“Cheiro da morte está no meu nariz”, diz fotógrafo sobre operação no Rio

Bruno Itan documentou a busca por corpos após a operação no Complexo do Alemão e da Penha, que deixou 121 mortos e foi considerada a ação mais letal da história do RJ

Ana Julia Bertolaccini, da CNN Brasil*, Thomaz Coelho, colaboração para a CNN Brasil*, em São Paulo
Compartilhar matéria

O fotógrafo Bruno Itan, que documentou a busca de corpos após a operação no Complexo do Alemão e da Penha, relatou à CNN Brasil como foi estar presente no local onde dezenas de corpos foram alinhados em uma lona na manhã de quarta-feira (29).

O cheiro dos corpos, do sangue, ainda está aqui no meu nariz. Eu vi muita gente morta lá dentro. Vi essa situação toda, os familiares chorando e a angústia das crianças. Se tem muita gente comemorando que a operação foi um sucesso, eu discordo, irmão.
Bruno Itan, fotógrafo no CNN Novo Dia

Bruno trabalha na área há 17 anos e fotografou operações como a de Jacarezinho, em 2021, que até então tinha sido a mais letal da história do Rio de Janeiro, mas que foi superada pela Operação Contenção em número de mortes. "Eu fotografei isso aqui desde ontem, sem se alimentar bem, sem se hidratar bem, porque eu vivo essa realidade", disse o fotógrafo.

Segundo à Defensoria Pública do Rio de Janeiro, foram contabilizadas as mortes de 128 civis e quatro policiais, totalizando 132 vítimas. O governo do Estado informou um número total de 121 mortos.

O fotógrafo também destacou que muitas vezes a população das favelas não recebe cursos profissionalizantes, lazer ou educação suficientes, o que, segundo ele, pode favorecer a entrada de jovens no crime organizado. "O próprio governo não oferece educação, lazer, cultura, um curso profissionalizante e oportunidade de trabalho. Muita gente entra na boca porque lá é pago. O cara oferece dinheiro e eles vão."

Durante a cobertura, Bruno presenciou as buscas pela identificação dos corpos, já que, segundo o relato do fotógrafo, haviam cadáveres completamente desconfigurados. "Nunca vi nada igual ao que está acontecendo aqui hoje, acabaram de chegar 57 corpos, que estão aqui, atrás de mim", afirmou ele durante o episódio.

*Sob supervisão de AR.