Análise: Com Finlândia e Suécia mais próximas da Otan, tiro de Putin sai pela culatra
Guerra parece ter unido o Ocidente contra Moscou de maneiras que pareciam inimagináveis em janeiro
Quando Vladimir Putin lançou sua invasão da Ucrânia, seus objetivos eram claros. Ele queria submeter seu vizinho, afirmar a autoridade russa na Europa Oriental e fazer o Ocidente pensar duas vezes antes de expandir militar e politicamente em direção às fronteiras da Rússia.
Mas em um aspecto importante, o plano de Putin parece ter falhado: a guerra uniu o Ocidente contra Moscou de maneiras que pareciam inimagináveis em janeiro.
Agora, Finlândia e Suécia — nações que não são oficialmente alinhadas — estão cada vez mais perto de se juntar à Otan, a aliança militar liderada pelos EUA.
Falando em uma coletiva de imprensa conjunta com seu colega sueco em Estocolmo nesta quarta-feira (13), a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin disse que a decisão de seu país sobre se candidatar à adesão será tomada dentro de "semanas, não em meses".
"Precisamos ter uma visão do futuro e estamos usando esse tempo para analisar e também construir visões comuns sobre o futuro quando se trata de segurança", disse Marin. "Não vou dar nenhum tipo de cronograma de quando tomaremos nossas decisões, mas acho que vai acontecer muito rápido. Dentro de semanas, não dentro de meses."
O governo finlandês apresentou um relatório abrangente ao parlamento do país na quarta-feira, que considerou os efeitos da adesão à Otan.
O relatório diz que se a Finlândia e a Suécia se tornarem membros de pleno direito da Otan, "o limiar para o uso da força militar na região do Mar Báltico aumentaria", aumentando "a estabilidade da região a longo prazo".
O relatório diz que o "efeito mais significativo" da adesão à Otan "seria que a Finlândia faria parte da defesa colectiva da Otan e estaria coberta pelas garantias de segurança consagradas no artigo 5º", acrescentando que o efeito dissuasor de ser membro da Otan seria ser "consideravelmente mais forte do que é actualmente, uma vez que se basearia nas capacidades de toda a Aliança.
O relatório adverte que, devido à "visão negativa da Rússia em relação ao alargamento da Otan", se a Finlândia se candidatar à adesão à Otan, deve estar preparada para "riscos difíceis de prever". Ele acrescenta que a Finlândia "teria como objetivo continuar a manter relações funcionais com a Rússia no caso de se tornar membro da Otan".
O jornal também observou que "uma cooperação estreita entre a Finlândia e a Suécia durante os possíveis processos de adesão seria importante" e que "processos de adesão simultâneos" para os dois países também poderiam "facilitar a preparação e a resposta à possível reação da Rússia".
A Suécia, por sua vez, deve concluir uma análise de sua política de segurança até o final de maio. Uma autoridade sueca disse anteriormente à CNN que seu país poderia tornar sua posição pública mais cedo, dependendo de quando a vizinha Finlândia o fizer.
Nesta quarta-feira, a primeira-ministra sueca Magdalena Andersson disse em entrevista coletiva que "o cenário de segurança mudou completamente" após a invasão da Ucrânia pela Rússia e "dada essa situação, temos que realmente pensar no que é melhor para a Suécia e nossa segurança e nossa paz nesta nova situação”.
"Este é um momento muito importante na história. Há um antes e um depois de 24 de fevereiro", disse Andersson, referindo-se à data em que a invasão russa começou. "Temos que ter um processo na Suécia para pensar nisso."
Andersson também foi convidada a comentar sobre reportagens na mídia sueca de que a Suécia já decidiu se juntar à aliança.
"Às vezes, se você ler algumas declarações na mídia sueca, é como se você devesse ser o mais rápido possível para se decidir", respondeu ela. "Acho que você realmente tem que analisar a nova situação, fazê-la com muita seriedade, pensar nas consequências, os prós e contras de todos os possíveis caminhos a seguir."
