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    Caio Junqueira
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    Caio Junqueira

    Formado em Direito e Jornalismo, cobre política há 20 anos, 10 deles em Brasília cobrindo os 3 Poderes. Passou por Folha, Valor, Estadão e Crusoé

    Israel sente que mundo o isola, mas não vai barrar guerra por isso

    Iminente incursão terrestre de soldados a Rafah, no sul da Faixa de Gaza, que motiva a recente escalada das críticas internacionais, está prevista para as próximas semanas

    Há um sentimento comum em praticamente todas as conversas com autoridades que a CNN participou desde a semana passada em Israel: o de que o Ocidente cada vez mais isola Israel numa guerra em que o país considera justa, mas que isso não será suficiente para que a guerra pare.

    No Ministério das Relações Exteriores de Israel, em Jerusalém, por exemplo, é nítida a percepção de que o mundo livre e o Ocidente deveriam apoiar Israel porque, na visão deles, é justamente o mundo livre e o Ocidente que estarão ameaçados se o Hamas e seu patrocinador Irã vencerem a guerra.

    A indignação com a ONU e suas agências que atuam direta ou indiretamente na guerra deixa claro esse sentimento de isolamento.

    Em uma fala de cerca de trinta de minutos, Alon Simhayoff, diretor do Departamento de Assuntos Políticos da ONU no governo israelense, acusa a entidade e suas subseções de compactuar com o terrorismo.

    “Estamos profundamente desapontados com a ONU. Como um oficial da ONU pode dizer que o Hamas não é terrorista?”, disse.

    Quando questionados sobre a grande diferença entre palestinos e israelenses mortos em Gaza, a resposta é a mesma para diferentes autoridades: a culpa é do Hamas. Foi o que disse à CNN Ophir Falk, conselheiro do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, na segunda-feira pela manhã em Jerusalém.

    De acordo com ele, a estratégia das forças israelenses não é o que parte considerável do mundo diz, mas o contrário: é minimizar o número de mortos enquanto a do Hamas é maximizar, justamente para fazer da população em Gaza uma “arma de propaganda” mundial” para se vitimizar.

    Além disso, dizem que o ministério da saúde palestino controlado pelo Hamas inflaciona o número de mortos (o mais recente boletim fala em 29.200 mortos). Embora não tenha uma contabilidade própria, Israel diz ja ter matado 10 mil integrantes do Hamas.

    No Knesset, o Parlamento israelense, a CNN conversou tanto com deputados da oposição ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu quanto com integrantes do Likud, o partido de Bibi. Embora haja divergências sobre questões relacionadas a guerra — como em relação à estratégia para resgatar os israelenses sequestrados, o grande clamor nacional —, há uma defesa unânime da campanha militar.

    Em linhas gerais, para eles, os israelenses mortos nos ataques de 7 de outubro de 2023 e os sequestrados do Hamas são as grandes vítimas do conflito cujo resultado é determinante para o futuro do país.

    “Sentimos que o que está em jogo é a própria existência de Israel”, disse à CNN a deputada de oposição Mati Tzarfati Harkabi.

    A alta cúpula do governo segue a mesma linha. O ministro da Economia, Nir Barkat, um dos cotados para a sucessão de Bibi, diz: “O que queremos é nos proteger”. E menciona um dos principais argumentos comuns por aqui: “Não é apenas uma questão sobre Israel, mas sobre os Estados Unidos e o Ocidente”.

    Apesar das críticas mundiais, ele ainda deixa claro que dinheiro não faltará para a guerra. Diz que a economia de Israel é forte o suficiente para alcançar os gastos que, calcula, podem chegar a 10% do PIB ao final.

    Por onde se anda em Israel, seja em Jerusalém ou Tel Aviv, na fronteira norte atacada diariamente por bombas e mísseis do Hezbollah, ou ao sul (próximo ao combate em Gaza), o país respira guerra.

    Há bandeiras em todo lugar, nas casas e comércios. Há cartazes com rostos dos sequestrados nos muros.

    Grande bonecos de pelúcia manchados de vermelho simbolizam nous boulevards de Tel Aviv crianças mortas e sequestradas.

    No corredores da secular Jaffa há uma exposição com telas feitas por artistas após o 7 de Outubro com referências aos ataques do Hamas. Em outra frente, turistas sumiram.

    Não há fila, por exemplo, para entrar na gruta onde nasceu Jesus Cristo em Belém. Normalmente a espera chega a quatro horas. Em Jerusalém, são sete minutos de espera apenas para visitar o Santo Sepulcro, onde Jesus Cristo ressuscitou, segundo a crença cristã. Os relatos são de que, a depender da época do ano, são horas de espera.

    Apesar disso, há poucos sinais de que a guerra vai parar tão cedo, tampouco que se ela parar será em decorrência da pressão internacional. A sensação é de que ela vai parar quando o país atingir seus objetivos: destruir o Hamas e trazer os reféns de volta.

    A estimativa oficial estima que o conflito dure pelo menos 2024 inteiro. Foi o que disse à CNN o porta-voz das forças israelenses, Roni Kaplan: “Temos mais alguns meses de guerra.”

    A iminente incursão terrestre de soldados a Rafah, no sul da Faixa de Gaza, que motiva a recente escalada das críticas internacionais, está prevista para as próximas semanas.

    A expectativa é que a operação comece após o início do Ramadã, que começa em 10 de março e dura um mês. Só nessa conta, seriam mais pelo menos dois meses de guerra.