SpaceX de fora? Nasa busca novas alternativas para pousar na Lua

Empresas espaciais começam a desenvolver propostas para missão lunar após administrador interino da Nasa sugerir que empresa de Elon Musk pode ser excluída dos planos da agência

Jackie Wattles, da CNN
Lua cheia pode ser vista atrás da plataforma de lançamento da Artemis 1, no Centro Espacial Kennedy da Nasa, na Flórida, em 14 de junho de 2022  • Nasa
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Uma sugestão feita na semana passada pelo administrador interino da Nasa, Sean Duffy, de que a SpaceX poderia ser excluída dos próximos planos de pouso lunar da agência, abalou a indústria espacial.

Agora, nos bastidores, propostas de caminhos alternativos para a superfície lunar começam a tomar forma discretamente.

Atualmente, a SpaceX possui um contrato de US$ 2,9 bilhões para preparar seu gigantesco sistema de foguetes Starship para transportar astronautas à superfície lunar como parte da missão Artemis III da Nasa. No entanto, citando atrasos no desenvolvimento da Starship e a pressão competitiva da China, a Nasa solicitou à SpaceX e à Blue Origin — que mantém um contrato separado de módulo lunar com a agência espacial — que apresentassem planos para acelerar o desenvolvimento de suas respectivas naves até 29 de outubro. Ambas as empresas responderam.

Mas a agência espacial também está pedindo à indústria espacial comercial em geral que detalhe como poderiam realizar a tarefa mais rapidamente, sugerindo que a liderança da Nasa está preparada para deixar de lado seus parceiros atuais.

A CNN conversou com meia dúzia de empresas sobre como planejam responder ao chamado da Nasa, que a agência emitirá formalmente assim que a paralisação do governo terminar, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.

Embora algumas das propostas potenciais pareçam mais diretas do que o atual plano de pouso lunar que utiliza a Starship, cada uma envolve a construção e teste de novos projetos de naves espaciais, um processo que normalmente leva pelo menos seis ou sete anos, observou Casey Drier, chefe de política espacial do grupo sem fins lucrativos Planetary Society.

Isso pode representar um problema para o cronograma da Nasa. A China pretende pousar seus astronautas na superfície lunar até 2030, e Duffy tem indicado repetidamente que vê a competição com a China como um imperativo de segurança nacional.

A Artemis III está atualmente programada para acontecer já em meados de 2027, e a Nasa sinalizou que o ritmo atual de desenvolvimento da Starship está ameaçando adiar essa meta em meses ou anos.

"Existe uma certa parte da Lua que todos sabem que é a melhor", disse Duffy, referindo-se à região do polo sul lunar, ainda largamente inexplorada — o local de pouso previsto para os astronautas da Artemis III.

"Temos gelo lá. Temos luz solar lá. Queremos chegar lá primeiro e reivindicar isso para a América", disse ele em agosto.

Especialistas que conversaram com a CNN para esta matéria disseram que reavaliar o contrato do módulo lunar da SpaceX poderia ser prudente.

Alguns argumentam que desenvolver uma nova espaçonave do zero, mesmo levando anos, ainda poderia ser mais rápido do que esperar pela Starship, que apresenta desafios de engenharia extremamente difíceis devido ao seu tamanho sem precedentes e design inovador.

Ainda assim, a SpaceX já cumpriu alguns requisitos que podem lhe dar uma vantagem significativa sobre a concorrência. No entanto, considerando as ambições lunares mais amplas da Nasa, especialistas afirmam que a verdadeira disputa vai muito além da velocidade.

Mais potência, mais problemas

Anunciada como o sistema de foguetes mais poderoso já construído, a Starship realizou 11 voos de teste suborbitais impressionantes, reacendendo motores no espaço, reutilizando propulsores e demonstrando a capacidade de implantar satélites durante o trajeto.

Em um comunicado publicado em seu site na quinta-feira, a SpaceX afirmou ter "concluído 49 marcos relacionados ao desenvolvimento dos subsistemas, infraestrutura e operações necessárias para pousar astronautas na Lua". E a "grande maioria" de seus marcos contratuais de teste para a Nasa foram cumpridos dentro do cronograma, segundo a empresa.

