Após comprar empresa do Itaú, a Sinqia ainda tem R$ 600 milhões para gastar
Em entrevista ao CNN Business, o CEO da Sinqia afirma que deve investir R$ 600 milhões em aquisições no setor de tecnologia até o fim de 2022
A carteira da empresa de tecnologia Sinqia está cheia – e aberta. Desde que abriu capital na B3, em 2013, a empresa (que ainda se chamava Senior Solution naquela época) comprou dez empresas. A última ocorreu na última terça (4), com a confirmação da aquisição da Itaú Soluções Previdenciárias (ISP), controlada pelo Grupo Itaú, por R$ 82 milhões.
O ímpeto capitalista, no entanto, está longe de acabar, segundo Bernardo Gomes, presidente da companhia. De acordo com o executivo, a Sinqia ainda tem cerca de R$ 600 milhões separados para novas investidas nos próximos dois anos e meio.
A aceleração do crescimento via aquisições ocorre após uma oferta subsequente de ações ocorrida em 2019, quando a Sinqia levantou R$ 362 milhões. Mas Gomes está tão certo de que o melhor caminho para a empresa crescer e firmar é por meio de compras, que enxerga espaço para aumentar o endividamento da companhia para buscar novas oportunidades.
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“Estamos confiantes para esse projeto de crescimento que apresentamos no ano passado, então temos potencial de alavancagem e o dinheiro captado para continuar essa consolidação no mercado”, diz ele, em entrevista ao CNN Business.
A compra do ISP é a maior feita até agora pela empresa. Como a companhia do Itaú alcançou um faturamento de R$ 50 milhões nos últimos 12 meses finalizados em junho, isso representará um incremento de 25% na receita da companhia deste ano. Em 2019, a empresa faturou R$ 175,1 milhões, alta de 23,3% se comparada ao ano anterior. Mesmo assim, o valor ainda é pequeno se comparado onde Gomes e a Sinqia querem chegar.
Como o mercado de softwares para o sistema financeiro, setor em que a Sinqia atua desde a sua fundação, é muito pulverizado, Gomes enxerga que é possível alcançar um faturamento bilionário nos próximos cinco anos. “Não é uma previsão, mas um sonho. E temos um sonho de ter de 20% a 25% do mercado em um prazo de cinco anos”, diz ele. A empresa tem crescido, em médio, 27% desde a sua fundação, então precisará aumentar o ritmo para chegar a esse número.
Mas o atual momento do setor ajuda nessas previsões (ou “sonho”). O mercado em que a Sinqia atua movimenta cerca de R$ 5 bilhões ao ano e tem crescido, já que o avanço da tecnologia no sistema financeiro é visto por todos. Agências bancárias ficaram para trás, pois (quase) tudo, agora, é possível resolver por aplicativos – e o mesmo acontece nos sistemas internos das instituições.
O executivo calcula que a Sinqia é a líder do mercado com 4% do mercado. Ou seja, há muito para crescer e as aquisições fazem sentido: por ser um mercado sem um competidor tão grande, é mais difícil que órgãos reguladores, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), barrem as aquisições.
De olho na aposentadoria
A compra do ISP representa também um salto no segmento de previdência, que está em alta após a reforma da previdência ocorrida durante o governo do ex-presidente Michel Temer. Afinal, será mais difícil (e demorado) conseguir uma aposentadoria razoável no INSS, o que abre espaço para os planos de previdência privada.
Como junto com a aquisição irá vir todos os clientes da ISP, incluindo o próprio Itaú, os softwares voltados a previdência terão um salto dentro da Sinqia. Se antes os sistemas voltados especificamente para os bancos eram os produtos mais importantes da empresa, agora dividirão o protagonismo com os softwares de previdência: cada segmento terá fatia de 35% do faturamento da empresa.
Com novas aquisições vindo por aí, a Sinqia quer voltar a ser vista como a “queridinha dos investidores”, como ocorreu em 2019, quando registrou uma alta de quase 300% em seu valor de mercado. Neste ano, no entanto, há uma desvalorização de janeiro até aqui, cerca de 1,8% – e as ações da companhia subiram nessa semana após a confirmação da compra da ISP.
Esses números chamaram a atenção dos investidores, que já são mais de 100.000 pessoas físicas com ação da Sinqia em mãos. E registrar essa quantidade não é algo trivial, mesmo com o aumento de investidores na bolsa nos últimos meses. Para se ter uma ideia, há apenas 20 empresas do Ibovespa, índice que reúne as principais empresas da Bolsa, com esse mesmo número.
Porém, quando o resultado é tão alto, muitos desconfiam. Um exemplo é que alguns analistas começaram a enxergar uma espécie de “bolha” na valorização da companhia na B3. Em setembro de 2019, o fundador da casa de análises Suno Research, Tiago Reis, por exemplo, fez uma avaliação de que a ação da empresa não poderia ter um valor de mercado acima de cerca de R$ 1,4 bilhão (e isso em um cenário bem otimista).
Hoje, apesar de estar praticamente no zero a zero no ano, a empresa vale por volta de R$ 1,7 bilhão. Essas avaliações negativas incomodam Gomes?
“Uma coisa que aprendemos quando temos uma companhia aberta é que a última coisa a se fazer é tomar decisões em cima dos gráficos das ações e de como os analistas estão vendo a sua empresa”, diz Gomes. “É necessário ser persistente e executar o plano original e que os resultados virão em cima dos negócios das empresas”.
Na semana que vem, a empresa divulgará os resultados do segundo trimestre. De janeiro a março, a empresa faturou R$ 48,6 milhões, alta de 26% em comparação ao mesmo período do ano passado. “O que eu posso dizer é que o desempenho do segundo trimestre foi muito bom e melhor do que os anteriores e isso vai reforçar que a empresa é bem resiliente em um momento tão difícil como o atual”, diz Gomes. Os investidores vão querer conferir isso.
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