Putin reconhece independência de duas áreas separatistas da Ucrânia
Assinatura do documento foi feita durante um pronunciamento televisionado nesta segunda-feira
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu a independência de duas áreas separatistas da Ucrânia. O anúncio foi feito através de um pronunciamento televisionado nesta segunda-feira (21).
"Considero necessário tomar uma decisão muito atrasada: reconhecer imediatamente a independência e a soberania da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk", disse Putin.
O presidente russo pediu à Assembleia Federal que apoie a decisão e, em seguida, ratifique os tratados de amizade e assistência mútua com ambas as repúblicas.
"E daqueles que tomaram e detêm o poder em Kiev, exigimos o fim imediato das hostilidades. Caso contrário, toda a responsabilidade pela possível continuação do derramamento de sangue será inteiramente da consciência do regime que governa o território da Ucrânia", continuou.
Antes de assinar o documento com a decisão e acordos de cooperação com as autodeclaradas repúblicas, ele afirmou mais uma vez que a situação no Leste da Ucrânia é crítica e que o país é parte da história da Rússia.
Durante o discurso, Putin também disse que a Ucrânia não conseguiu independência sozinha, mas que isso aconteceu pelo desmembramento da União Soviética.

"É importante entender que a Ucrânia nunca teve uma tradição consistente de ser uma nação de verdade. Começaram a copiar modelos estrangeiros que não faziam parte de sua cultura", disse o presidente russo.
Durante o discurso, Putin citou diversos momentos da história da União Soviética e da Ucrânia e complementou que "oligarcas gananciosos dividem a Ucrânia", com líderes corruptos que "embolsam dinheiro em detrimento do povo".
"Vamos começar com o fato de que a Ucrânia moderna foi inteiramente criada pela Rússia, mais precisamente, pelos bolcheviques, a Rússia comunista. Esse processo começou quase imediatamente após a revolução de 1917", disse.
Ele complementou dizendo que o país do Leste Europeu é uma "marionete dos EUA" e que, junto à Otan, transformaram a Ucrânia em um teatro de guerra.
O presidente da Rússia acusou ainda a Ucrânia de planejar criar suas próprias armas nucleares. "Se a Ucrânia tiver armas de destruição em massa, a situação global mudará drasticamente, não podemos ignorar isso", disse.
Uma das principais questões para a Rússia é a expansão da Otan. Putin afirmou que a Ucrânia se juntar ao bloco é uma ameaça e que foram igonoradas as preocupações de segurança levantadas por ele.
Horas mais tarde, a agência de notícias Reuters disse que Putin ordenou que seu Ministério da Defesa envie forças de paz russas para as regiões separatistas.
Repercussão internacional
Logo após a assinatura do documento que reconhece a independência das regiões de Luhansk e Donetsk por Putin, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que será necessário "aplicar o máximo de pressão contra a Rússia".
"Está ficando claro que precisaremos começar a aplicar o máximo de pressão possível, porque é difícil ver como essa situação vai melhorar", afirmou Johnson em coletiva de imprensa.
"Isso é claramente uma violação do Direito Internacional. É uma violação, uma violação flagrante da soberania e integridade da Ucrânia", complementou.
A ministra das Relações Exteriores britânica, Liz Truss, disse que sanções serão anunciadas nesta terça-feira (22), algo que, segundo ela, foi acordado com Josep Borrell, representante de Relações Exteriores da União Europeia.
Tomorrow we will be announcing new sanctions on Russia in response to their breach of international law and attack on Ukraine's sovereignty and territorial integrity.
— Liz Truss (@trussliz) February 21, 2022
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, conversou com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, após o discurso de Putin. Ele também informou que planeja falar com Boris Johnson e que convocou o conselho de segurança e defesa nacional.
Biden, horas mais tarde, assinou uma ordem executiva com sanções às regiões separatistas.
O presidente dos EUA também conversou por telefone com o chanceler alemão, Olaf Scholz, e com Emmanuel Macron, presidente da França.
Macron, por sua vez, disse no Twitter que "a Rússia está violando seus compromissos e minando a soberania da Ucrânia" e que convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU e sanções por parte dos países da Europa.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o ato é "uma violação flagrante do direito internacional, da integridade territorial da Ucrânia e dos acordos de Minsk" e que o bloco e seus parceiros vão "reagir com firmeza, união e determinação em solidariedade à Ucrânia".
The recognition of the two separatist territories in #Ukraine is a blatant violation of international law, the territorial integrity of Ukraine and the #Minsk agreements.
The EU and its partners will react with unity, firmness and with determination in solidarity with Ukraine.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) February 21, 2022
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou o reconhecimento da independência das duas repúblicas. "Isso corrói os esforços para resolver o conflito e viola os acordos de Minsk. A Otan apoia a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Instamos Moscou a parar de alimentar conflitos e escolher a diplomacia", pontuou.
I condemn #Russia recognition of Donetsk/Luhansk in #Ukraine. It erodes efforts to resolve the conflict & violates Minsk agreements. #NATO supports Ukraine sovereignty & territorial integrity. We urge Moscow to stop fuelling conflict & choose diplomacy. https://t.co/H4yczPG8XM
— Jens Stoltenberg (@jensstoltenberg) February 21, 2022
"Moscou continua a alimentar o conflito no leste da Ucrânia, fornecendo apoio financeiro e militar aos separatistas. Também está tentando construir um pretexto para invadir a Ucrânia mais uma vez", continuou o secretário.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que a Rússia violou a integridade territorial e a soberania da Ucrânia.
"As Nações Unidas, de acordo com as resoluções relevantes da Assembleia Geral, continuam apoiando totalmente a soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia, dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas", disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, em comunicado.
Mais tarde, em coletiva de imprensa, o porta-voz disse que a ação é inconsistente com os princípios da ONU e que o secretário-geral prioriza a diplomacia.
O primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, pediu que sejam aplicadas sanções contra a Rússia e a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que vão "reagir a essa violação do direito internacional e coordenaremos com nossos parceiros".
Outro presidente que condenou a decisão de Putin foi o presidente da Estônia. Pelo Twitter, Alar Karis disse que "estamos vendo uma escalada planejada e premeditada da Rússia" e que o país não é confiável.
A Turquia rejeitou a ação russa, o que considerou como "inaceitável". No Canadá, a condenação veio na mesma medida. A ministra de Relações Exteriores do país, Melanie Joly, disse que houve violação dos acordos de Minsk e que é uma ameaça à estabilidade da região. Ela disse ainda que, junto aos aliados, o país se prepara para impor sanções contra os russos - que são diferentes daquelas da ocasião de um ataque.
*com informações da Reuters e CNN Internacional