A Nasa não respondeu imediatamente ao pedido de comentário sobre as afirmações da SpaceX.

A Starship também enfrentou contratempos significativos — particularmente neste ano. Nos primeiros seis meses de 2025, três veículos protótipos explodiram durante voos de teste e outro pegou fogo durante testes rotineiros em solo, causando danos à infraestrutura da SpaceX no Texas. Os problemas levaram especialistas em segurança nacional a expressar preocupações de que a SpaceX não entregará a Starship a tempo de realizar os objetivos da Nasa.

Segundo o plano atual, a Nasa lançaria seus astronautas na cápsula Orion no topo do foguete Space Launch System, ambos desenvolvidos pela agência espacial. Após atingir a órbita lunar, os astronautas se transfeririam para a Starship, que levaria duas pessoas até a superfície da Lua e depois as traria de volta à órbita lunar.

Mas a Starship provavelmente ainda está longe de ser capaz de realizar tal empreendimento. Até agora, a empresa só tentou realizar voos de teste suborbitais de uma hora com a Starship. Ainda não enviou um veículo para órbita em uma missão operacional, nem tentou reabastecer a Starship durante um voo — uma etapa que será necessária para missões lunares devido ao tamanho massivo e ao design da nave.

Ainda não está claro quantos voos de reabastecimento seriam necessários antes que a Starship possa realizar a missão Artemis III.

Conforme reportagem anterior da CNN, o número poderia variar entre 10 e 40. Além disso, a transferência de propelentes criogênicos, do tipo utilizado pelo Starship, nunca foi tentada antes com qualquer nave espacial.

"A SpaceX não conseguirá fazer isso funcionar antes de 2030", afirmou Doug Loverro, ex-chefe de voos espaciais tripulados da Nasa, expressando uma opinião recentemente compartilhada por dois ex-administradores da agência espacial.

A empresa não forneceu detalhes sobre seu plano para acelerar o trabalho no contrato com a Nasa. A SpaceX não respondeu ao pedido de comentário da CNN, como é típico da empresa não responder a questionamentos de jornalistas.

Adaptando o Blue Moon

Uma opção alternativa mencionada por Duffy durante uma série de entrevistas na semana passada é utilizar uma nave espacial construída pela Blue Origin. A empresa financiada por Jeff Bezos já possui um contrato para fornecer módulos lunares para uso posterior no programa Artemis, incluindo a missão Artemis V.

E como a Blue Origin já possui um contrato com o Artemis, poderia ser mais simples para a Nasa reorganizar a ordem em que depende de seus contratados, em vez de trazer uma nova empresa para o projeto.

Atualmente, a Blue Origin está desenvolvendo dois modelos de seus módulos lunares Blue Moon: o Mark 1 para carga, e o Mark 2, veículo projetado para humanos e destinado ao uso durante a Artemis V.

Mas para acelerar a criação de um módulo lunar que poderia ser usado na missão Artemis III, a Blue Origin planeja propor um novo design que aproveita elementos tanto do Mark 1 quanto do Mark 2, segundo uma fonte da indústria familiarizada com o plano ainda não divulgado.

Em seguida, para levar o veículo até a Lua, a Blue Origin faria uso de um ou mais módulos Mark 1 que seriam essencialmente convertidos em pequenos estágios de foguete, capazes de impulsionar uma versão reduzida do Mark 2 para fora da órbita terrestre até seu destino.

A abordagem exigiria múltiplos lançamentos, mas provavelmente menos do que o plano atual com o Starship, observou a fonte.

O plano da Blue Origin não requer o lançamento de tanques de reabastecimento ou a transferência de propelentes super-resfriados entre espaçonaves em órbita.

Um esforço em equipe

A Lockheed Martin — que anteriormente trabalhou no design do módulo de pouso da Blue Origin, mas não faz mais parte ativamente da parceria — também pretende entrar na disputa.

Como contratada histórica da Nasa, a empresa construiu a nave Orion, avaliada em US$ 20,4 bilhões, que transportará astronautas em seu lançamento da Terra. A Orion já realizou uma missão bem-sucedida ao redor da Lua — Artemis I — e está programada para um voo de teste tripulado à órbita lunar já em fevereiro.

