O que se sabe sobre a flotilha interceptada por Israel a caminho de Gaza

Dezenas de embarcações e passageiros, incluindo a ativista Greta Thunberg, tentavam levar ajuda humanitária a Gaza

Jack Guy, Billy Stockwell, Dana Karni, Abeer Salman e Lex Harvey, da CNN
Flotilha levando ajuda destinada a Gaza no mar perto da Grécia
Flotilha levando ajuda destinada a Gaza no mar perto da Grécia26/09/2025  • REUTERS/Stefanos Rapanis
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O exército de Israel interceptou dezenas de barcos que navegavam como parte de uma flotilha de ajuda humanitária em direção a Gaza, detendo dezenas de passageiros, incluindo a ativista climática sueca Greta Thunberg, e gerando condenação global.

A GSF (Flotilha Global Sumud) tentava romper o bloqueio israelense de 18 anos a Gaza e levar ajuda ao território devastado pela guerra usando navios que partiam de portos do outro lado do Mediterrâneo.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel informou que um último navio permanecia no local até a tarde desta quinta-feira (2).

“Um último navio desta provocação permanece à distância. Se se aproximar, sua tentativa de entrar em uma zona de combate ativa e romper o bloqueio também será impedida”, publicou o Ministério das Relações Exteriores no X.

Os organizadores da flotilha classificaram a interceptação dos navios por Israel como “um ataque ilegal” a agentes humanitários, enquanto Israel afirmou que os ativistas “não estavam interessados ​​em ajuda, mas em provocação”.

A interceptação da flotilha

Os primeiros navios foram interceptados e abordados pelas forças israelenses na noite de quarta-feira (1°), horário local, a cerca de quase 130 km de Gaza, segundo a GSF, que acusou Israel de atacar agressivamente suas embarcações.

A GSF informou no Telegram que uma embarcação foi "deliberadamente abalroada", enquanto outras duas foram "alvo de canhões de água". A agência publicou um vídeo que mostrava a embarcação Yulara sendo atingida por canhões de água, acrescentando que ninguém a bordo ficou ferido.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que várias embarcações foram "interrompidas com segurança", acrescentando posteriormente que os passageiros estavam sendo transportados para Israel, "onde seus procedimentos de deportação para a Europa começarão".

"Greta e seus amigos estão seguros e saudáveis", falou o ministério anteriormente no X, referindo-se a Thunberg, que pode ser vista sentada no chão cercada por militares em um vídeo que acompanha a publicação nas redes sociais.

A GSF chamou a interceptação dos barcos por Israel de "um ataque ilegal a humanitários desarmados".

A reação internacional contra as ações de Israel foi rápida, com manifestantes inundando as ruas na Itália e na Turquia e líderes estrangeiros expressando sua indignação.

As interceptações ocorrem poucos dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelar sua proposta de paz para encerrar a guerra em Gaza, juntamente com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Washington.

Quem está envolvido e quais são seus objetivos?

A flotilha é composta por mais de 500 participantes de dezenas de países com o objetivo de entregar alimentos, água e medicamentos a civis em Gaza, segundo os organizadores.

Segundo a Global Sumud Flotilla, pelo menos 13 brasileiros e um argentino residente no Brasil estavam entre as pessoas capturadas na quarta-feira (1°) por Israel.

O comboio partiu de Barcelona, ​​Espanha, em 31 de agosto e foi reforçado por outros navios ativistas de vários portos do Mediterrâneo à medida que se aproximava de Gaza.

Entre os participantes estão parlamentares da Espanha e da Itália, bem como Thunberg — que foi deportada de Israel em junho, depois que outro barco de ajuda humanitária com destino a Gaza em que ela se encontrava foi interceptado por Israel.

Quase dois anos após o início da guerra israelense no território, Gaza tem sido assolada por uma escalada de mortes e fome, enquanto Israel impede que a ajuda tão necessária chegue aos palestinos.

Em agosto, a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar, apoiada pela ONU, relatou que partes de Gaza estão passando por uma fome "provocada pelo homem".

James Smith, um médico britânico que já esteve na flotilha, falou que se juntou a eles para protestar contra "o cerco e bloqueio ilegal de Israel a Gaza".

