Rainha Elizabeth deixará de ser chefe de Estado de Barbados na próxima semana
Decisão marca a primeira vez em quase três décadas que um reino optou por remover a monarca do cargo


A rainha Elizabeth II terá um reino a menos a partir da próxima semana, quando Barbados, um país na América Central, romper seus vínculos imperiais finais com a Grã-Bretanha, removendo a monarca de 95 anos como chefe de Estado do país e se declarando uma república.
A ex-colônia britânica – que conquistou a independência em 1966 – reviveu seu plano de se tornar uma república em setembro, com a governadora-geral do país, Sandra Mason, dizendo: “chegou a hora de deixar totalmente para trás nosso passado colonial”.
O príncipe Charles estará presente no evento representando a Família Real. Herdeiro do trono britânico, ele é futuro chefe da Comunidade das Nações, uma organização de 54 membros, em sua maioria ex-territórios britânicos. Charles aceitou o convite da primeira-ministra Mia Amor Mottley para ser o convidado de honra nas celebrações de transição, segundo a Clarence House.
Mason, uma ex-jurista de 73 anos, fará o juramento como a primeira presidente da nação insular de quase 300.000 habitantes em uma cerimônia na noite de segunda-feira (29). O parlamento de Barbados a elegeu no mês passado.
“Tornar-se uma república é amadurecer”, disse Guy Hewitt, que serviu como alto comissário de Barbados no Reino Unido entre 2014 e 2018. “Eu faço a analogia de quando uma criança cresce e tem sua própria casa, tem sua própria hipoteca, devolve as chaves aos pais porque diz que está seguindo em frente”.
A decisão de Barbados marca a primeira vez em quase três décadas que um reino optou por remover a monarca britânica como chefe de estado. A última nação a fazer isso foi a ilha de Maurício, na África, em 1992. Como o outro país, Barbados também pretende permanecer membro da Comunidade.
Uma fonte real disse à CNN no ano passado que a decisão era assunto do governo e do povo de Barbados, acrescentando que ela não foi “inesperada” e foi “discutida publicamente” muitas vezes.
Passado colonial
A mudança ocorre quase 400 anos desde que o primeiro navio inglês chegou às ilhas mais ao leste do Caribe.
Barbados foi a colônia mais antiga da Grã-Bretanha, estabelecida em 1627 e “governada de forma ininterrupta pela Coroa Inglesa até 1966”, de acordo com Richard Drayton, professor de história imperial e global no Kings College London.
“Ao mesmo tempo, Barbados também forneceu uma importante fonte de riqueza privada para Inglaterra dos séculos 18 e 18″, disse ele, acrescentando que muitos fizeram fortunas familiares substanciais com o açúcar e a escravidão.
“Foi o primeiro laboratório do colonialismo inglês nos trópicos”, acrescentou Drayton, que cresceu no país.
“É em Barbados que os ingleses primeiro aprovam leis que distinguem os direitos das pessoas que eles chamam de ‘negros’ daqueles que não o são, e é a precedência estabelecida em Barbados em termos de economia e direito que então chegam a ser transferidos para a Jamaica, e as Carolinas e o resto do Caribe, junto com as instituições daquela colônia”.

Um debate de décadas
O rompimento entre Barbados e o Reino Unido estava em gestação há muito tempo, com muitos pedindo a remoção do status de rainha ao longo dos anos, de acordo com Cynthia Barrow-Giles, professora de governança constitucional e política da Universidade das Índias Ocidentais (UWI) em Cave Hill, Barbados.
Ela disse à CNN que o desejo de se tornar uma república tem mais de 20 anos e “refletiu a contribuição nas consultas de governança em toda a ilha e sua diáspora”.
“A conclusão então foi muito simples”, disse Barrow-Giles. “Barbados atingiu o estágio de maturidade em sua evolução política em que o que deveria ter sido parte integrante do movimento para a independência não era por razões pragmáticas. Cinquenta e cinco anos depois, esse fracasso é corrigido por uma primeira-ministra que está determinada a concluir o processo de construção de nação que obviamente estagnou nas últimas quatro décadas”.
Ela explicou que, embora a maioria dos barbadianos apoie a transição, tem havido certa preocupação com a abordagem dela.
Outros questionaram o prazo de pouco mais de um ano que o governo se deu para fazer a transição, alinhando o nascimento da República com o 55º aniversário da independência do país na terça-feira (30). Hewitt acredita que o governo de Mottley quis agir rapidamente para “tentar desviar a atenção do que é um momento muito difícil em Barbados”.
“O mundo sofre e luta contra a pandemia de Covid-19, mas para Barbados, com uma economia baseada no turismo, tem sido particularmente difícil”, disse ele. “Se você aceita a noção de uma república como um sistema dado ao povo, o desafio que enfrentamos é que não houve muita consulta sobre como se tornar uma república. Sim, estava incluído no discurso do trono. Mas o povo de Barbados não fez parte desta jornada”.
Ele acrescentou: “O que estamos lidando neste momento são apenas as mudanças cerimoniais e sinto que se estivéssemos realmente nos tornando uma república, deveria ter sido uma jornada significativa, onde o povo de Barbados estaria envolvido em todo o seu processo para realmente concretizá-lo”, acrescentou.
É um sentimento compartilhado por Ronnie Yearwood, um ativista e professor de direito no campus de UWI Cave Hill, em Barbados.
“O processo foi tão mal administrado que o governo decidiu que tipo de república iríamos nos tornar, sem me perguntar quanto eleitor, quanto cidadão: que forma de república você quer?”. O governo de Barbados “se concentrou no fim do jogo” em vez do processo de transição, um movimento que Yearwood descreveu como “retrógrado”.
