Planeta próximo à Terra está encolhendo, revela novo estudo

Pesquisa estima com mais precisão a retração de Mercúrio ao longo de bilhões de anos

Giu Aya, da CNN
Mercúrio
Mercúrio  • Nasa/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington
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Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol e o menor do Sistema Solar, está encolhendo. Esse processo é conhecido pelos cientistas há décadas, mas um novo estudo trouxe estimativas mais precisas sobre o quanto o planeta já diminuiu desde sua formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos.

A retração acontece devido ao resfriamento do interior de Mercúrio. À medida que o núcleo e o manto do planeta perdem calor, suas rochas e metais sofrem contração de volume.

Esse encolhimento gera falhas geológicas na crosta, chamadas de "falhas de empurrão", formando enormes escarpas que atravessam a superfície do planeta, algumas com quilômetros de altura e centenas de quilômetros de extensão.

Pesquisadores da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, Stephan Loveless e Christian Klimczak, publicaram um estudo na revista científica AGU Advances no qual propõem uma nova abordagem para medir o quanto Mercúrio encolheu.

Em vez de analisar cada falha individualmente (como era feito em estudos anteriores), os cientistas usaram a maior falha conhecida como referência e escalaram esse dado para toda a população de falhas mapeadas, que já passam de 6 mil.

Com isso, conseguiram restringir a estimativa da redução no raio de Mercúrio para uma faixa entre 2,7 e 5,6 quilômetros.

Essa é uma estimativa mais precisa do que os valores anteriores, que variavam de 1 a 7 km. Segundo o estudo, essa retração ocorreu gradualmente, ao longo da vida inteira do planeta.

O geólogo britânico David Rothery comparou esse encolhimento ao que acontece com uma maçã quando envelhece: enquanto a fruta enruga porque perde água, Mercúrio enruga porque perde calor interno. O resultado disso são deformações visíveis em sua superfície, como se o planeta estivesse "amassando" por dentro.

Uma analogia ainda mais simples: é como observar rachaduras se formando em um pão de queijo enquanto ele assa, à medida que o interior muda de volume.

As primeiras evidências do encolhimento de Mercúrio vieram da missão Mariner 10, da NASA, em 1974, que revelou as primeiras escarpas gigantes no planeta. Décadas depois, a missão MESSENGER (MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry and Ranging), também da NASA, orbitou Mercúrio entre 2011 e 2015 e confirmou que essas estruturas estavam distribuídas por toda a superfície do planeta.

A MESSENGER forneceu dados detalhados sobre a crosta, o núcleo, a atmosfera e até as regiões polares de Mercúrio. Essa missão revolucionou a compreensão do planeta e segue sendo base para muitos estudos, inclusive o mais recente.

Inclusive, algo semelhante já foi observado na Lua: ela também está se contraindo, embora em menor escala, e os "terremotos lunares" registrados por sismômetros das missões Apollo indicam que esse processo ainda está ativo.