Israel diz que está negociando acolhimento de palestinos com outros países

Segundo o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, nações buscam compensações financeiras e internacionais significativas em troca da recepção

Tal Shalev, Irene Nasser, Kathleen Magramo, Nadeen Ebrahim e Eugenia Yosef, da CNN
Palestinos se reúnem perto da passagem de Zikim, em Gaza, enquanto farinha e outros suprimentos essenciais são distribuídos em 8 de agosto  • Abaca Press/SIPAPRE/Sipa USA via AP via CNN Newsource
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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que há negociações em andamento com vários países sobre o acolhimento de palestinos deslocados pela guerra em Gaza.

Os países envolvidos são Sudão do Sul, Somalilândia, Etiópia, Líbia e Indonésia, informou uma autoridade israelense de alto escalão à CNN.

Em troca do acolhimento de parte da população de Gaza, de mais de dois milhões de pessoas, a autoridade disse que as nações buscam "compensações financeiras e internacionais significativas".

Na quarta-feira (13), o Sudão do Sul rejeitou uma reportagem da agência de notícias Associated Press de que estaria em discussões sobre o reassentamento de palestinos, afirmando em um comunicado que as reportagens eram "infundadas e não refletiam a posição oficial" do país.

No início deste ano, a Somalilândia também relatou que não houve tais negociações.

E na semana passada, a Indonésia afirmou estar pronta para acolher 2 mil palestinos de Gaza para tratamento, mas que eles retornariam a Gaza assim que se recuperassem.

Não está claro o quão avançadas essas discussões estão e se é provável que se concretizem.

Netanyahu nunca apresentou uma visão detalhada do que acontecerá com o território após a guerra, mas defendeu repetidamente o reassentamento de palestinos deslocados em outros países, especialmente depois que o presidente Donald Trump apresentou a ideia no início deste ano.

Mas, mesmo com o republicano parecendo estar esfriando a proposta, autoridades israelenses a acolheram.

Em entrevista publicada na terça-feira (12), o primeiro-ministro israelense afirmou: "Estamos conversando com vários países", sem nomeá-los.

Netanyahu afirmou na entrevista à rede israelense i24 que o plano "não era expulsar" os palestinos, mas sim "permitir que eles saíssem".

"Todos aqueles que dizem estar preocupados com os palestinos e querem ajudá-los", falou ele, deveriam "abrir suas portas".

"Por que eles estão vindo e nos pregando?! Abram suas portas", acrescentou.

Os comentários surgem em um momento em que o alarme internacional cresce sobre o plano declarado de Israel de tomar a Cidade de Gaza, lar de mais de um milhão de palestinos, incluindo muitos já deslocados pela guerra.

A cidade densamente povoada continua a ser atingida por ataques israelenses, com pelo menos 123 mortos em 24 horas em Gaza, segundo uma contagem feita na quarta-feira (13) pelo Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

Mais de cem organizações humanitárias, entretanto, pediram a Israel que ponha fim ao que chamaram de "militarização" da ajuda humanitária em Gaza, afirmando que ajuda vital não está sendo permitida enquanto o território está assolado pela fome.

Shaina Low, assessora de Comunicação do Conselho Norueguês para Refugiados, disse que quaisquer planos de realocação de palestinos, seja dentro de Gaza ou para países estrangeiros, são "inaceitáveis".

"Eles não são aceitáveis pelo direito internacional. Não são aceitáveis para os palestinos. E não deveriam ser aceitáveis para a comunidade internacional", afirmou Low à CNN.

Netanyahu e "Grande Israel"

Durante a entrevista, Netanyahu também foi questionado pela âncora da rede i24News, Sharon Gal, se o primeiro-ministro "se conecta" com a visão de um "Grande Israel", ao que ele respondeu: "Muito".

O termo “Grande Israel” refere-se a um Estado de Israel que está além das fronteiras existentes hoje. Também é frequentemente usado como referência ao Israel bíblico, que incluiria partes dos atuais Egito, Síria, Jordânia e Líbano.

Os comentários foram recebidos com declarações contundentes de vários Estados árabes, que condenaram o uso do termo como provocativo e contraproducente para a paz.

O Egito “exigiu esclarecimentos” sobre o uso do termo, “dadas suas implicações de provocar instabilidade e refletir uma rejeição à busca pela paz na região, bem como uma insistência na escalada”, segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

A Arábia Saudita afirmou que “expressa a rejeição veemente aos planos expansionistas e de assentamentos adotados pelas autoridades de ocupação israelenses”.

O Catar disse que o uso do termo é considerado “uma extensão da abordagem da ocupação baseada na arrogância, alimentando crises e conflitos e violando flagrantemente a soberania dos Estados”.

A conversa de Gal e Netanyahu sobre o “Grande Israel” não apareceu na entrevista completa do canal oficial, mas uma versão mais longa com os comentários de Netanyahu foi postada na conta de Gal no X.