Agora, a Lockheed afirma que pode montar um módulo de pouso lunar de dois estágios utilizando peças sobressalentes aproveitadas da Orion.

A empresa utilizaria os motores OMS-E da era do Ônibus Espacial — que também são usados na Orion — para servir como propulsão do "estágio de ascensão" do módulo lunar, fornecendo o impulso necessário para o veículo decolar da Lua após a conclusão da missão.

No entanto, o veículo também precisa de um estágio de descida para chegar à superfície lunar em primeiro lugar.

Para esse componente, a Lockheed planeja trabalhar com outra empresa espacial comercial, embora ainda não tenha decidido qual, segundo Rob Chambers, diretor de estratégia de voos espaciais tripulados da Lockheed, e Tim Cichan, arquiteto-chefe de exploração espacial da empresa, durante uma videochamada na semana passada.

Existem dois caminhos que a Lockheed pode seguir para seu estágio de descida, o que pode determinar com qual empresa fará parceria. Ela pode usar um módulo lunar com combustível criogênico similar ao Mark 1 da Blue Origin, ou optar por um veículo que use propelentes mais estáveis, como combustíveis hipergólicos.

Se a Lockheed decidir usar combustíveis criogênicos, que devem ser mantidos em temperaturas extremamente baixas, precisará lançar seus estágios de ascensão e descida em foguetes separados e acoplá-los em órbita.

Nesse cenário, também pode ser necessário lançar "estágios propulsores" adicionais para impulsioná-los até a Lua, disse Cichan.

No entanto, se a Lockheed optar por um estágio de descida com combustíveis mais estáveis, todo o módulo de pouso poderá ser lançado em uma única peça. No entanto, seria necessário reabastecê-lo com combustível em órbita, explicou Cichan.

Ele ressaltou que o processo de reabastecimento nesse caso não seria, contudo, tão complexo quanto tentar reabastecer espaçonaves movidas a combustível criogênico, como o módulo lunar da Blue Origin ou a Starship da SpaceX, em órbita.

Cichan explicou que a transferência de combustíveis estáveis entre veículos em órbita é uma operação menos arriscada e vem sendo realizada na Estação Espacial Internacional desde 2000. "Os russos e soviéticos já faziam isso desde os anos 70", afirmou Cichan. "Então essa é uma tecnologia muito conhecida."

Quando questionado sobre o que tornaria a proposta da Lockheed competitiva em relação à Blue Origin ou SpaceX, Chamers disse que a abordagem da empresa "é mais rápida porque aproveita hardware existente, minimiza a cadência necessária de lançamentos e não depende de tecnologias como reabastecimento criogênico ou armazenamento de longa duração que nunca foram realizados em órbita."

Outras empresas espaciais comerciais contatadas pela CNN — incluindo Firefly Aerospace e Northrop Grumman — disseram simplesmente que estavam "prontas para apoiar" a Nasa em seu esforço para encontrar uma maneira mais rápida de completar a missão Artemis III.

Elas não confirmaram se responderiam formalmente à solicitação prevista da agência espacial para que as empresas apresentem propostas.

Volta à estaca zero

Especialistas que conversaram com a CNN sugeriram que a Nasa deveria expandir sua imaginação quando se trata da nave espacial que levará astronautas à Lua.

"Ninguém desenvolveu um verdadeiro conceito de design", disse Loverro.

"Tudo isso é possível muito rapidamente", observou ele, acrescentando que acredita que um novo módulo de pouso poderia ir do conceito à realidade em cinco anos.

Loverro sugeriu que a Nasa deveria aproveitar a experiência interna, apoiando-se em seu próprio Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), que, segundo ele, deveria ser capacitado para desenvolver rapidamente um programa de módulo lunar.

Embora o JPL não pudesse fazer o trabalho sozinho, por ser focado em exploração robótica e não ter experiência em voos espaciais tripulados, Loverro destacou que o laboratório construiu uma reputação ao longo de décadas por sua precisão de engenharia e capacidade de realizar missões complexas em prazos rigorosos.

"Você realmente precisa desse tipo de liderança em gerenciamento de programa que o JPL incorpora tão bem", disse Loverro.

