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Por que empreender com sustentabilidade é uma tendência?

Fundadora da Mabe Bio fala sobre como economia circular, ciência e tecnologia deram origem à startup de biomateriais e o espaço que há para crescimento no segmento

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Economia circular exige uma nova visão sobre os processos de produção  • Unsplash/@marcinjozwiak
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Em tempos em que grandes indústrias são pressionadas por mais sustentabilidade, o leque de oportunidades para empresas que miram impacto ou que auxiliam outras companhias em busca de práticas mais sustentáveis vira mais do que uma missão social: uma oportunidade de negócio.

É assim que a Mabe Bio, startup paulista que utiliza resíduos vegetais para a produção de itens sustentáveis, vem conquistando mercado, investidores e uma extensa carteira de clientes em uma fila de espera composta por grandes indústrias brasileiras.

O projeto é de Marina Bellintani, designer de moda e mestre em indústria têxtil. Ao lado da sócia Rachel Maranhão, elas criaram a empresa que oferece uma alternativa ao couro animal e sintético.

“A ideia surgiu da minha vontade de contribuir com inovação para a indústria têxtil do Brasil, e dessa visão sistêmica de criação de novos negócios com mais empatia ao processo produtivo como um todo”, diz a empreendedora.

O negócio segue o conceito da bioeconomia e circularidade, que favorece o uso de materiais de segunda vida, encontrando também novas finalidades para matérias-primas encontradas na natureza. Para isso, a Mabe Bio utiliza vagens da árvore angico para desenvolver biomateriais que se assemelham ao couro animal, mas são sustentáveis e biodegradáveis.

O problema do carbono

A empresa busca solucionar um problema caro à indústria têxtil brasileira: a pegada de carbono e destruição ambiental causada pela cadeia do couro, responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa no país.

Ao trabalhar com a indústria, a Mabe Bio pretende encontrar escala, principalmente no setor têxtil, que é impactado pelas práticas de desperdício e alvo comum de novas regulamentações globais.

De acordo com Marina, 80% da pegada de carbono de uma roupa vem dos materiais que a constitui, o que justifica a ambição da startup em crescer e alcançar grandes representantes da indústria. “É uma demanda que já existe e está batendo à porta”, diz.

Há dois anos no mercado, a Mabe Bio se debruçou em pesquisa e desenvolvimento para aprimorar sua matéria-prima, antes de levá-la ao mercado em escala comercial.

Até o momento, a empresa conta com uma longa fila de espera para a versão piloto do produto, que pretende atender setores que vão da moda a calçados a arquitetura, aviação e até mesmo automóveis.

Para Belintani, o olhar atento à economia circular vai além de uma missão social. Trata-se também de uma oportunidade de negócios com grande potencial econômico.

De acordo com um relatório da consultoria Spherical Insights & Consulting, o mercado global de economia circular deve saltar de US$ 554,5 bilhões em 2023 para US$ 1,8 trilhão em 2033.

Para a fundadora, ampliar o negócio, contudo, depende também de uma grande transformação de mindset.

“Sabemos que as deep techs estão se popularizando no Brasil, mas existe uma dificuldade em compreender quão complexo é validar um produto, atingir todos os parâmetros de performance e qualidade, escalonar para, só então começar a vender e ver de fato o impacto começar”, diz.

Motivos para apostar na economia circular

Apesar da complexidade da cadeia, é uma indústria que já mostra seus resultados. Segundo Marina, a oportunidade ao empreender unindo tecnologia, ciência e sustentabilidade está em atender outras grandes indústrias — o que amplia o impacto gerado por empresas que, como a Mabe Bio, desenvolvem biomateriais.

"É um conceito muito novo. Há uma grande oportunidade de novas tecnologias, processos e produtos e com menor impacto ambiental", declara.

Além disso, ela classifica o Brasil como “um mar de oportunidades” devido à variedade biológica natural e matriz energética essencialmente limpa.

“O país tem muitas opções de plantas, uma rica biodiversidade. Também há muita pesquisa científica e muita possibilidade de inovar criando processos produtivos circulares e sustentáveis”, diz.

Segundo a fundadora, o país será cada vez mais buscado por nações interessadas em reduzir suas pegadas de carbono em grande escala.

“Estamos vendo um interesse crescente, porque é uma dor latente. A indústria não oferece muitas opções que apresentem alternativas ao uso de materiais animais ou químicos. Então indústrias que querem reduzir a pegada de carbono da sua operação precisarão de nós. É um segmento que logo se tornará prioridade global”.

Atualmente, a Mabe Bio está prestes a iniciar seu projeto de escalonamento, deixando as dependências do laboratório e dando início a uma pequena operação de comercialização voltada aos clientes em fila de espera.

(Por Maria Clara Dias)

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