Como calibrar os pneus no calor: guia prático e seguro para viajar no verão
Com o verão elevando a temperatura do asfalto, entender como a pressão dos pneus se comporta pode evitar acidentes e garantir uma viagem mais segura

O verão brasileiro costuma trazer um movimento intenso nas estradas. Entre férias escolares, viagens de fim de ano e deslocamentos para praias e destinos turísticos, cresce o fluxo de veículos sob temperaturas que frequentemente ultrapassam os 35ºC. Nesse cenário, um ponto decisivo para a segurança, e ainda subestimado pela maioria dos motoristas, é o comportamento dos pneus.
Temperaturas elevadas alteram de maneira significativa a pressão interna, influenciam na estabilidade, afetam a frenagem e podem até aumentar o desgaste prematuro. Para entender como o calor interfere diretamente nessa dinâmica e quais cuidados devem ser adotados antes de pegar a estrada, a reportagem ouviu Jack Bala, customizador e preparador de carros antigos com mecânica atualizada.
Com experiência prática em adaptar veículos clássicos para rodarem em condições modernas, ele acompanha de perto como o verão modifica o comportamento dos pneus e alerta: calibragem correta não é apenas questão de conforto, mas de segurança.
Calor aumenta a pressão dos pneus e a mudança é rápida
O aumento de temperatura no asfalto e no ar faz com que o ar dentro do pneu se expanda. Esse é um princípio físico básico, mas no verão o processo se intensifica. Jack explica que “as temperaturas altas aumentam a pressão interna dos pneus, aumentando também sua calibragem.” Isso significa que mesmo um pneu calibrado corretamente pela manhã pode alcançar pressões acima do recomendado após alguns minutos rodando sob sol forte.
Esse aumento interfere diretamente na dirigibilidade. Segundo o especialista, a tendência é que o carro fique mais duro, transmita mais vibrações e responda de maneira menos confortável às irregularidades da pista. Para muitos motoristas, essa sensação é interpretada como “normal” em viagens, mas pode ser o primeiro sinal de excesso de pressão.
Risco de estouro
O tema desperta preocupação, especialmente em viagens longas, mas o preparador de carros esclarece que o risco de estouro não é tão frequente quanto se imagina. “Apesar do risco ser pequeno, o aumento da temperatura pode aumentar a pressão interna do pneu, podendo em raros casos causar o estouro do mesmo”, afirma.
O problema mais comum, na prática, é a perda de estabilidade causada pelo pneu superinflado. Pressão elevada reduz a área de contato com o solo, prejudica frenagens, aumenta vibrações e pode gerar sensação de instabilidade em curvas. Mesmo sem ocorrer estouro, a segurança e o conforto são comprometidos.
Por que calibrar sempre com os pneus frios
O recomendável, em qualquer época do ano, é calibrar os pneus quando ainda estão frios e no verão essa indicação se torna ainda mais importante. “Os pneus devem ser calibrados frios, levando-se em consideração que a pressão aumentará à medida que se roda com o carro”, orienta.
Ao calibrar com o pneu quente, o motorista obtém uma leitura artificialmente alta. Quando o pneu esfria, a pressão cai e pode ficar abaixo do recomendado. Na prática, isso significa que o veículo pode sair da oficina aparentemente com a calibragem correta, mas, ao estacionar algumas horas depois, estar rodando com pressão insuficiente.
Por outro lado, calibrar quente sem considerar a expansão térmica pode levar a um problema inverso: “Quando se calibra quente, esse aquecimento também deve ser levado em consideração, pois a pressão pode subir acima do recomendado, causando o endurecimento do pneu devido ao excesso de pressão”, diz.
Sinais de que o pneu está superinflado pelo calor
Os sintomas são perceptíveis, e o especialista recomenda atenção. “O carro fica muito duro e a suspensão ‘soca’, trazendo desconforto ao dirigir”, relata Jack. Esse comportamento indica que o pneu passou da pressão ideal, reduzindo a capacidade de absorção de impactos e transferindo para a suspensão um esforço maior do que o normal.
Jack reforça que é fundamental conferir a pressão sempre que houver dúvida. “O correto é conferir a calibragem em caso de dúvida.” Ele também esclarece que, mais do que excesso de temperatura, o desafio está no excesso de pressão: “Na verdade o excesso é de pressão. A rodagem se torna dura e desconfortável, sendo necessário conferir a calibragem em equipamento específico.”
Pneu muito cheio ou muito murcho? Ambos são perigosos
A calibragem incorreta, para mais ou para menos, compromete a segurança. “Pneus muito cheios, assim como muito vazios, oferecem riscos na condução. O ideal é andar com a calibragem recomendada pelo fabricante”, destaca.
Pneus superinflados diminuem a aderência, prejudicam frenagens e tornam o carro mais instável. Pneus murchos, por sua vez, sofrem maior deformação, esquentam mais rapidamente e podem, em casos extremos, sair da roda.
Em ambos os cenários, o consumo de combustível também aumenta, já que o carro precisa compensar a falta de eficiência do pneu.
Em viagens longas, checagens devem ser constantes
Grande parte dos modelos mais recentes conta com sistemas de monitoramento de pressão (TPMS), que informam a condição dos pneus em tempo real. Para quem não dispõe dessa tecnologia, a recomendação é: “O ideal é conferir a calibragem sempre que tiver dúvida sobre a pressão dos pneus.”
Ou seja, qualquer mudança no comportamento do veículo deve ser tratada como alerta.


