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    Onda de calor na Europa e incêndios florestais são só o começo, alerta agência europeia

    Regiões nos EUA e China chegaram atingir até 52º C; especialista diz que políticas atuais no planeta levam a aquecimento de 2,7º C na temperatura até 2100

    Laura Paddisonda CNN*

    As temperaturas extremamente altas devem continuar em partes do sul da Europa nesta semana, enquanto o continente se prepara para sua segunda onda de calor extremo, colocando a saúde das pessoas em risco e preparando o cenário para incêndios florestais.

    A onda de calor “Cerberus” da semana passada está abrindo caminho para outra, que os meteorologistas italianos chamaram de “Charon” – o barqueiro da mitologia grega que transporta almas para o submundo.

    Itália, Espanha e Grécia já enfrentam calor implacável há dias, mas a Agência Espacial Europeia alertou que a onda de calor está apenas começando. Na Itália, que foi particularmente atingida, as temperaturas em muitas cidades devem subir acima de 40 graus Celsius.

    Hannah Cloke, cientista do clima e professora da Universidade de Reading, comparou o efeito ao de um forno gigante sobre o Mediterrâneo. “A bolha de ar quente que se inflou no sul da Europa transformou a Itália e os países vizinhos em um gigantesco forno de pizza”, disse ela em nota na segunda-feira (17).

    “O ar quente que veio da África agora está parado, com condições de alta pressão estabelecidas, o que significa que o calor no mar, terra e ar continua a aumentar”, explicou Cloke.

    O calor extremo está sendo sentido em todo o mundo, com o chefe da Organização Mundial da Saúde na segunda-feira instando os líderes mundiais a “agir agora” contra a crise climática.

    “Em muitas partes do mundo, hoje está previsto para ser o dia mais quente já registrado”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus em um tuíte na segunda-feira. “A #CriseClimática não é um aviso. Está acontecendo. Peço aos líderes mundiais para agirem agora”, disse ele também.

    As altas temperaturas atingiram 52,2 graus Celsius no domingo (16) no noroeste da China. Enquanto nos EUA, o Vale da Morte da Califórnia atingiu quase 52 graus Celsius no domingo.

    Turistas fogem do calor do verão na área de Nansha Scenic de Zhujiajian na cidade de Zhoushan, província de Zhejiang, na China. / Future Publishing/Getty Images

    Apenas o começo

    À medida que a crise climática causada pelo homem se acelera, os cientistas têm certeza de que eventos climáticos extremos, como ondas de calor, se tornarão mais frequentes e intensos. As temperaturas globais já subiram 1,2 grau Celsius em relação aos níveis pré-industriais devido à queima de combustíveis fósseis que aquecem o planeta.

    “Este é apenas o começo”, disse Simon Lewis, presidente de ciência da mudança global na University College London. “As políticas atuais em todo o mundo nos levam a atingir 2,7 graus Celsius de aquecimento até 2100. Isso é realmente assustador”, disse em nota.

    “Como os cientistas concordaram no ano passado: há uma janela de oportunidade que se fecha rapidamente para garantir um futuro habitável e sustentável para todos. Cortes profundos, rápidos e sustentados nas emissões de carbono para teto zero podem interromper o aquecimento, mas a humanidade terá que se adaptar a ondas de calor ainda mais severas no futuro”, disse Lewis.

    O mês passado foi o mês de junho mais quente já registrado no planeta por uma margem substancial, de acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia, acompanhado por temperaturas oceânicas recordes e níveis baixos recordes de gelo antártico.

    Esse calor sem precedentes continuou neste mês. A primeira semana de julho foi a mais quente já registrada, de acordo com dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial, colocando o planeta no que Christopher Hewitt, diretor de serviços climáticos da OMM, descreveu como “território desconhecido”.

    O calor extremo está entre os fenômenos climáticos mais mortais. Chris Hilson, diretor do Centro de Clima e Justiça da Universidade de Reading, observou que “reportagens de pontos turísticos como a Acrópole e Roma tendem a fazer com que esse evento climático extremo pareça apenas um inconveniente de férias de verão”.

    Pessoas se refrescam durante uma onda de calor contínua com temperaturas chegando a 40 graus, na Piazza del Pantheon, em 10 de julho de 2023 em Roma, Itália. / Antonio Masiello/Getty Images

    No entanto, disse ele, a realidade é que “essas ondas de calor geralmente levam a muitas mortes prematuras, especialmente entre os idosos”.