"A flotilha está transportando ajuda humanitária, mas não é simplesmente humanitária", disse Smith a Lynda Kinkade, da CNN.

"É uma forma de ação direta, é uma forma de resistência anticolonial", disse Smith, que também trabalhou no hospital de Al-Aqsa, em Gaza, por 2,5 meses.

Como Israel respondeu à flotilha?

Horas antes da interceptação dos navios na quarta-feira (1°), o Ministério das Relações Exteriores de Israel informou que sua Marinha havia contatado a embarcação e "pedido que mudassem de curso".

"Israel informou à flotilha que está se aproximando de uma zona de combate ativa e violando um bloqueio naval legal", publicou o ministério no X. O "único propósito" da flotilha era "provocação", alegou.

O ministério havia dito anteriormente que havia oferecido repetidamente rotas alternativas para a ajuda entrar em Gaza, incluindo uma transferência pelo porto de Ashkelon, em Israel.

No entanto, os organizadores da flotilha relataram à CNN que "não aceitarão a oferta de fornecer a ajuda a ninguém além dos destinatários pretendidos, que são os civis em Gaza".

Na semana passada, a GSF afirmou que alguns de seus navios foram alvos de drones israelenses, levando Itália e Espanha a enviar navios para ajudar a flotilha.

O Exército israelense não respondeu a um pedido de comentário da CNN sobre os supostos ataques de drones, mas o Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou ter encontrado documentos em Gaza que "comprovam o envolvimento direto do Hamas" no financiamento e na execução da flotilha. O GSF rejeitou essas alegações como "propaganda".

Resposta internacional sobre a interceptação

Manifestantes pró-Palestina se reuniram na Itália, Turquia, Grécia, Tunísia e Argentina após as forças israelenses interceptarem os navios.

Na Itália, manifestantes foram às ruas em cidades como Roma, Pisa, Florença e Turim na noite de quarta-feira (1°), enquanto um importante sindicato italiano convocou uma greve geral nacional para próxima sexta-feira (3), envolvendo os setores público e privado, em solidariedade à flotilha e à população de Gaza.

O Ministério das Relações Exteriores da Turquia classificou a interceptação como um "ato de terrorismo" enquanto protestos eclodiam em Istambul.

O grupo Hamas a classificou como um "ataque traiçoeiro e um ato de pirataria".

Gustavo Petro, o presidente da Colômbia, classificou a interceptação como um "crime internacional" cometido por Netanyahu e afirmou que expulsaria diplomatas israelenses de seu país.

Petro também questionou o plano de paz de Trump para Gaza, chamando-o de "um plano de paz com pessoas já mortas de fome".

Após a interceptação, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, pediu às autoridades israelenses que garantissem a segurança dos participantes e "garantissem seu direito à proteção consular".

O Ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, declarou que "o assunto deve terminar sem danos", desde que ninguém "cometa erros".

Tajani afirmou que o governo israelense havia dado instruções claras aos seus militares: "Sem atos de violência contra as pessoas a bordo da flotilha".

O que aconteceu com as flotilhas de ajuda humanitária anteriores?

Ativistas estrangeiros tentaram entregar ajuda humanitária a Gaza no passado, mas foram interceptados por forças israelenses ou sofreram algum tipo de ataque.

Outro navio de ajuda humanitária com destino a Gaza, transportando Thunberg e outros ativistas proeminentes da Coalizão da Flotilha da Liberdade, foi interceptado por Israel em junho, com os passageiros detidos e posteriormente deportados.

Em maio, ativistas a bordo de um navio da FCC relataram ter sido alvos de um drone israelense em águas internacionais ao largo de Malta.

O exército israelense não negou envolvimento no ataque com drones e um avião de carga da Força Aérea foi detectado por rastreadores de voo que circulavam as águas perto de Malta por um longo período antes do suposto ataque, segundo o site de rastreamento de voos ADS-B Exchange.

Em um acontecimento anterior, forças israelenses atacaram uma flotilha de ajuda humanitária em águas internacionais em 2010, matando nove cidadãos turcos e gerando indignação em todo o mundo.

Uma décima pessoa morreu devido aos ferimentos sofridos no ataque em 2014, após passar quatro anos em coma.

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