Análise: Líderes do G7 se isolam em resort de luxo e revelam caráter elitista do grupo
Chefes de governo dos países mais desenvolvidos se reuniram na Itália para discutir grandes problemas do mundo, mas não tiveram contato ou diálogo com a população ou grupos da sociedade

O encontro de líderes do G7, ocorrido esta semana no sul da Itália, comprovou de uma vez o caráter elitista e restrito do grupo.
O governo italiano, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, chegou a declarar que tinha convidado o papa Francisco e vários chefes de estado e de governo de países de fora do grupo, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o rei da Jordânia, Abdullah 2, para mostrar que o G7 não é um clube indiferente e exclusivo dos países ricos.
Não funcionou.
Os convidados vieram à Itália, deram os seus recados, alguns falaram de igual para igual com os chefes dessas potências ocidentais, mas nem isso conseguiu diminuir a distância que existe entre o grupo e a sociedade real.
Os maiores símbolos disso foram justamente as condições e o local onde o encontro foi realizado.
O governo italiano resolveu organizar o evento no Borgo Egnazia, um dos mais exclusivos e caros resorts do mundo, na região de Puglia, no sul do país.
O local não tem nenhum significado histórico relevante, tendo sido construído em 2010 a um custo estimado, na época, de quase 200 milhões de Euros.
Pior do que isso, os presidentes e primeiros-ministros do G7 ficaram completamente isolados no local, sem contato com o mundo exterior.
A polícia italiana bloqueou todas as vias de acesso num raio de vários quilômetros de distância. Até hotéis que ficavam dentro dessa área de exclusão foram impedidos de receber hóspedes durante os dias do encontro.
Obviamente, uma reunião com os principais políticos de tantos países exige um rígido esquema de segurança.
Mas não houve exceção ao isolamento: o evento não teve nenhum encontro dos líderes do G7 com o público em geral ou com entidades e associações que representam a população comum ou grupos de interesse público.
Os líderes de alguns dos países mais poderosos do mundo resolveram discutir o que eles entendem como desafios do mundo apenas entre eles mesmos.
Nem a imprensa teve acesso aos líderes durante o encontro, com exceção de cinegrafistas que registraram apenas uma mínima parte do encontro –mas que não puderam sequer fazer perguntas aos líderes.
Alguns chefes de estado do G7, como a anfitriã Giorgia Meloni, deram entrevistas ao final do evento.
Mas isso é apenas a obrigação de líderes eleitos democraticamente.
E não muda a conclusão óbvia do quão elitista o G7 continua sendo.