"Éramos otimistas pela vontade e pessimistas pela razão", diz representação ucraniana brasileira

Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (24), o presidente da Representação Ucraniana Brasileira, Vitório Sorotiuk, pediu uma resposta veemente do governo e do povo brasileiro às agressões russas

Luana Franzão, da CNN*, Em São Paulo
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Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (24), o presidente da Representação Ucraniana Brasileira, Vitório Sorotiuk, declarou que, apesar de a invasão da Rússia na Ucrânia não fosse imprevisível, a comunidade ucraniana ainda tinha esperanças de que a situação fosse solucionada de forma pacífica.

"Nós éramos otimistas pela vontade e pessimistas pela razão, e a razão prevaleceu nessa tendência agressiva da Rússia com o povo ucraniano. Nós acordamos hoje – a humanidade, não só nós descendentes ucranianos – atônitos com a maneira como a Rússia tem rasgado a Carta das Nações Unidas, da qual tanto o Brasil, quanto a Ucrânia são fundadores em 1945", disse.

O descendente ucraniano disse que a organização já está se mobilizando para resolver a situação de brasileiros na Ucrânia e para realizar ações humanitárias. "Naturalmente nós vamos apelar para que o governo e o povo brasileiro organize ajuda humanitária à Ucrânia".

Sorotiuk afirmou que a comunidade ucraniana do Brasil gostaria de ver uma reação mais veemente do governo brasileiro sobre a agressão russa. Ele fez referência às declarações do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), apontando que preferiria se os discursos seguissem o padrão mais rígido.

"Eu espero que o Brasil siga de acordo com o Artigo 4 da nossa Constituição: o princípio da não intervenção, da defesa da paz, da solução pacífica dos conflitos, e não a guerra".

Vitório Sorotiuk revelou que esteve em uma reunião com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no dia 18 de dezembro, onde o líder afirmou que havia convidado o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) a visitar a Ucrânia, da mesma forma que visitou a Rússia e se reuniu com Vladimir Putin.

"Nós sugerimos a ele que fizesse como Boris Johnson, como Macron, como o primeiro ministro da Alemanha, que conversasse com Putin e com o presidente da Ucrânia", disse. "Nós somos contra que o Brasil venda carne e compre fertilizante [da Rússia]. Nós dissemos que o Brasil é um país, pela sua economia, pela sua cultura, e pela sua dimensão territorial e populacional, muito maior que um balcão de negócios para vender frango e comprar ureia".

Ele afirmou que a Representação Ucraniana Brasileira enviou uma carta ao presidente Jair Bolsonaro em 31 de janeiro pedindo atenção aos 600 mil descendentes de ucranianos que vivem no Brasil.

Sorotiuk finalizou relembrando o Memorando de Budapeste, assinado em 1994, onde a Ucrânia concordou em abrir mão de seu arsenal nuclear, quando era o terceiro país no mundo com a maior quantidade de armas atômicas.

"Os EUA, a Inglaterra, a Irlanda, a Rússia, a França a e China deram garantias de soberania e fronteiras à Ucrânia, e a Ucrânia entregou todo o seu arsenal nuclear, não ficou com uma bomba nuclear em seu território. E que garantias teve a Ucrânia abrindo mão de seu arsenal? Como a humanidade vai exigir que não exista disseminação de armas atômicas? Como é que vai exigir que Irã e Coreia do Norte não tenham bombas atômicas, se existe a possibilidade de um país que era o terceiro maior arsenal nuclear do planeta ser agredido dessa forma pela Rússia, que assinou o documento?", indagou.