Selic e restrições do INSS já impactam acesso ao crédito, diz BC
Banco Central também identificou que as concessões de empréstimos às empresas foi afetado pelo aumento do IOF

No Relatório de Política Monetária divulgado pelo BC (Banco Central) nesta quinta-feira (25), a autoridade destaca que as concessões do crédito livre às famílias — com recursos negociados com o mercado — recuaram nos últimos meses, impactadas pelo patamar elevado na taxa básica de juros e pelos requisitos mais rigorosos para novas operações do consignado do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Segundo o BC, houve uma queda acentuada das concessões de crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS nos últimos três meses. Após a descoberta de fraudes na folha de pagamento dos beneficiários, o órgão impôs a obrigatoriedade da biometria para o desbloqueio para contratação de novos empréstimos.
“A exigência de autenticação biométrica para novas operações, desde maio, diminuiu a concessão diária pela metade, em um primeiro momento. A partir daí, o volume das novas operações voltou a subir, mas ainda se encontra em nível reduzido”, diz o relatório do BC.
Na avaliação da autoridade monetária, a Selic em 15% ao ano também tem influenciado as concessões de crédito às pessoas físicas. É o maior patamar para a taxa básica de juros desde 2006.
Apesar do cenário, o BC sinalizou que as concessões do consignado para trabalhadores do setor privado, que haviam registrado maior volume em abril e recuado nos dois meses seguintes, mostraram forte crescimento após o término da exigência de destinar os recursos da operação de crédito para a quitação de débitos anteriores. O programa Crédito do Trabalhador foi lançado pelo governo em março.
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, a taxa média de juros dos empréstimos consignados por meio do programa recuou para 2,62% em 4 de setembro. No 1° dia do programa, 21 de março, a taxa média cobrada pelas instituições financeiras era de 3,48%.
Empresas
No crédito livre às empresas, as concessões das modalidades de curto prazo diminuíram em junho e julho, impactadas pelo aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). De acordo com o relatório do BC, concessões da modalidade desconto de duplicatas e recebíveis recuaram 15% no trimestre encerrado em julho, com as mudanças na tributação sobre operações de “risco sacado”.
“Essas operações devem se recuperar nas próximas leituras, dado que em meados de julho o “risco sacado” voltou a ficar isento do imposto”, diz o documento.
O relatório destaca que as empresas aumentaram a contratação das linhas de financiamento à exportação, que são isentas, como alternativa ao aumento do IOF. O BC verificou também aumentaram os financiamentos no mercado de capitais domésticos, ampliando as emissões de títulos de dívida.
Estatísticas Monetária e de Crédito
Em julho, o saldo das operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) registrou expansão mensal de 0,4%, quando totalizou R$ 6,7 trilhões. De acordo com o BC, o resultado decorreu do incremento de 0,6% no crédito destinado às famílias (R$ 4,2 trilhões), que foi atenuado pela contração de 0,1% no crédito às empresas, que totalizou R$ 2,5 trilhões no mês.
O saldo das operações de crédito com recursos livres, ou seja, com recursos negociados com o mercado, alcançou R$ 3,9 trilhões em julho. É um avanço de 0,2% no mês e um incremento de 9,4% em 12 meses.
O crédito livre para empresas somou R$ 1,6 trilhão em julho, com retração mensal de 1%, influenciada pelas reduções nas carteiras de desconto de duplicatas e outros recebíveis (-9,3%) e de capital de giro total (-0,6%). Já o crédito livre às pessoas físicas totalizou R$ 2,3 trilhões, alta de 1% no mês.