Líder golpista do Níger se reúne com junta aliada do Grupo Wagner no Mali
Centenas de mercenários da empresa militar privada estão no país para reprimir insurgência que se forma em área onde as fronteiras Mali, Burkina Faso e Níger se encontram
O general Salifou Mody, um dos oficiais do Níger que tomou o poder no golpe militar na semana passada, visitou o Mali na quarta-feira (2), segundo a presidência do Mali, em meio a especulações sobre um possível interesse no grupo mercenário Wagner, que tem presença no país.
O presidente de transição do Mali, Assimi Goïta, recebeu Mody e uma grande delegação militar nigeriana na quarta-feira, de acordo com fotos e um comunicado publicado no Facebook pela presidência do Mali.
Mody chamou a reunião de “parte de um contexto regional complexo”, disse a presidência do Mali, e agradeceu às autoridades malianas “pelo apoio e acompanhamento desde a tomada do poder pelo CNSP”, referindo-se ao Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria, onde Mody é vice-presidente.
Centenas de contratados do Grupo Wagner estão no Mali a convite da junta militar do país, para reprimir uma insurgência islâmica que se forma em uma área onde as fronteiras do Mali, Burkina Faso e Níger se encontram.
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O chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, comemorou na semana passada o golpe no país da África Ocidental, dizendo que sua companhia militar privada também poderia ajudar em situações como a que está ocorrendo no Níger.
A dramática deposição do presidente do Níger, Bazoum, na semana passada, alarmou os líderes ocidentais, incluindo os EUA e a França, que são os principais interessados na repressão do Níger às insurgências islâmicas locais.
Autoridades americanas alertaram que o grupo mercenário russo pode agora buscar novas oportunidades no Níger. “Eu não ficaria surpreso em ver Wagner tentar explorar esta situação em seu próprio benefício, como eles tentaram explorar outras situações na África em seu próprio benefício”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matt Miller, na quarta-feira.
Miller acrescentou que “qualquer tentativa dos líderes militares no Níger de trazer as forças de Wagner para o país seria um sinal, mais um sinal de que eles não têm os melhores interesses do povo nigeriano no coração”.
Várias investigações da CNN e outras de grupos de direitos humanos estabeleceram o envolvimento e a cumplicidade do Grupo Wagner com atrocidades contra populações civis no Sudão, Mali e na República Centro-Africana, onde foram empregados para ajudar as forças de defesa locais contra rebeliões e insurgências, e reprimir a oposição.
Reação mista
O golpe provocou uma reação dividida dos países da região do Sahel, onde a ameaça de militantes extremistas nos últimos anos desestabilizou os governos locais e levou à volatilidade.
Na segunda-feira, os governos de Mali e Burkina Faso disseram que considerariam qualquer intervenção militar “um ato de guerra” contra eles e colocariam seus exércitos em alerta.
A declaração da presidência do Mali disse que o general Mody disse ao seu anfitrião que veio para explorar “maneiras e meios de fortalecer nossa cooperação em segurança, em um momento em que alguns países planejam intervir militarmente em nosso país”.
A declaração vem depois que a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) ameaçou no domingo usar a força se o presidente deposto do Níger, Mohamed Bazoum, não fosse reintegrado em uma semana.
A Cedeao também impôs a proibição de viagens e o congelamento de bens para os militares envolvidos na tentativa de golpe, bem como para seus familiares e civis que aceitarem participar de quaisquer instituições ou governos estabelecidos pelos oficiais.
Burkina Faso e Mali expressaram sua solidariedade com as autoridades nigerianas e disseram que não participariam de nenhuma medida da Cedeao contra o Níger, chamando as sanções de “ilegais, ilegítimas e desumanas”. A Guiné também expressou sua solidariedade com o Níger na segunda-feira.
(Tim Lister, da CNN, Christian Sierra e Jennifer Hansler contribuíram para este texto)