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    Comédia “Abestalhados 2” mostra os perrengues de fazer cinema no Brasil

    Elenco e diretores conversam com a CNN sobre filme que estreia nesta quinta (27) nos cinemas

    Isabella Fariada CNN , São Paulo

    Quatro homens, com uma pequena produtora, querem fazer um filme de ação no Brasil e por ser um gênero caro, eles topam qualquer coisa. Enquanto arrecadam fundos para a produção, fazem programas religiosos de madrugada, comercial de manteiga e até filmes pornôs. E, tudo isso, é captado pela estagiária da equipe, para servir como o making off do longa, chamado de “Acelerados 2”.

    Poderia ser um documentário dos bastidores do cinema nacional, mas é uma comédia de ação dirigida por Marcos Jorge e Marcelo Botta que, ao contrário do que o título sugere, não tem um antecessor.

    “A gente queria fazer uma comédia de sucesso, então pensamos: ‘vamos logo fazer a sequência do filme'”, diz Marcos.

    Segundo o diretor, “Abestalhados 2”, no começo, era só um título, já que o resto do roteiro foi nascendo aos poucos e se transformando.

    “Queriam uma comédia mais real, pé no chão”, diz Marcelo, “quando entregamos o roteiro, tinha explosão e muita ação”.

    Porém, mesmo se tratando de um filme de comédia, a ação utilizada demandou um orçamento grande, com base em locações e efeitos especiais.

    Em “Abestalhados”, inclusive, essa é a primeira piada: a maior cena de ação do longa, com explosões reais, computação gráfica e gravação no Minhocão, em São Paulo, consumiu todo o ‘budget’ da produção. Porém, mesmo com todas as dificuldades que os personagens enfrentam ao longo do filme, um deles insiste em dizer que “cinema e dinheiro não combinam”.

    “Toda vez que eu via essa cena, essa piada, eu ria”, diz Marcos. “Não fazemos absolutamente nada sem dinheiro, mas a inteligência é não deixar que o dinheiro te mate e nem que a ausência dele te mate, também”, completa o diretor.

    Marcelo completa a fala do colega, dizendo que cinema é caro, mas também gera dinheiro.

    “Temos muitas comédias brasileiras que renderam muito pro mercado, que fortaleceram o fundo setorial e foram fundamentais. Paulo Gustavo, que nos deixou, fez muito pelo cinema, por exemplo”, afirma o diretor.

    Para ele, é possível fazer filme sem tanto dinheiro, no estilo cinema guerrilha, mas o ideal é ter dinheiro para contratar uma equipe completa, pagando todos os pisos exigidos pelas categorias de profissionais e chegar em uma jornada justa de 10 horas.

    “Como cineastas, passamos muito tempo criando, mas muito tempo resolvendo problemas, também”, disse ele.

    O maior de todos, inclusive, aconteceu durante as gravações. A pandemia da Covid-19 atingiu em cheio o set de filmagem, fazendo “Abestalhados 2” ser um dos primeiros filmes brasileiros a seguir as recomendações da OMS em relação ao vírus: equipamentos de proteção, testagem e equipes reduzidas foram algumas das medidas tomadas para que o filme continuasse a ser rodado.

    “Uma das atrizes pegou covid e tivemos que substituí-la. Daí, trouxemos isso pro filme! Quando vi, eu e o Marcelo estávamos escrevendo uma cena na qual a atriz é trocada por conta de outro problema”, contou.

    Diante de dificuldades, improvisos e algumas mudanças, o filme saiu.

    “A verdade é que nós somos os Abestalhados. Para fazer cinema no Brasil, ainda mais de ação, você tem de ser um tanto abestalhado, mesmo”.

    Limite do humor

    Todos os arquétipos do cinema nacional estão muito bem representados em “Abestalhados 2”.

    O diretor megalomaníaco que acha que tem o próxima produção vencedora do Oscar nas mãos, o defensor do cinema autoral cheio de referências intelectuais, o iluminador que demora duas horas para conseguir a quantidade exata de sombra no rosto do ator e o cinematógrafo que não se cansa de procurar o ângulo de câmera perfeito.

    Com um elenco vasto de comediantes, Paulinho Serra, Leandro Ramos, Raul Chequer e Felipe Torres trazem o que o humor nacional tem de melhor, a piada feita de forma inteligente.

    “Dizer ‘não pode mais fazer piada com nada’ é coisa de humorista preguiçoso. Você pode fazer piada com tudo, mas ela tem que ser boa e endereçada ao opressor, e não ao oprimido”, diz Leandro Ramos.

    Tanto para Leandro quanto para Paulinho Serra, o “politicamente incorreto” nunca foi um problema. Eles articulam o próprio humor estando do lado correto da piada.

    “No filme, o humor funciona como crítica, são quatro caras machistas que fazem qualquer coisa para que o filme tenha sucesso”, diz Paulinho.

    Com participações especiais de comediantes de diversos programas brasileiros como “Casseta & Planeta”, “Hermes e Renato” e “Pânico na TV”, o filme consegue trazer humores diferentes, de várias gerações, e focá-los em discussões políticas e sociais recentes.

    “Humor tem muito a ver com época. O humor da época dos trapalhões não se faz hoje, por exemplo, ele se transformou”, diz Paulinho. “Por isso quando o cara diz que: ‘vai fazer a piada e, se não gostarem, é mi mi mi’, se trata de um cara incapaz e medíocre”, acrescenta.

    Leandro completa a fala do colega, dizendo que xenofobia, machismo e racismo, não são questões de comédia, são crimes.

    “Pra mim, aquele que briga, dizendo ‘eu tenho que poder zoar um gordo’, não está brigando para ter liberdade, está brigando para ser babaca”.

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