Eleições argentinas: quem é Victoria Villarruel, vice na chapa do ultradireitista Javier Milei
Resultado das eleições primárias surpreendeu cientistas políticos e contrariou pesquisas eleitorais


Javier Milei foi a grande surpresa das eleições primárias na Argentina, tendo conquistando a maioria dos votos. Assim, ele e sua candidata a vice-presidente, a advogada Victoria Villarruel, disputarão a votação geral em 20 de outubro.
O nome de Villarruel foi confirmado para a chapa em maio deste ano. “Seu conhecimento sobre questões de segurança e defesa é impecável e poucas pessoas se igualam a ela, mesmo em discussões importantíssimas, tão contaminadas e sujas na Argentina, como o debate de direitos humanos”, disse Javier Milei à época.
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“Uma pessoa brilhante”, diz Milei
Victoria Villarruel tem 48 anos e, junto com o economista libertário, integra desde 2021 o bloco de deputados federais La Libertad Avanza, formado apenas pelos dois.
Ela se define como “uma profunda defensora da vida” e disse que revogaria a lei do aborto: “Foi desastroso para a República Argentina”.
Villarruel é filha e neta de militares. Seu pai, o tenente-coronel reformado Eduardo Marcelo Villarruel, morto em 2021, participou da Operação Independência, lançada em 1975 pelo governo de Isabel Perón para combater um foco guerrilheiro e que algumas organizações consideraram “o início da repressão clandestina”.
Posteriormente, ele participou da Guerra das Malvinas, em 1982, e foi o segundo no comando da Companhia 602, chefiada por Aldo Rico.
Desde 2006, Villarruel preside o Centro de Estudos Jurídicos sobre o Terrorismo e suas Vítimas (Celtyv). Esta associação, segundo seu site, zela pelas “vítimas inocentes do terrorismo das organizações guerrilheiras” nos anos 1970.
Em inúmeras ocasiões, a advogada criticou publicamente as políticas de direitos humanos das últimas décadas adotadas por diferentes governos. “Nem a Argentina está na vanguarda dos direitos humanos, nem as mães e avós são pombas brancas”, colocou.
Em seu trabalho legislativo, Villarruel promove o projeto de lei que visa estabelecer o “Dia Nacional das Vítimas do Terrorismo na Argentina”. Além disso, escreveu dois livros sobre o assunto: “Os outros mortos, as vítimas civis do terrorismo guerrilheiro dos anos 70” e “Os chamam de… jovens idealistas”.
Anos atrás, durante uma entrevista, perguntaram-lhe especificamente sobre o período da ditadura militar na Argentina e como ela classificava o golpe de 1976.
“Acho que a situação naquela época era realmente muito difícil, havia muitos ataques todos os dias, e sem justificar esta situação, a realidade é que os atentados terroristas começaram a diminuir e a população passou a estar mais protegida”, respondeu Villarruel.
“Na Argentina, se você defende certas ideias, você é satanás”, disse ela em outra entrevista.
Em 2019, a candidata a vice compartilhou uma conferência com líderes do partido de extrema-direita espanhol Vox, convocada sob o título “Os desafios da batalha cultural”.
Fotos: Veja quem são os candidatos à Presidência da Argentina
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Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina do La Libertad Avanza, foi o mais votado das eleições primárias. Suas principais propostas de campanha são a dolarização da economia argentina em etapas, a redução dos gastos estatais e a privatização de empresas públicas • Tomas Cuesta/Getty Images
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Patricia Bullrich superou o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, e foi a escolhida para concorrer à Presidência pela coalizão Juntos por el Cambio. Apesar de ainda não ter formalizado seu plano de governo, ela propôs algumas diretrizes em declarações: dolarização, medida contra inflação e luta contra greves e manifestações • Ricardo Ceppi/Getty Images
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O então ministro da Economia de Alberto Fernández, Sergio Massa, concorre agora à Presidênca pela Unión por la Patria. O equilíbrio fiscal, o superávit comercial, o câmbio competitivo e o desenvolvimento com inclusão são os eixos principais do seu plano de governo, conforme afirmou em um programa de televisão • Tomas Cuesta/Getty Images
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Juan Schiaretti cumpria seu terceiro mandato como governador de Córdoba e agora é candidato à Presidência da Argentina do Hacemos por Nuestro País. Ele defende um salário mínimo universal, a criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina, o cancelamento do atual acordo do país com o FMI e uma taxa permanente sobre grandes fortunas • Ricardo Ceppi/Getty Images
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Myriam Bregman, candidata à Presidência da Argentina da Frente de Izquierda y de Trabajadores – Unidad. Ela também defende o rompimento com o FMI e o não pagamento da dívida com o fundo. Além disso, ela propõe um programa "que a crise seja paga por quem a gerou" e a nacionalização dos bancos e do comércio exterior • Reprodução/Instagram
Após a reunião, Villarruel publicou uma nota em um meio de comunicação local, intitulada “As lições do Vox que os argentinos podem aprender”, na qual destacou “a defesa de valores e princípios” como “família, liberdade, direito à vida e propriedade privada”.
Além disso, afirmou que existe “um setor da sociedade que não tem representantes que contrariem o discurso politicamente correto cada vez mais totalitário”, algo que atribuiu a uma “história artificial” do kirchnerismo. Também repreendeu o que pontuou ser a falta de construção de uma “contra-narrativa” ao macrismo.
Ela também preside outra fundação, a Oíd Mortales. Um dos slogans que podem ser lidos em seu site é: “Faça a Argentina grande novamente”.
Sobre o casamento homoafetivo, a candidata destacou em uma entrevista que não se incomoda que homossexuais recebam o mesmo tratamento que heterossexuais.