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    China ampliou liderança comercial na América Latina durante governo Biden

    Presidente dos Estados Unidos prometeu dar mais atenção à região em meio ao avanço chinês, o que ainda não ocorreu

    Adam JourdanMarco AquinoMatt Spetalnickda Reuters

    A China ampliou a diferença em relação aos Estados Unidos em termos comerciais em grandes áreas da América Latina desde que o presidente Joe Biden assumiu o cargo no início de 2021, segundo um levantamento, ressaltando como Washington está sendo superada na região.

    Uma análise exclusiva da Reuters dos dados comerciais da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2015 a 2021 mostra que, fora o México, principal parceiro comercial dos Estados Unidos, a China ultrapassou os Estados Unidos na América Latina e aumentou essa diferença no ano passado.

    A tendência, impulsionada por países da América do Sul ricos em recursos naturais, mostra como os Estados Unidos perderam terreno em uma região há muito vista como seu quintal, mesmo quando Biden pretende redefinir esses laços na Cúpula das Américas nesta semana.

    O México e os Estados Unidos têm um acordo de livre comércio desde a década de 1990, e a quantidade de comércio entre os dois vizinhos ofusca sozinho o comércio norte-americano com o resto da América Latina.

    Mas a lacuna comercial com os Estados Unidos no resto da região, que se abriu pela primeira vez sob o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump em 2018, cresceu desde que Biden assumiu o cargo em janeiro do ano passado, apesar da promessa de restaurar o papel de Washington como líder global e reorientar a atenção para a América Latina após anos do que ele chamou de “negligência”.

    Atuais e ex-funcionários disseram à Reuters que os Estados Unidos demoraram para tomar medidas concretas e que a China, grande compradora de grãos e metais, simplesmente ofereceu mais à região em termos de comércio e investimento.

    Juan Carlos Capunay, ex-embaixador do Peru na China, disse que, além do México, “os laços comerciais, econômicos e tecnológicos mais importantes para a América Latina são definitivamente com a China, que é o principal parceiro comercial da região, bem acima dos Estados Unidos”.

    Ele acrescentou, porém, que politicamente a região ainda está mais alinhada com os Estados Unidos.

    Excluindo o México, os fluxos comerciais totais – importações e exportações – entre a América Latina e a China atingiram quase US$ 247 bilhões no ano passado, segundo os últimos dados disponíveis, bem acima dos US$ 174 bilhões com os Estados Unidos.

    Os dados de 2021 carecem de números comerciais de alguns países, mas eles se equilibram em termos do viés EUA-China.

    Exceção na América Latina, os fluxos comerciais do México com os Estados Unidos foram de US$ 607 bilhões no ano passado, acima dos US$ 496 bilhões em 2015. Seu comércio com a China foi de US$ 110 bilhões, acima dos US$ 75 bilhões seis anos antes.

    A Casa Branca e o Departamento de Estado dos Estados Unidos não responderam imediatamente a um pedido de comentário sobre o tema.

    Em um aparente esforço para apresentar uma alternativa específica à China, altos funcionários norte-americanos disseram que Biden anunciaria um plano de “Parceria das Américas” na cúpula em Los Angeles, com foco na promoção da recuperação da pandemia, a partir dos acordos comerciais existentes.

    O objetivo seria mobilizar investimentos, revigorar o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), criar empregos ligados à energia limpa e fortalecer as cadeias de suprimentos, afirmaram as autoridades.

    Mas tal iniciativa pode enfrentar resistência de protecionistas norte-americanos, bem como questões sobre como as economias amplamente diversificadas da região poderiam fazê-la funcionar.

    “Perdendo a batalha”

    Assessores de Biden que viajaram pela América Latina tentaram convencer os parceiros de que Washington é mais confiável e transparente para fazer negócios, acusando abertamente a China de usar o investimento para criar “armadilhas de dívida” para os países.

    Mas um funcionário dos Estados Unidos, falando sob condição de anonimato, admitiu que Washington enfrenta um desafio difícil.

    “Enquanto a China estiver pronta para colocar seu dinheiro na mesa, parece que estamos travando uma batalha perdida”, disse a pessoa.

    Quando o enorme fluxo comercial com o México é incluído, os Estados Unidos ainda saem no topo, mas isso mascara a tendência mais ampla na região, onde os produtos fabricados na China estão ganhando terreno e Pequim está devorando soja, milho e cobre.

    A China lidera na Argentina, ampliou sua liderança nos gigantes andinos do cobre, Chile e Peru, e viu um grande avanço no Brasil, apesar do ceticismo do presidente  Jair Bolsonaro sobre os interesses comerciais chineses no país.

    Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados com sede no Brasil, disse que a China muitas vezes trouxe investimentos em transporte e infraestrutura que ajudaram acordos comerciais sobre grãos e metais, enquanto os governos muitas vezes achavam que os Estados Unidos tinham apenas retórica.

    “Os governos latino-americanos reclamam que há muita conversa, mas perguntam ‘onde está o dinheiro’?”, avalia.

    A Cúpula organizada pelos Estados Unidos em Los Angeles é vista como uma plataforma fundamental para combater a China, mas Biden já foi atingido por ausências, incluindo o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, devido à exclusão de países como Cuba e Venezuela.

    Eric Farnsworth, ex-funcionário da Casa Branca e integrante grupo Conselho das Américas, disse que a alta nos preços das commodities aumentou os números do comércio entre América Latina e China, mas reconheceu que uma agenda de política doméstica ocupada dos Estados Unidos e a guerra na Ucrânia mantiveram o foco de Biden em outros lugares.

    “Há um acordo bipartidário de que os Estados Unidos simplesmente não estão na mesa”, disse ele. “A Cúpula é parte do esforço para resolver isso, mas precisa haver algo concreto que saia disso”.

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