostar durante um determinado período do dia.

E o posicionamento do TikTok como um aplicativo criado para dispositivos móveis desde o início também lhe deu uma vantagem sobre as plataformas rivais que tiveram que adaptar suas interfaces a partir de telas de computador.

O fato de o TikTok ter entrado cedo no mercado de vídeos curtos também deu à empresa uma grande vantagem de pioneirismo. O Instagram não lançou o Reels até 2020, enquanto o YouTube lançou o Shorts em 2021, e ambos estão atrasados em relação ⁠à rede social chinesa em anos de experiência em dados e desenvolvimento de produtos.

O que a pesquisa revela sobre o algoritmo?

O TikTok também recomenda regularmente conteúdo que não se enquadra nos interesses dos usuários, o que a gerência da empresa tem dito repetidamente que é essencial para a experiência do usuário do TikTok.

Um estudo, publicado por ⁠pesquisadores dos EUA e da Alemanha no ano passado, descobriu que o algoritmo do TikTok "explora os interesses do usuário em 30% a 50% dos vídeos de recomendação", depois de examinar dados de 347 usuários do TikTok e cinco bots automatizados.

"Essa descoberta indica que o algoritmo da rede social chinesa opta por recomendar um grande número de vídeos de exploração em uma tentativa de inferir melhor os interesses do usuário ou maximizar a retenção de quem está assistindo, recomendando muitos vídeos que estão fora dos interesses (conhecidos) dele", escreveram os pesquisadores no artigo intitulado "TikTok and the Art of ​Personalization" ("TikTok e a arte da personalização", em português).