    “Esta é uma questão de justiça climática porque os danos climáticos, como o calor extremo, estão sendo sentidos de forma desigual”, disse Hilson, e “devemos garantir que continuemos a reduzir as emissões poluentes de dióxido de carbono para evitar que esses eventos se tornem ainda mais frequentes; mas as autoridades também precisam implementar medidas de adaptação de olho nesses danos sentidos de forma desigual”.

    Essas medidas incluem “zonas frescas ou centros de acolhimento com transporte para chegar lá, mais árvores em bairros residenciais relevantes e ar condicionado apropriado (e de preferência com energia renovável) em casas de repouso”, acrescentou Hilson.

    Temperaturas subindo na Itália, Grécia e Espanha

    À medida que um anticiclone de alta pressão avança do norte da África, espera-se que as temperaturas na Europa se aproximem ou até quebrem o recorde do continente de 48,8 graus Celsius estabelecido em 2021, de acordo com a ESA (European Space Agency), a agência espacial europeia.

    O pico do calor na Itália será entre segunda (24) e quarta-feira (26), de acordo com o serviço de notícias meteorológicas italiano Meteo.it, com temperaturas esperadas acima de 45 graus Celsius em algumas partes do país. As temperaturas permanecerão altas à noite, o que significa que haverá pouca pausa do calor.

    As autoridades italianas aconselham as pessoas a beber muita água, comer refeições mais leves e evitar a luz solar direta entre 11h e 18h.

    No período mais quente do dia, Acrópole teve seu acesso interrompido / Dimitris Lampropoulos/Anadolu Agency via Getty Images

    Na Grécia, onde as temperaturas subiram acima de 40 graus Celsius, as autoridades foram forçadas a fechar a Acrópole em Atenas, do meio-dia às 17h, horário local, na sexta-feira (14) e novamente no fim de semana.

    Na Espanha, as temperaturas nas cidades de Sevilha, Córdoba e Granada chegaram a 40 graus Celsius. Mesmo a região normalmente mais fria de Navarra, no norte do país, está experimentando até 40 graus Celsius.

    O calor também ajudou a preparar a terra para incêndios. Os incêndios florestais na ilha de La Palma, nas Ilhas Canárias, na Espanha, que começaram na manhã de sábado (15), queimaram 4.650 hectares, destruindo 20 casas e forçando a evacuação de emergência de milhares de pessoas, de acordo com uma reportagem da Reuters.

    Incêndios também começaram em Tenerife, outra das Ilhas Canárias, forçando cerca de 50 pessoas a evacuar e queimando cerca de 60 hectares.

    Na Grécia, mais de 500 bombeiros estão tentando controlar os quatro incêndios florestais. Na área de Loutraki – uma popular cidade litorânea no Peloponeso, ao sudoeste de Atenas – 1.200 crianças foram evacuadas de um acampamento de verão em meio a um incêndio florestal, disse o prefeito local Giorgos Gkionis à mídia grega. Uma casa de repouso também foi evacuada.

    Placa de uma farmácia exibe a temperatura durante um dia abafado em Roma, Itália, em 17 de julho de 2023. Roma, Bolonha e Florença estão entre as 16 cidades italianas para as quais as autoridades emitiram alertas vermelhos de clima quente / Riccardo De Luca/Agência Anadolu via Getty Images

    Enquanto isso, dois grandes incêndios florestais estão ocorrendo no sudeste e noroeste de Atenas. O maior dos dois começou após o meio-dia, horário local, na área de Kouvaras, no sudeste de Atenas, e se expandiu por mais de 11 quilômetros nas primeiras duas horas. Moradores de Kouvaras, bem como dos resorts próximos à beira-mar de Saronida, Anavyssos e Lagonisi receberam ordens de evacuação.

    Um incêndio também fechou na segunda-feira o aeroporto da cidade de Catania, na ilha italiana da Sicília, com voos suspensos até as 14h, hora local, na quarta-feira (19), de acordo com um post no Twitter das autoridades aeroportuárias.

    Os bombeiros controlaram o fogo e ainda não está claro se as altas temperaturas da região tiveram algum papel. Catania foi uma das várias cidades sob alerta vermelho de clima quente no domingo, de acordo a Reuters.

    *Com informações de Sugam Pokharel, Chris Liakos, Sharon Braithwaite, Angela Fritz, Al Goodman e Barbie Latza Nadeau.

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