Tufão segue para o Vietnã após deixar rastro de destruição nas Filipinas

Pelo menos 114 pessoas foram mortas pela tempestade e outras 127 pessoas ainda estão desaparecidas

Helen Regan, da CNN
Imagens de drones sobre Cebu mostram casas arrasadas após a passagem do tufão Kalmaegi  • Reuters
Compartilhar matéria

O tufão Kalmaegi deixou um rastro de destruição ao passar pelo centro das Filipinas, reduzindo bairros inteiros a escombros e desalojando milhares de pessoas.

A tempestade foi o tufão mais mortal a atingir o país este ano, causando pelo menos 114 mortes, com 127 ainda desaparecidas — a maioria na província de Cebu, um importante destino turístico.

Os moradores começaram a tarefa de resgatar pertences em meio a destroços de suas casas destruídas, enquanto as águas da enchente recuam revelando uma devastação generalizada.

No entanto, o fenômeno ainda representa uma ameaça enquanto se move pelo Mar da China Meridional em direção à costa do Vietnã. A tempestade se intensificou, atingindo força equivalente a um furacão de categoria 4, e deve atingir o centro do Vietnã na quinta-feira (6) à noite — uma região que ainda não se recuperou das enchentes e deslizamentos de terra causados por semanas de chuvas recordes e sucessivas tempestades.

E logo após Kalmaegi, outra tempestade tropical, Fung-Wong – conhecida localmente como Uwan – deve se intensificar e pode se tornar um perigoso fenômeno de categoria 3 ou 4 durante o fim de semana, segundo o Centro Conjunto de Alerta de Tufões, ameaçando causar mais inundações e danos às regiões norte da ilha de Luzon, nas Filipinas.

Casas reduzidas a escombros

A dimensão do desastre na província mais atingida de Cebu e áreas vizinhas pegou muitos moradores e autoridades locais de surpresa.

Imagens de drone mostraram inundações catastróficas que transformaram ruas em rios, submergiram casas e viraram carros, enquanto o tufão Kalmaegi, conhecido localmente como Tino, despejou mais de um mês de chuva em apenas 24 horas em algumas áreas.

Na cidade de Talisay, fileiras de casas foram destruídas e comunidades ao longo do rio Mananga foram soterradas por lama e destroços. Em Cebu, carros arrastados pelas enchentes se acumularam nas ruas e casas. Equipes de resgate foram vistas atravessando águas na altura da cintura para resgatar moradores presos em telhados e casas submersas.

"Não temos mais casa. Não conseguimos salvar nada", disse Mely Saberon, 52 anos, moradora de Talisay, à agência de notícias Reuters. "Não esperávamos tanta chuva e vento. Já passamos por muitos tufões, mas este foi diferente"

"Nossas casas desapareceram". afirmou ela.

Outro sobrevivente na cidade de Cebu relatou que as águas da enchente "invadiram rapidamente" e eles não tiveram tempo de reunir seus pertences.

"Moro aqui há quase 16 anos e foi a primeira vez que enfrentei uma inundação assim", disse Marlon Enriquez, 58 anos.

O presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., declarou na quinta-feira (6) estado de calamidade nacional e prometeu manter as operações de socorro e resposta.

O tufão ocorreu pouco mais de um mês após um poderoso terremoto de magnitude 6,9 atingir Cebu, causando pelo menos 74 mortes e deixando milhares de desabrigados.

Por que a tempestade foi tão destrutiva e mortal?

As Filipinas não são estranhas a tufões, e o Kalmaegi atingiu o país com força equivalente a um furacão de categoria 2 – sendo a 20ª tempestade nomeada a impactar o país este ano, segundo autoridades locais.

Embora não tenha sido a tempestade mais forte do ano a atingir as Filipinas, seu movimento lento fez com que despejasse grandes volumes de água sobre cidades e municípios densamente povoados.

Autoridades informaram que a maioria das mortes ocorreu por afogamento, após a tempestade provocar enchentes repentinas e fazer com que os rios ultrapassassem seus níveis críticos.