Custos proibitivos

Uma consideração enorme em qualquer uma dessas propostas é o preço.

Do ponto de vista da Nasa, a Starship da SpaceX é, de longe, a proposta mais barata porque a empresa está investindo muito de seu próprio dinheiro no projeto. A empresa estima que está financiando 90% da produção, testes e instalações de lançamento da Starship.

Nenhuma das outras empresas com as quais a CNN conversou sobre propostas alternativas para o módulo lunar da Nasa ofereceu estimativas de custos para concretizar suas ideias.

Mas, como em qualquer projeto espacial, é seguro assumir que não serão baratos.

Os fundos da Nasa já são limitados. Embora o Congresso tenha apoiado o programa Artemis — adicionando US$ 10 bilhões para fortalecer os esforços lunares no "One Big Beautiful Bill Act" — não está claro se os legisladores disponibilizariam ainda mais recursos na tentativa de acelerar o projeto.

A agência espacial também não pode facilmente cancelar os contratos existentes com a SpaceX ou Blue Origin.

Drier observou, no entanto, que o apoio ao programa Artemis parece ser uma força unificadora excepcional entre os legisladores. Ele também destacou que a atual administração claramente vê o Artemis como prioridade, permitindo que o trabalho no programa continue apesar da paralisação governamental em curso.

Mas considerando o tempo e dinheiro que os programas espaciais costumam consumir, uma tentativa de elaborar um novo plano de pouso lunar para o Artemis III é uma ideia que "provavelmente está três anos atrasada para fazer diferença", acrescentou Drier.

"Só houve um exemplo de módulo lunar tripulado bem-sucedido na história: O contrato foi concedido em 1962 e foi demonstrado pela primeira vez na Apollo 9 em 1968", observou Drier.

"Então foram seis anos — e isso custou cerca de 30 bilhões de dólares" apenas para o módulo lunar, quando ajustado pela inflação, um valor exorbitante que excede todo o orçamento anual da agência desde meados dos anos 1990, acrescentou ele.

Os níveis de financiamento da agência espacial permaneceram muito abaixo dos picos atingidos durante a era Apollo nas décadas que se seguiram ao término do programa.

Outra consideração importante é o tempo: É possível que buscar uma dessas opções alternativas realmente acelere a missão Artemis III. Também é possível que essa busca se torne um desperdício caro — consumindo tempo e recursos que poderiam ser destinados à realização do plano em que a Nasa vem trabalhando há anos.

"Uma base, não uma corrida"

Além das intensas conversas sobre a pressa em desenvolver um módulo lunar, outra discussão vem ganhando força — uma que questiona se a Nasa deveria mesmo tentar acelerar o Artemis III.

Drier está entre os especialistas que disseram à CNN que não consideram essencial pousar na Lua antes da China.

O objetivo mais importante, argumentam, é abrir caminho para uma base lunar permanente onde astronautas possam viver e trabalhar.

A SpaceX aparentemente apoia esse ponto de vista, afirmando em seu comunicado de quinta-feira que a Starship "será um elemento central para realizar a visão do programa Artemis da Nasa, que busca estabelecer uma presença duradoura na superfície lunar, não apenas bandeiras e pegadas, e, por fim, abrir caminho para o pouso dos primeiros humanos em Marte."

A empresa argumenta que é por isso que a Starship continua sendo a melhor opção para o programa Artemis da Nasa: o veículo possui um compartimento de carga massivo e uma potência imensa que pode ser transformadora — abrindo possibilidades antes consideradas inimagináveis, como entregar 100 toneladas métricas de carga à Lua em uma única viagem, segundo a SpaceX.

No imaginário popular, a nova "corrida espacial" — se é que realmente se trata de uma corrida — pode ser vencida ou perdida no momento em que o próximo astronauta pisar na Lua. Mas talvez o verdadeiro vencedor seja o país que conseguir construir uma infraestrutura duradoura, segundo especialistas.

"Rende ótimas manchetes enquadrar isso como uma competição", disse uma fonte ligada à política espacial, que estava entre várias que falaram à CNN sob condição de anonimato para discutir questões controversas. "Mas isso é sobre o longo prazo e a sustentabilidade."

 

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