“Não há lugar no esporte para esses comentários”, diz Fernando Alonso à CNN sobre Piquet
Ex-piloto brasileiro Nelson Piquet usou termo racista "neguinho" para se referir a Lewis Hamilton
Em mais uma semana tumultuada na Fórmula 1 (F1), o ex-piloto brasileiro Nelson Piquet pediu desculpas, na quarta-feira (29), após utilizar um termo racista direcionado a Lewis Hamilton, alegando que seus comentários não tinham intenção racista.
Piquet usou a expressão “neguinho” para se referir ao heptacampeão Hamilton ao abordar uma colisão envolvendo o britânico e Max Verstappen durante o Grande Prêmio da Inglaterra no ano passado.
O campeão mundial da F1 Fernando Alonso está de volta ao circuito e se preparando para o Grand Pix da Grã-Bretanha deste ano, que acontece neste domingo (3), mas as questões sobre corridas ficaram para segundo plano.
Questionado por Amanda Davies, da CNN Sport, sobre o quanto os comentários de Piquet afetam o esporte, o bicampeão mundial disse: “são prejudiciais e não há lugar no esporte para esses comentários”.
A F1, a equipe de Hamilton, a Mercedes, e a FIA, órgão regulador do automobilismo, repudiaram o insulto racista do brasileiro na terça-feira (28).
Enquanto isso, Hamilton, que tem o maior número de vitórias na história da F1, disse que “chegou a hora de agir” sobre o racismo e respondeu aos comentários de Piquet em uma série de postagens no Twitter, escrevendo: “Vamos focar em mudar a mentalidade”.
O brasileiro abordou seus comentários, que foram feitos em novembro do ano passado, mas só vieram à tona quando a entrevista foi divulgada na segunda-feira (27).
“O que eu disse foi mal pensado, e não faço defesa disso, mas vou esclarecer que o termo usado é aquele que tem sido amplamente e historicamente usado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo de ‘cara’ ou ‘pessoa’ e nunca teve a intenção de ofender”, defendeu.
“Nunca usaria a palavra de que fui acusado em algumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestão de que a palavra tenha sido usada por mim com o objetivo de menosprezar um motorista por causa de sua cor de pele”, acrescentou.
Alonso disse à CNN Sport que ele e sua equipe Alpine “estão com Lewis”, adicionando que nos últimos anos houve uma “grande mudança” em seu time para torná-lo mais inclusivo.
“O esporte deve ser um exemplo para nossa sociedade. E esta semana foi muito triste para o nosso esporte e vamos ver quais serão as ações após esses comentários”, pontuou.
“Acho que concordaremos com o que a FIA ou a FOM fizerem, mas acredito que há necessidade de alguma ação. Se for apenas mais um episódio, não há ação, acho que não é suficiente. Acho que precisamos nos afastar dessas pessoas e este é um exemplo perfeito”, observou.
Os comentários de Nelson Piquet vieram na mesma semana em que a Red Bull Racing rescindiu o contrato do piloto júnior Juri Vips após uma investigação sobre suposto uso de um insulto racista durante uma transmissão ao vivo.
O estoniano de 21 anos foi dispensado de todas as funções da equipe em 21 de junho e, após o incidente, Vips se desculpou e admitiu que a linguagem usada era “totalmente inaceitável” em um post em sua conta pessoal do Instagram.
Ainda assim, Alonso afirmou à CNN que viu muitas mudanças positivas no esporte durante seus 21 anos no paddock.
“Há muitas mulheres agora trabalhando na equipe, muitos designers e mecânicos talentosos. E temos todos os tipos de pessoas. Adoramos compartilhar a equipe com eles. E este é um esporte, como eu disse, [que] deve ser um exemplo para o nosso mundo”, explicou.
Retorno de Alonso à F1
O piloto de 40 anos está aproveitando seu retorno à F1, tendo se afastado da modalidade em 2018.
“Este ano, acho que estamos um pouco mais competitivos, o que também aumenta minha confiança”, disse o espanhol, que voltou no ano passado.
Alonso ficou em nono lugar no GP do Canadá da semana passada, depois de fazer sua primeira largada na primeira fila em 10 anos.
“Foi bom. Foi um momento muito especial, porque, depois que você volta à Fórmula 1, não é que você precise provar as coisas, mas é muita dedicação e sacrifícios que você faz para voltar e estar em forma novamente aos 40”, relatou à CNN.
“E quando você entrega um bom resultado é de alguma forma [um] alívio e prova de que você está trabalhando muito duro para obter esses resultados”, adicionou.
Como a maioria dos atletas, Alonso odeia perder, mas disse que sua perspectiva mudou durante sua segunda passagem pelo esporte: “Com o tempo, você percebe na Fórmula 1 que precisa ter o pacote para vencer. Não é só que um dia você tem uma inspiração estranha e entrega algo mágico”.
“Na Fórmula 1, a magia não existe muito. Você precisa do carro certo e do dia certo para se apresentar, então estou tentando construir com a Alpine aquele pacote e aquele carro capaz de vencer, mas estou gostando o processo de fazer isso. Não é uma frustração por não estar ganhando”, pontuou.
“Sinto falta de vencer. Sim, com certeza. Mas, felizmente, tive esse tempo fora da Fórmula 1 em que tentei diferentes categorias com resistência, com as 24 horas de Le Mans, Indy Car, Dakar, Daytona… todas essas categorias me trouxeram o sentimento de vitória novamente e eu estava no topo do pódio. E isso foi o suficiente, eu acho, para redefinir essas necessidades de vitórias”, complementou.
“E, agora, posso passar mais alguns anos tentando vencer a Fórmula 1”, finalizou o campeão mundial.