As regiões próximas de Leyte e as partes norte de Mindanao, duas ilhas populosas no centro do país, registraram entre 150 e 250 mm de chuva em apenas 24 horas — muito acima da média mensal típica para novembro.

Em Cebu, o terreno acidentado canalizou a água diretamente para comunidades que não possuem drenagem adequada.

"A velocidade do vento é frequentemente o foco do público e é, de fato, como os meteorologistas categorizam esses sistemas, mas a água é quase sempre a principal causa de mortes", afirmou o meteorologista da CNN Taylor Ward.

O impacto da tempestade foi agravado por canais de água obstruídos em uma área já propensa a inundações e por uma aparente falta de compreensão dos alertas antecipados, disse Bernardo Rafaelito Alejandro IV, vice-administrador do Escritório de Defesa Civil das Filipinas, à mídia local.

"Precisamos verificar como emitimos nossos alertas antecipados e como transformá-los em ações", disse ele.

Alejandro também pediu a construção de sistemas de drenagem melhores e maiores, além de infraestrutura resiliente que possa resistir às ameaças de tempestades mais intensas alimentadas pelas mudanças climáticas.

"Precisamos repensar como construímos nossas megacidades e melhorar nossa resiliência", acrescentou.

As Filipinas são um dos países mais propensos a inundações da Ásia, mas este ano também está envolvido em um enorme escândalo de corrupção relacionado a projetos de controle de enchentes, que levou milhares de manifestantes às ruas.

Dezenas de parlamentares, senadores e empresas de construção foram acusados de receber propinas com dinheiro que deveria ser destinado à implementação de milhares de projetos de controle de enchentes.

O que acontecerá com o Kalmaegi?

O tufão Kalmaegi continua a se fortalecer enquanto se move em direção ao centro do Vietnã como uma tempestade poderosa com ventos de 215 km/h, segundo o JTWC.

O Vietnã está se preparando para ventos destrutivos, inundações, chuvas fortes e ressacas em suas províncias centrais, incluindo Danang, Quang Ngai e Dak Lak.

Cerca de 350 mil pessoas devem ser retiradas de casa na província de Gia Lai, segundo a Reuters.

O tufão chega enquanto a região ainda tenta se recuperar das devastadoras inundações da semana passada, que atingiram milhares de residências e submergiram locais históricos, incluindo a antiga cidade de Hoi An.

Normalmente lotada de turistas passeando por ruas iluminadas por lanternas, com suas icônicas casas de madeira e mercados movimentados, imagens mostraram Hoi An, cidade listada como Patrimônio Mundial da UNESCO, submersa em água e lama após chuvas recordes.

"Já presenciei muitas enchentes, mas esta é a pior que já vi", disse à Reuters Tran Van Tien, 60 anos, morador de Hoi An.

As recentes inundações no centro do Vietnã mataram pelo menos 13 pessoas, afetaram mais de 116 mil casas e 5 mil hectares de plantações, segundo a agência governamental de desastres, informou a Reuters. Estradas e ferrovias foram danificadas e o fornecimento de energia foi interrompido em várias áreas.

Crise climática potencializa tufões

O Pacífico ocidental é a bacia tropical mais ativa da Terra, mas as temperaturas globais dos oceanos têm atingido níveis recordes nos últimos oito anos.

Oceanos mais quentes, alimentados pelo aquecimento global, fornecem energia abundante para o fortalecimento das tempestades.

A crise climática está potencializando eventos de chuva - como os vistos no Vietnã e com o Tufão Kalmaegi - pois o ar mais quente pode reter mais umidade, que depois é despejada sobre vilas, cidades e comunidades.

Em setembro, o Tufão Ragasa trouxe ventos destrutivos e chuvas torrenciais para as Filipinas, Taiwan, Hong Kong e China continental, sendo a tempestade mais forte na região este ano.

Esse conteúdo foi publicado originalmente em
InternacionalVer original