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Ben & Jerry's sem o "Jerry": Cofundador se demite após disputa com Unilever

Jerry Greenfield abandona empresa de sorvetes após 47 anos, alegando que proprietária britânica limitou capacidade da marca de se manifestar sobre causas sociais

John Liu, da CNN
Ben & Jerry's
Ben & Jerry's  • Reprodução
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Jerry Greenfield, cofundador da Ben & Jerry"s, deixou a marca de sorvetes em meio a uma disputa com sua proprietária britânica Unilever, segundo publicação do outro cofundador Ben Cohen.

Cohen compartilhou um comunicado de Greenfield afirmando que deixar a empresa foi "uma das decisões mais difíceis e dolorosas" que já tomou, acusando a Unilever de restringir a capacidade da marca de sorvetes de se manifestar sobre causas sociais.

"Defender os valores de justiça, equidade e nossa humanidade compartilhada nunca foi tão importante, e ainda assim a Ben & Jerry"s foi silenciada, deixada de lado por medo de incomodar aqueles no poder", disse Greenfield no comunicado.

"E isso está acontecendo em um momento em que a atual administração do nosso país está atacando os direitos civis, direitos de voto dos imigrantes, mulheres e da comunidade LGBTQ."

"É com o coração partido que decidi que não posso mais, em sã consciência, e após 47 anos, continuar como funcionário da Ben & Jerry"s", acrescentou.

Greenfield e Cohen venderam sua empresa para a Unilever em 2000 e, segundo Greenfield, receberam garantias de "independência para perseguir seus valores."

"Por mais de vinte anos sob a propriedade deles, a Ben & Jerry"s se posicionou e se manifestou em apoio à paz, justiça e direitos humanos, não como conceitos abstratos, mas em relação a eventos reais acontecendo em nosso mundo", escreveu Greenfield.

"É profundamente decepcionante chegar à conclusão de que essa independência, a própria base de nossa venda para a Unilever, acabou", completou.

A CNN entrou em contato com a Unilever e sua subsidiária, The Magnum Ice Cream Company, que controla a Ben & Jerry"s e está em processo de separação para se tornar uma entidade independente.

Um porta-voz da The Magnum Ice Cream Company disse à Reuters na quarta-feira que discorda "da perspectiva de Jerry e tem buscado envolver ambos os cofundadores em conversas construtivas."

Na semana passada, Greenfield e Cohen, que não controlam mais a empresa que criaram, escreveram uma carta aberta endereçada ao conselho da Magnum Ice Cream Company.

A empresa solicitou que a Ben & Jerry"s fosse separada para operar de forma independente, após várias disputas ao longo dos anos sobre seus posicionamentos em diversas questões, incluindo críticas às políticas do presidente Donald Trump e à guerra de Israel em Gaza.

Em resposta, a Unilever afirmou que a Ben & Jerry"s é uma "parte orgulhosa" da Magnum Ice Cream Company e não está à venda.

O relacionamento da marca de sorvetes com sua proprietária britânica tem sido tenso nos últimos anos.

Em 2021, a Ben & Jerry"s encerrou suas vendas nos territórios palestinos ocupados, alegando que isso era incompatível com os valores da marca socialmente consciente – uma decisão que provocou forte reação de Israel.

Em março, a Ben & Jerry"s acusou a Unilever de violar seu acordo de fusão por demitir seu então CEO David Stever devido aos comentários públicos da marca sobre questões progressistas.

Em janeiro, a empresa de sorvetes alegou que a Unilever "unilateralmente impediu" uma publicação que fazia referência ao aborto, mudanças climáticas e saúde universal por mencionar o presidente Donald Trump.

No final do ano passado, a Ben & Jerry"s também entrou com uma ação judicial contra a Unilever, acusando a empresa controladora de censurar suas declarações públicas de apoio aos refugiados palestinos e às resoluções para encerrar a ajuda militar a Israel.

A Unilever rejeitou todas essas alegações.

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