O que é a Opep+ e qual o impacto que pode exercer no mercado de petróleo
Na última quinta-feira (30), Brasil foi convidado para ingressar no grupo; autoridades avaliam oportunidade
O Brasil foi convidado a integrar grupo de países produtores de petróleo Opep+ como membro associado. A iniciativa partiu da Arábia Saudita, a maior exportadora da commodity no mundo, em meio à agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Oriente Médio.
No último sábado (2), durante seu segundo dia de participações na COP28, Lula confirmou que o Brasil participará da Opep+ para convencer produtores que os combustíveis fósseis chegarão ao fim.
“Acho importante a gente participar, porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis. E se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles lucram com o petróleo e fazer investimentos”.
Entenda mais sobre a organização a seguir.
O que é a Opep+?
O grupo “oficial” da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) é composto por 13 países e foi fundado na década de 1960. Já a Opep+ é a extensão do maior cartel de petróleo do mundo e entidade fundamental para definir os rumos do preço da commodity.
Entre os membros permanentes, além dos sauditas, figuram Irã, Iraque, Nigéria, Gabão e Venezuela.
Em 2016, o grupo passou a convidar outros países com relevância no mercado de petróleo para atuar como membros associados, originando a Opep+.
Nessa nova figuração, Rússia, México, Cazaquistão, e outros associados passaram a participar das reuniões do grupo.
O impacto do grupo expandido no mercado de petróleo é notável. As reuniões da Opep+ para discutir a escala da produção de petróleo são observadas de perto, ao passo que o adiamento de um desses encontros fez os preços do petróleo caírem no dia 22 de novembro.
Com o anúncio, o preço do barril de petróleo bruto Brent chegou a cair mais de US$ 3 (R$ 14,71), ou mais de 4%, sendo negociado abaixo de US$ 80 (R$ 392,16) por barril.
Na última quinta-feira (30), a Opep+ realizou a reunião e os membros acordaram pela realização de cortes voluntários na produção de petróleo para o primeiro trimestre de 2024.
A Arábia Saudita, a Rússia e outros membros da Opep+ – que produzem mais de 40% do petróleo mundial – concordaram em realizar cortes voluntários na produção de cerca de 2 milhões de barris por dia (bpd) para o período.
Os cortes vieram abaixo da expectativa do mercado, levando os preços do petróleo a uma queda de 2% no dia.
Poder de barganha
A Opep se estende além do Oriente Médio, com membros e aliados espalhados pela Ásia, África e América do Sul, sendo responsável por mais de um terço da produção mundial de petróleo.
Na avaliação do sócio líder de energia e recursos naturais da KPMG Brasil, Anderson Dutra, isso garante ao grupo “um poder de barganha enorme”.
Há 50 anos, em 1973, a Opep utilizou desse poder de barganha pela primeira vez quando impôs um embargo e subiu os preços do barril de petróleo no mundo.
Esse foi o primeiro choque do petróleo, ato em retaliação às ações de Israel e dos Estados Unidos contra os palestinos e países árabes da região durante a Guerra do Yom Kippur.
O segundo viria seis anos mais tarde após a crise política no Irã que acabou na deflagração da revolução iraniana e da Guerra Irã-Iraque.
Mas então, qual o impacto que o bloco e seus membros podem gerar no âmbito do atual conflito em Israel?
Mais de 70 anos de história
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo foi fundada em 1960 em uma cúpula entre o Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela.
O intuito do grupo era de “coordenar e unificar as políticas de petróleo dos países membros e definir os melhores caminhos para resguardar seus interesses, tanto individuais quanto coletivos”, como define o artigo 2º do estatuto da Opep.
Anteriormente à fundação do bloco, o mercado de petróleo era dominado por um grupo de empresas multinacionais que ficou conhecido como “Cartel das Sete Irmãs”.
Mesmo que grande parte das reservas exploradas estivessem no território nacional destes países, as empresas conseguiam assegurar os direitos de exploração por uma fração da riqueza que viriam a produzir.
Uma vez unidos como Opep, os países membros da organização estatizaram refinarias e buscaram descentralizar o poder da iniciativa privada sob a produção e exportação da commodity.
Desse modo, passaram a ser valorizadas as companhias estatais e os lucros do negócio de petróleo passaram a ser acumulados nos cofres públicos.
Atualmente, os membros da Opep produzem cerca de 38% de todo o petróleo mundial, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia (AIE).
Sobre a filiação ao grupo, é definido em seu estatuto que “qualquer país com uma exportação líquida substancial de petróleo bruto, que tenha interesses semelhantes aos dos países membros, poderá se tornar um membro pleno da organização, se aceito pela maioria de três quartos dos membros plenos, incluindo votos concordantes de todos os membros fundadores”.
Por conta de problemas financeiros internos ou mudanças na política energética, três países já deixaram a organização ao longo da história.
