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    Piora na inflação e ganhos para Petrobras: os impactos do corte na produção de petróleo para o Brasil

    Opep+ anunciou no domingo (2) que cortará voluntariamente a produção de petróleo em mais de 1,6 milhão de barris por dia a partir de maio

    Danilo Moliternoda CNN , São Paulo

    A decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) de cortar parte da sua produção de petróleo deve acelerar o processo inflacionário no Brasil e propor “teste” ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo especialistas consultados pela CNN.

    O grupo conhecido como Opep+ anunciou no domingo (2) que cortará a produção de petróleo em mais de 1,6 milhão de barris por dia a partir de maio, até o final do ano. O objetivo do movimento é combater a queda de demanda para o bem e alavancar seus preços.

    Analista de Energia da CNN, Adriano Pires aponta que, visto o cenário, a tendência é de que a inflação acelere no Brasil e ao redor do mundo. Além de impactar o preço dos combustíveis, este aumento afeta todos os bens e serviços que dependem do petróleo em sua cadeia produtiva.

    “O impacto inflacionário acontece em escala planetária, porque estamos falando de um produto que afeta toda a cadeia produtiva no mundo inteiro, aponta.

    Eberaldo Almeida, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), afirma que ainda não é possível prever os impactos da alta dos preços para a economia. Mas pondera que o movimento pode ser positivo para a Petrobras, já que o Brasil é exportador de petróleo.

    “Temos que lembrar que o Brasil é exportador de Petróleo. O saldo líquido tem ficado em torno de US$ 20 bilhões, considerando petróleo e derivados. Então, para o Brasil, a princípio, quanto maior o preço do petróleo, melhor, porque o país ganha mais”, diz.

    Pires reitera a posição favorável à Petrobras com o aumento dos preços. Ele ainda aponta que, a partir disso, o governo brasileiro pode ser favorecido — com o pagamento de royalties e participações especiais, por exemplo.

    Na segunda-feira (3), dia seguinte ao anúncio da Opep+, as empresas petroleiras responderam pelas principais altas da B3. Petrobras ON teve 4,76% de valorização, Petrobras PN de 4,43%, PetroRio de 2,08%.

    “Test drive” a Lula

    Para Adriano Pires, esse processo gera uma espécie de “test drive” para o governo Lula. O especialista diz que a gestão pode permitir que as altas cheguem às bombas — o que pode impactar sua popularidade — ou adotar medidas para “segurar a inflação”.

    “O discurso que a gente ouve desde a eleição é de que o presidente [Lula] quer abrasileirar preços, que pode não repassar valores para a bomba. Se fizer isso, acaba varrendo a inflação para debaixo do tapete, represando a alta”, aponta.

    O ex-presidente do IBP nega a necessidade de interferência do governo nos preços ou de novas desonerações para lidar com o corte. Ele aponta que a preocupação com câmbio pode ser mais estratégica no momento.

    “O impacto do câmbio tem sido maior que o próprio preço da commodity. Então, mais importantes são os movimentos do governo no sentido do equilíbrio fiscal, que inspiram confiança no mercado, fazem a moeda apreciar. Fazendo a moeda apreciar, um barril de petróleo vai custar menos e reflete na bomba”, afirma.

    Ele destaca, no entanto, que a análise diz respeito ao cenário e preço atual do Petróleo, e que o governo deve acompanhar novos anúncios e variações de perto.

    Impactos em escala global

    Adriano Pires explica que os cortes podem ter como efeitos secundários, como alta nas taxas de juros e até recessão.

    “O impacto inflacionário gera pressão sobre os bancos centrais para manter e até aumentar as taxas de juros. Com isso, você contrata mais recessão e assim reduz o preço do barril”, aponta.

    Ao redor do mundo, o anúncio da Opep+ tende a gerar um “cabo de guerra” entre os membros do grupo e potências ocidentais, explica o analista da CNN.

    “Com isso, se gera um cabo de guerra entre os países. Vamos ver o que vai dar mais efeito no preço: se é a queda de demanda via aumento de juros [praticado pelos países ocidentais] ou o corte de produção [praticado pela Opep]”, completa.

    O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, criticou na segunda-feira o corte de produção promovido pela Opep+. “Não achamos que os cortes de produção sejam aconselháveis neste momento, dada a incerteza do mercado, e deixamos isso claro”, comentou.

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