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    Conheça as viagens de Mário de Andrade que inspiraram enredo da Mocidade Alegre

    Campeã do Carnaval de São Paulo 2024 homenageou o escritor modernista e os diferentes "Brasis" que ele conheceu durante a década de 1920

    Fernanda Pinottida CNN , em São Paulo

    A Mocidade Alegre foi a campeã do Carnaval de São Paulo em 2024, repetindo o feito do ano anterior. O enredo da escola, intitulado “Brasiléia Desvairada: A Busca de Mário de Andrade Por um País” e assinado pelo carnavalesco Jorge Silveira, homenageia o escritor modernista e os diferentes “Brasis” que ele conheceu durante suas viagens na década de 1920.

    Há exatos cem anos, em 1924, Mário de Andrade escreveu ao amigo e poeta Carlos Drummond de Andrade em uma carta: “É no Brasil que me acontece viver e agora só no Brasil eu penso e por ele tudo sacrifiquei”.

    Na mesma década, o escritor, que pouco havia saído de sua terra natal, São Paulo, decidiu que era preciso conhecer as diferentes culturas, povos e cantos do país.

    A comissão de frente da Mocidade trouxe o ator Pascoal da Conceição interpretando Mário de Andrade, com sua mala em mãos, pronto para desbravar o Brasil.

    As viagens de Mário de Andrade pelo Brasil

    Dos relatos dessas suas viagens – “pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia e por Marajó até dizer chega”, como ele mesmo escreveu – nasceu o livro “O Turista Aprendiz”, no qual Mário de Andrade expõe com curiosidade todas as diferenças e semelhanças que encontra Brasil afora.

    “Macunaíma”, sua obra principal, também é fortemente influenciado pelo que Mário viu e conheceu enquanto viajava.

    Mocidade Alegre foi a campeã do Grupo Especial de SP em 2024
    A comissão de frente da Mocidade trouxe o ator Pascoal da Conceição interpretando Mário de Andrade, com sua mala em mãos, pronto para desbravar o Brasil./ Felipe Araújo/LIGA-SP

    Ele foi acompanhado ora de outros escritores modernistas, ora de parentes e amigos, e descreveu assim sua caravana em dado momento de “O Turista Aprendiz”: “Éramos um grupo de amigos paulistas, curiosos de conhecer outros brasis.”

    O samba-enredo da Mocidade, composto por Biro Biro, Turko, Gui Cruz, Rafa Do Cavaco, Minuetto, João Osasco, Imperial, Maradona, Portuga, Fábio Souza, Daniel Katar e Vitor Gabriel, retrata na letra a decisão do escritor de deixar sua terra-mãe São Paulo e a descoberta e imersão em outras manifestações de arte e de cultura: a arte barroca de Minas Gerais, o carimbó paraense da ilha de Marajó, o maracatu e o frevo pernambucanos.

    O samba também chega a mencionar uma passagem relatada por Mário de Andrade em “O Turista Aprendiz”: quando o escritor fechou o corpo em uma cerimônia do catimbó (religiosidade que mistura elementos indígenas e africanos).

    No livro, Mário de Andrade fala sobre esse momento: “Hoje, última sexta-feira do ano, apesar do dia ser par, era muito propício pra coisas de feitiçaria. Por isso aproveitei pra ‘fechar o corpo’ no catimbó de dona Plastina, lá no fundo dum bairro pobre, sem iluminação, sem bonde, branquejado pelo areão das dunas.”

    E acrescenta: “Não sei… É impossível descrever tudo o que se passou nessa sessão disparatada, mescla de sinceridade e de charlatanismo, ridícula, dramática, cômica, religiosa, enervante, repugnante, comovente, tudo misturado. E poética.”

    Mocidade Alegre foi a terceira a desfilar na segunda noite de desfiles do Carnaval 2024 de São Paulo, no sábado (10). / Felipe Araújo/Liga-SP

    Mocidade Alegre: a campeã do Carnaval de São Paulo

    Este foi o décimo segundo título da agremiação do bairro do Limão e a vitória é a segunda consecutiva, já que a escola também foi a campeã de SP em 2023.

    A agremiação foi a terceira a desfilar na segunda noite de desfiles de SP e volta ao Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, para o Desfile das Campeãs de 2024, no sábado (17).

    Na justifica do enredo publicada pela própria Mocidade Alegre: “Nas palavras e pensamentos do escritor estão a urgência de pesquisar o Brasil, entender e construir essa nação, saber sobre suas nuances e o que lhe define, para assim ser possível articular o passado que fomos, o presente que somos e o futuro que ainda podemos ser.

    Essa busca incessante de Mário atravessou a sua obra em poemas, contos, romances, músicas, estudos, palestras e fotografias.

    Se permanecesse apenas em seu escritório estudando e pensando, jamais conseguiria responder tais dúvidas. Por isso, precisou sentir e desbravar pessoalmente todos os quatro cantos que constituíam esse país. Dar nome, rosto e sentimento a quem era esse tal de ‘povo brasileiro’.”

    Veja a letra completa do samba-enredo da Mocidade:

    Ê Pirapora
    Parnaíba que vai bem
    Pirapora vale um conto
    Parnaíba um conto e cem
    Parnaíba um conto e cem
    Parnaíba um conto e cem

    O tambor me chamou, pra firmar no terreiro
    Em cada verso, sentimento verdadeiro
    Bordei um país de felicidade
    Na voz da minha Mocidade

    Sou dessa terra
    Filho da garoa fina
    Onde a dura poesia, me fez arlequim
    Retalho de um delírio insano
    Sagrado e profano, por tantos Brasis
    Trilhando caminhos de crença e paz
    Dourado é teu chão, oh Minas Gerais!
    Eu vi no traço genial
    A arte barroca, um dom divinal

    Jangadeiro, ê, no banzeiro
    No balanço navego teu rio-mar
    Pra conhecer o teu sabor Marajó
    Tem batuque na gira do Carimbó

    Baque virado, marimba na congada
    Noite enluarada, no Maracatu da Casa Real
    Fechei o corpo no catimbó
    No frevo, saudade só
    Me embriaguei de carnaval
    Oh, Brasiléia Desvairada
    Onde a poesia fez Morada
    De cada lembrança, escrevo a história
    Batizada no samba de Pirapora

    O tambor me chamou, pra firmar no terreiro
    Em cada verso, sentimento verdadeiro
    Bordei um país de felicidade
    Na voz da minha Mocidade

    Veja fotos do desfile da Mocidade Alegre de 2024

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