Impacto do bloco
Tendo em vista o volume da produção da Opep, Késsio Lemos destaca que a organização possui um “poder considerável para moldar as economias globais mediante a regulação da produção petrolífera e, consequentemente, dos preços energéticos internacionais”.
“A organização desempenha um papel crítico na resposta a crises geopolíticas, sejam elas conflitos armados ou imposições de sanções econômicas, com impactos que reverberam em escala global”, conclui.
Em 1973, após o embargo decorrente da Guerra do Yom Kippur, o preço do barril de petróleo praticamente triplicou, saltando de menos de US$ 25 para cerca de US$ 70.
“Como commodities são bens bastante sensíveis à relação de oferta e demanda, além do petróleo estar na base de boa parte da cadeia produtiva, a OPEP ainda exerce influência considerável no mercado de petróleo. Suas decisões sobre produção e preços podem afetar significativamente os mercados globais de energia”, avalia o sócio da gestora Equus Capital, Rubens Terra.
Contudo, Lemos destaca que nem a Opep e nem o mercado energético de 2023 são os mesmos de 50 anos atrás.
Impactos da guerra entre Israel e Hamas
Após o início da guerra entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas no dia 7 de outubro, o mercado de petróleo viveu semanas de temores com a possibilidade de que a escalada do conflito na região afetasse os grandes produtores do Oriente Médio.
No primeiro dia de negociações após o início das hostilidades, o barril do petróleo Brent fechou em alta de 4%. Antes da guerra, o barril estava sendo negociado a US$ 84,58 (R$ 423,71).
Com o temor seguindo e a tendência de alta se acumulando ao longo dos dias, o preço do Brent atingiu um pico, até o momento, de US$ 92,38 (R$ 462,79) no dia 19 de outubro, variação de 9,22% em relação ao valor que era cotado no dia 6 deste mês.
Desde então, os preços passaram para tendência de queda, inclusive com valores menores aos vistos em setembro. Nesta sexta-feira (1º), o barril fechou abaixo de US$ 80.
Mas esses são os efeitos de um conflito ainda concentrado. “Se a instabilidade se alastrar regionalmente, poderíamos presenciar mudanças especulativas nos mercados de petróleo”, avalia Késsio Lemos, pesquisador no Instituto Sul-americano de Política e Estratégia (ISAPE) e especialista em política energética.
O motivo é que alguns dos principais exportadores de petróleo do mundo estão localizados na região. Entre eles, o Irã, que desde o início do conflito tem apresentado uma postura contundente em relação a Israel e deixou claro que irá agir caso a situação se agrave.
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Acredita-se que o Hamas esteja abrigando no subsolo um número considerável de combatentes e armas • Reuters
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O conflito entre Israel e Hamas começou em 7 de outubro quando o grupo extremista islâmic disparou uma chuva de foguetes lançados da Faixa de Gaza sobre o país judaico. A ofensiva contou ainda com avanços de tropas por terra e pelo mar • Reuters
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Foguetes disparados em Israel a partir de Gaza • REUTERS/Amir Cohen
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Após os ataques aéreos, o Hamas avançou no território israelense e invadiu a área onde estava acontecendo um festival de música eletrônica; mais de 260 corpos foram encontrados no local • Reprodução CNN
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Carros foram deixados para trás pelos motoristas que tentavam fugir do grupo extremista islâmico • Reuters
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Imagens mostram carros abandonados e sinais de explosões após ataque em festival de música eletrônica em Israel • Reuters
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As forças israelenses responderam com uma contraofensiva que atingiu Gaza e deixou vítimas, inclusive, em campos de refugiados. Israel declarou "cerco total" e suspendeu o abastecimento de água, energia, combustível e comida ao território palestino • 13/10/2023 REUTERS/Violeta Santos Moura
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Destruição em campo de refugiados palestinos em Gaza após ataque aéreo de Israel • Reuters
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Pessoas carregam o corpo de palestino morto em ataque israelense no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza • 09/10/2023 REUTERS/Mahmoud Issa
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Campo de refugiados palestinos atingido em meio a ataques aéreos israelenses em Gaza • Reuters
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Prédios destruídos na Faixa de Gaza • Ahmad Hasaballah/Getty Images
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Escombros de prédio destruído após sataques em Sderot, no sul de Israel • Ilia Yefimovich/picture alliance via Getty Images
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Delegacia destruída no sul de Israel após ataque do Hamas • REUTERS/Ronen Zvulun
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Palestinos queimam pneus de carros e bloqueiam estradas enquanto entram em confronto com as forças israelenses no distrito de Beit El, em Ramallah, na Cisjordânia • Anadolu Agency via Getty Images
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As Brigadas Izz ad-Din al-Qassam seguram uma bandeira palestina enquanto destroem um tanque das forças israelenses em Gaza • Hani Alshaer/Anadolu Agency via Getty Images
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Bombeiros tentaram apagar incêndios em Israel após bombardeio de Gaza no sábado (7) • Reuters