A opinião pública em ambos os países mudou significativamente desde a invasão, e os aliados e funcionários da Otan em geral apoiam a adesão dos dois países. A única objeção séria poderia vir da Hungria, cujo líder é próximo de Putin, mas oficiais da Otan acham que ela seria capaz de torcer o braço do primeiro-ministro Viktor Orban.
Dado que Putin começou sua guerra exigindo que a Otan voltasse suas fronteiras para onde estavam na década de 1990, o fato de isso estar sendo considerado representa um desastre diplomático para Moscou. E se a Finlândia em particular se juntar, Putin encontraria a Rússia de repente compartilhando uma fronteira adicional de 1335,76 quilômetros com a Otan.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou na segunda-feira que a expansão da Otan não traria mais estabilidade à Europa.
"Temos dito repetidamente que a aliança em si é mais uma ferramenta de confronto. Esta não é uma aliança que proporciona paz e estabilidade, e uma maior expansão da aliança, é claro, não levará a mais estabilidade no continente europeu", afirmou.
Rob Bauer, chefe do comitê militar da Otan, disse a repórteres na terça-feira (12) que a aliança não descartou novos membros, mas disse que em última análise cabe à Finlândia e à Suécia decidir se querem se juntar, informou a Reuters.
"É uma decisão soberana de qualquer nação que queira se juntar à Otan solicitar a adesão, o que eles não fizeram até agora... Não estamos forçando ninguém a entrar na Otan", disse Bauer.
A invasão de Putin também não motivou a Ucrânia a desistir de seu desejo de uma integração mais próxima com o Ocidente. Embora seja improvável que o país se junte à Otan, seus esforços para ingressar na União Europeia (UE) se aceleraram desde o início da guerra.
Isso levaria muito tempo e também poderia enfrentar forte oposição da Hungria, que já está em uma batalha desagradável com Bruxelas por suas violações do Estado de direito, fazendo com que a UE proponha a suspensão do financiamento central para Budapeste.
No entanto, mais uma vez, o fato de estar sendo falado e o nível de apoio entre os líderes e funcionários da UE é outra indicação de quão unido o Ocidente se tornou contra a Rússia.
Vale a pena notar que, desde o início da guerra, o Ocidente permaneceu amplamente unido em sua resposta à Rússia, seja por meio de sanções econômicas ou apoio militar à Ucrânia.
No entanto, existem alguns desafios que irão testar o quão unida esta aliança contra a Rússia realmente é.
Primeiro, se for descoberto que a Rússia usou armas químicas na Ucrânia, haverá uma enorme pressão para o Ocidente, particularmente a Otan, para assumir um papel ainda mais ativo na guerra — algo que a aliança tem relutado em fazer até agora.
Os membros da Otan já discutiram as linhas vermelhas e quais ações devem ser tomadas no caso de armas químicas, mas esses detalhes ainda são privados para impedir que a Rússia tome medidas preventivas de proteção.
No entanto, qualquer intervenção da Otan quase certamente levaria a uma situação de segurança menos estável na Europa, pois o Ocidente arriscaria um confronto militar com a Rússia — uma potência nuclear, que provavelmente responderia intensificando seus ataques à Ucrânia e possivelmente em outras áreas de influência russa tradicional.
Em segundo lugar, a crise do custo de vida em muitos países europeus poderá em breve testar a unidade das futuras sanções ocidentais à Rússia e embargos à energia russa.
Se, em última análise, a economia da Europa Ocidental for considerada mais importante do que responsabilizar a Rússia por travar uma guerra contra seu vizinho pacífico, Putin poderia, até certo ponto, se safar de invadir um país inocente.
Mas, por enquanto, como essa unidade se mantém em grande parte, está claro que o desejo de Putin de menosprezar a aliança ocidental saiu pela culatra — e que o homem forte garantiu o status de pária para sua nação, possivelmente nos próximos anos.
