Veja como proteger os investimentos em meio à guerra entre Ucrânia e Rússia

Segundo especialistas, estratégias dependem de perfil do investidor e carteira de ativos

João Pedro Malar, do CNN Brasil Business, em São Paulo
Fundo de investimento imobiliário
Invasão da Ucrânia gera cenário de volatilidade e incertezas para investimentos  • Rapeepong Puttakumwong / Getty Images
Compartilhar matéria

A invasão da Ucrânia pela Rússia abalou os mercados, com as bolsas no mundo oscilando e o dólar valorizando frente a várias moedas, incluindo o real. Em um cenário de incerteza, a tentativa de proteger os investimentos e patrimônio ganha força, mas exige cuidados.

Analistas ouvidos pelo CNN Brasil Business apontam que, apesar de existirem boas opções de ativos de proteção hoje no mercado, a escolha ideal varia conforme o perfil do investidor e a carteira de ativos que ele possui no momento.

Ativos de proteção para investidores

Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama, afirma que o ideal é que toda carteira de investimentos em renda variável tenha ativos de proteção em sua composição, aqueles que tendem a valorizar em cenários de incerteza ou queda generalizada, como o desta semana.

Os dois principais ativos de proteção no mercado hoje são o ouro e o dólar, duas boas opções para quem investe na chamada renda variável, representada principalmente pelo mercado de ações.

Mas se o investidor não está na renda variável, comprar ouro e dólar pode acabar sendo um mau negócio. Os dois ativos são bastante voláteis, e em uma carteira “conservadora”, ou seja, de renda fixa, podem “fazer estrago”, afirma Blanco, citando como exemplo a queda intensa do dólar nas primeiras semanas de 2022, chegando a 10% antes da invasão na Ucrânia.

Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, o envolvimento dos Estados Unidos na crise ucraniana torna o dólar mais volátil e sensível a novidades no conflito, favorecendo o investimento no ouro como “porto seguro”.

Ele também recomenda que investidores em renda variável olhem para a renda fixa como complementação de carteira, em especial considerando as remunerações altas no Brasil com a taxa Selic em 10,75%.

É possível, ainda, buscar outros ativos dentro da renda variável. Patricia Palomo, gestora de recursos e conselheira da Planejar, afirma que a instabilidade geopolítica tende a aumentar os preços de commodities, em especial energéticas e metálicas. Assim, os investimentos nelas via fundos temáticos ou ETFs são boas opções, já que facilitam também a retirada do investimento se o cenário mudar.

As ações de setores mais resilientes e menos dependentes do cenário externo são apontadas por Palomo como mais seguras nesse cenário. É o caso de setores de transmissão de energia, bancos, saúde e saneamento.

“O investidor que estiver inseguro em relação ao cenário atual, mas não quiser reduzir exposição em bolsa, pode optar em fazer um movimento entre setores e migrar para papéis mais resilientes”, afirma Palomo.

Blanco cita também as próprias empresas ligadas a commodities como boas opções, caso das petroleiras e metalúrgicas.

Investidores na renda fixa

Se a carteira já é conservadora, baseada na renda fixa, o melhor é continuar e expandir esses investimentos. Blanco vê a renda fixa no Brasil como “muito convidativa” no momento, e acredita que é uma boa hora para aumentar a exposição nela.

“Para quem recebeu um dinheiro e quer investir, o cenário, considerando a Ucrânia e a já esperada mudança de política monetária em vários países, torna a renda fixa uma opção bem melhor que a variável”, afirma.

Na visão da estrategista, o melhor no momento são os títulos pós-fixados, já que a Selic tende a subir ainda mais e, mesmo que a inflação ultrapasse expectativas, ainda haveria uma diferença entre as duas e retorno no investimento.

Mesmo assim, ela recomenda procurar boas oportunidades nos títulos prefixados, que podem compensar o risco da inflação superar os retornos e trazerem prejuízo para o investidor.

Palomo também vê os pós-fixados com bons olhos, e afirma que esse tipo de investimento deve ser ajudado com o cenário de inflação global maior devido à guerra na Ucrânia, com altas de juros pelo mundo que podem chegar ao Brasil.

“Para quem prefere proteção monetária, os títulos atrelados à inflação oferecem correção equivalente ao IPCA do período e mais um juros adicional que podem ser bem significativos dependendo do prazo do ativo, mas para isso o investidor precisa ter disponibilidade para ficar com o investimento até o vencimento”, diz.

Já Teixeira avalia que é válido priorizar investimentos com aplicação mais simples, facilitando entradas e saídas dependendo do cenário, caso do CDB, CDI, LCA e LCI.

No caso do Tesouro Direto, os títulos pré-fixados são mais seguros, pois já se sabe o rendimento desde o início, mas há o risco da inflação superá-lo.

“É importante também ver a liquidez. Não é o momento para aplicar em títulos de longo prazo, é bom focar em curto prazo para mudar de posição se necessário”, afirma.

BDR, ETF, Blue Chip: você sabe o que significam os jargões do mercado?

O que significa Circuit Breaker?

O que significa BDR?

O que é ETF?

O que é CDB?

O que é Blue Chip?

O que é Day Trade?

O que é CDI?

O que é CVM?

Você ainda não sabe tudo do mundo dos investimentos (mas leia nossas reportagens, isso vai te ajudar)

Faltou muito pouco para você ser um(a) investidor(a) nato(a)!

Barsi que se cuide — parece que temos um(a) grande investidor(a) por aqui!

 

 

 

 

 

 

 

Momento de retirar investimentos?

Blanco afirma que, para um investidor mais arrojado, geralmente presente na renda variável, “não dá para avaliar o retorno de curto prazo, tem que avaliar o cenário, esperar a poeira baixar e fazer os ajustes devidos. Pode estar vendendo o ativo por um preço abaixo do justo, esse momento é de cautela, esperar”.

Nesse sentido, ela considera que o feriado do Carnaval, que deixará a bolsa de valores fechada por dois dias, pode acabar obrigando os investidores a aguardar e pensar melhor as decisões.

Para Teixeira, é importante que o investidor de renda variável leve em conta o planejamento e escolhas que tomou.

“Sem dúvidas existem setores que dificilmente vão ter mudança de rumo na trajetória prevista, e outros podem ter. Depende do que traçou, pra quanto tempo, os objetivos”, afirma.

Na avaliação dele, se o investidor já chegou perto do que esperava atingir e quer proteger o capital, vale cogitar a saída do investimento, o que também é válido para quem acabou de entrar na bolsa e está com medo.

“Mas se tem um plano coerente de aplicação, baseado em fundamentos que acredita, não é o momento de sair, aguarde para ver o que vai acontecer”, diz. O mais importante, segundo ele, é “se sentir confortável com o investimento. Se não se sente, pode ser melhor se desfazer”.

Palomo também diz que ter um horizonte de prazo mais longo pode ser benéfico para o investimento em ações em um cenário de incerteza como o atual, já que eles podem ser “boas janelas de entrada para o recurso que precisa ser alocado em carteiras que ainda têm espaço para esse tipo de risco”.

“Se o investidor está investido e tem essa maior disponibilidade de prazo, não deveria se preocupar em reduzir risco nesse momento”, avalia.

Veja imagens da invasão da Ucrânia pela Rússia

Acompanhe Economia nas Redes Sociais