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Foguetes disparados de Gaza em direção a Israel na manhã de sábado (7) • CNN
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Veja como funciona o sistema antimíssil de Israel • CNN
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Ataque israelense na Faixa de Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Casas e prédios destruídos por ataques aéreos israelenses em Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Shadi Tabatibi
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Tanque de guerra israelense estacionado perto da fronteira de Gaza • Ahmed Zakot/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Imagens se satélite mostram destruição na Faixa de Gaza • Reprodução/Reuters
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Salva de foguetes é disparada por militantes do Hamas de Gaza em direção a cidade de Ashkelon, em Israel, em 10 de outubro de 2023. • Saeed Qaq/Anadolu via Getty Images
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Salva de foguetes é disparada por militantes do Hamas de Gaza em direção a cidade de Ashkelon, em Israel, em 10 de outubro de 2023. • Majdi Fathi/NurPhoto via Getty Images
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Barco de pesca pega fogo no porto de Gaza após ser atingido por ataques de Israel. • Reuters
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Palestinos caminham em meio a destroços de prédios destruídos por Israel em Gaza • 10/10/2023REUTERS/Mohammed Salem
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Palestinos caminham em meio a destroços de prédios em Gaza destruídos por ataques de Israel • 09/10/2023REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Soldados israelenses carregam corpo de vítima de ataque realizado por militantes de Gaza no kibbutz de Kfar Aza, no sul de Israel • 10/10/2023 REUTERS/Violeta Santos Moura
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Destruição em Gaza provocada por ataques israelenses • 10/10/2023REUTERS/Mohammed Salem
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Ataque israelense na Faixa de Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Casas e prédios destruídos por ataques aéreos israelenses em Gaza • 10/10/2023 REUTERS/Shadi Tabatibi
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Munição israelense é vista em Sderot, Israel, na segunda-feira • Mostafa Alkharouf/Anadolu Agency via Getty Images
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Tanque de guerra israelense estacionado perto da fronteira de Gaza • Ahmed Zakot/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Chamas e fumaça durante ataque israelense a Gaza • 09/10/2023REUTERS/Mohammed Salem
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Sistema antimísseis de Israel intercepta foguetes lançados da Faixa de Gaza • 09/10/2023REUTERS/Amir Cohen
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Hospital na Faixa de Gaza usa geladeiras de sorvete para colocar cadáveres devido à superlotação do necrotério • Ashraf Amra/Anadolu via Getty Images
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Fumaça sobe após um ataque aéreo israelense no oitavo dia de confrontos na Faixa de Gaza, em 14 de outubro de 2023 • Ali Jadallah/Anadolu via Getty Images
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Homem palestino lava as mãos em uma poça ao lado de um prédio destruído após os ataques israelenses na Cidade de Gaza • Ahmed Zakot/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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Embaixada dos EUA no Líbano é alvo de protestos • Reprodução CNN
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Palestinos protestam na Cisjordânia contra ataques de Israel
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Hospital em Gaza é atingido por um míssil • Reprodução
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Hospital atacado em Gaza • Reprodução
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Palestinos procuram vítimas sob escombros de casas destruídas por ataque israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza • 17/10/2023REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa
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Cidadã palestina inspeciona sua casa destruída durante ataques israelenses no sul da Faixa de Gaza em 17 de outubro de 2023 em Khan Yunis • Ahmad Hasaballah/Getty Images
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Tanque de guerra israelense • Saeed Qaq/Anadolu via Getty Images
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Ataque de Israel contra Gaza • 11/10/2023REUTERS/Saleh Salem
Caso outros países da região sejam envolvidos na guerra, os temores envolvem cortes na produção ou obstrução de passagens estratégicas.
Nesse cenário de expansão do conflito, o economista e CEO da Multiplike, Volnei Eyng, avalia que a tensão poderia levar a boicotes entre as nações beligerantes e seus aliados, o que afetaria a economia dos países como um todo.
“Se esse cenário se concretizar, os preços dos combustíveis podem disparar, levando a aumentos generalizados na inflação global. Como resposta, os bancos centrais podem optar por aumentar as taxas de juros para controlar a inflação, o que, por sua vez, pode reduzir o crescimento econômico global”, observa Eyng.
E em um cenário de crise como esse, o economista ainda destaca que o impacto na política monetária dos países poderia levar a um efeito cascata no mercado financeiro.
“Em uma situação assim, os mercados de ações podem sofrer quedas substanciais devido à incerteza e à redução das perspectivas de crescimento econômico”, conclui.
*Sob supervisão de Gabriel Bosa; com informações de Reuters