Yearwood disse que ele e muitos outros sentiram que o governo deveria ter realizado um referendo público e se envolvido em um período mais longo de consulta pública antes de fazer a troca. “Se você vai fazer isso, você o faz de uma forma holística, remove tudo. Você não fragmenta a Constituição”, acrescentou.
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Ainda princesa, Elizabeth montando seu pônei em Winsor Great Park, em 1930 • Ann Ronan Pictures/Print Collector/Getty Images
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Retrato oficial do noivado entre a então princesa Elizabeth e o então tenente Philip Mountbatten, tirado em 1947 • Reuters
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Philip com Elizabeth no casamento deles, em 1947 • Foto: Topical Press Agency/Getty Images
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O rei George VI, a rainha Elizabeth e a princesa Margaret no aeroporto de Londres em 31 de janeiro de 1952 • Keystone/Getty Images
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Elizabeth II usou um longo véu logo após o falecimento de seu pai, o Rei George VI • Daily Mirror/Mirrorpix/Getty Images
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Rainha Elizabeth II e o duque de Edimburgo no dia de sua coroação, Palácio de Buckingham, 1953 • The Print Collector/Getty Images
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Rainha Elizabeth II a caminho de Westminster para presidir a primeira cerimônia de abertura de estado do Parlamento • Central Press/Getty Images
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A rainha Elizabeth II e o príncipe Philip fazem um piquenique com três de seus filhos fora de Balmoral em 1960 • Keystone/Getty Images
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Rainha Elizabeth II em visita na Torre de TV, em Brasília, em 1968 • Reprodução/Arquivo Público do Distrito Federal
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Rainha Elizabeth II e o Príncipe Philip deram os retoques finais em sua árvore de Natal no Castelo de Windsor em uma foto de um documentário de 1969 • Fox Photos/Getty Images)
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Ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan ri após uma piada da rainha Elizabeth II • Bettmann/Getty Images
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Rainha se dirige ao parlamento polonês em Varsóvia • Tim Graham Photo Library via Getty Images
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Philip, Elizabeth II e o filho deles, Edward, no 50º aniversário da rainha britânica • Bettmann - 20.abr.1976/Getty Images
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Rainha Elizabeth, ao lado do filho, o príncipe Charles • Rainha Elizabeth, ao lado do filho, o príncipe Charles, em Londres, Grã Bretanha. 14/10/2019. Victoria Jones/Pool via REUTERS/File Photo
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Rainha Elizabeth é vista dirigindo • Ben Cawthra/London News Pictures
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Meghan e Harry apresentam seu filho Archie aos bisavôs: Rainha Elizabeth II e Príncipe Philip • Foto: Getty Images
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Família real britânica acompanha desfile militar em homenagem à rainha Elizabeth da varanda do Palácio de Buckingham, em Londres • 02/06/2022 REUTERS/Hannah McKay
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Rainha Elizabeth II em Londres • Victoria Jones/ Reuters
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Jubileu da rainha Elizabeth, em Londres • Leon Neal/Pool via Reuters
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Rainha Elizabeth II recebe Liz Truss, nova primeira-ministra do Reino Unido • Jane Barlow/WPA Pool/Getty Images
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Rainha Elizabeth II observa o caixão de seu marido, príncipe Philip, em funeral no Castelo de Windsor, no Reino Unido • Dominic Lipinski/Pool via Reuters
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A Rainha Elizabeth II observa enquanto os o caixão do Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, é levado dentro da Capela de St. George no Castelo de Windsor, em 17 de abril de 2021 • Foto: Yui Mok
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Boneca Barbie da Rainha Elizabeth II marca o Jubileu de Platina da monarca britânica Mattel • Reuters
Outros países seguirão Barbados?
A primeira-ministra Mottley, que recentemente encantou líderes mundiais na cúpula do clima da COP26 em Glasgow, na Escócia, não precisou realizar um referendo público sobre o assunto para avançar com ele.
Em maio, seu governo criou um Comitê Consultivo de Transição de Status Republicano, um grupo de 10 membros encarregado de ajudar a administrar a transição de um sistema monárquico para uma república.
O único obstáculo foi garantir uma maioria de dois terços no parlamento, que foi um processo relativamente simples, já que seu partido detém a maioria desde sua vitória esmagadora nas eleições de 2018.
Barrow-Giles disse que o governo “foi capaz de determinar o que de legal e politicamente era necessário para mudar a Constituição”, acrescentando que a mudança de Barbados “é consistente com o caminho percorrido por outras jurisdições”.
“O fato de o príncipe Charles estar em Barbados para esta ocasião tão importante para o país é um testemunho da falta de oposição da família real à mudança e, essencialmente, um endosso à transição”, acrescentou ela.
Com uma divisão tão amigável, outras nações poderiam seguir o exemplo de Barbados, de acordo com Drayton. “Eu imagino que esta questão agora irá aguçar o debate na Jamaica, bem como em outras partes do Caribe”, disse ele.
“A decisão, de certa forma, não reflete nenhuma avaliação da Casa de Windsor. Acho que reflete mais um sentimento de que as pessoas de Barbados agora acham um pouco absurdo ter seu chefe de estado determinado pelas circunstâncias de nascimento em uma família que mora a 4.000 milhas de distância”.
Hewitt também antecipa que mais países podem optar por romper com a monarquia britânica, mas sugere que isso acontecerá depois que o reinado de Elizabeth II chegar ao fim “simplesmente porque a rainha é tida em alta consideração”.
“As pessoas veriam isso como um desprezo pessoal contra ela fazer isso agora. Mas eu sinto que, uma vez que a coroa passar, as pessoas sentirão que é a hora.”
*Texto traduzido. Clique aqui para ler o original, em inglês.