Senado cria comissão para investigar desaparecimento de jornalista e indigenista
Objetivo é que a comissão seja composta por nove membros titulares para, no prazo de 60 dias, acompanhar as buscas e investigar in loco as causas do desaparecimento
O plenário do Senado Federal aprovou nesta segunda-feira (13) a criação de uma comissão externa temporária para acompanhar buscas e investigar o desaparecimento do jornalista Dom Phillips, colaborador do jornal britânico The Guardian, e do indigenista Bruno Araújo Pereira na Amazônia.
A Polícia Federal (PF) confirmou que material encontrado durante as buscas, neste domingo (12), pertencia à dupla desaparecida. De acordo com nota enviada pela corporação, foram encontrados um cartão de saúde, uma calça, um chinelo e um par de botas pertencentes a Araújo; e um par de botas e uma mochila com roupas de Dom Phillips.
Não há, porém, até o momento, confirmação oficial da PF de que os supostos corpos de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira foram encontrados. A Embaixada britânica disse que, “infelizmente, não podemos comentar ou confirmar informações neste momento”.
A proposta de criação da comissão partiu do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição na Casa, que apresentou o requerimento no plenário do Senado nesta segunda. Na justificativa do requerimento, ele argumenta que “o caso não pode ser tratado com indiferença, sendo necessário o envio de todos os recursos possíveis para que o caso tenha uma rápida solução”.
URGENTE! O nosso requerimento foi aprovado e agora o Senado criará uma Comissão Externa para investigar caso de Dom Phillips e Bruno Pereira. A comissão também irá investigar outros casos de violência na Amazônia. Pedimos urgência (máx. 24h) na indicação dos membros da comissão!
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) June 14, 2022
Ele ressalta ser necessário se ter o esclarecimento “das causas do aparente crime, bem como de seus mandantes e executores, inclusive para que se tenham subsídios suficientes para evitar, de uma vez por todas, que o exercício da proteção ao meio ambiente e às minorias e que o exercício do jornalismo deixem de ser atribuições de risco no Brasil”.
A ideia é que a comissão seja composta por nove membros titulares para, no prazo de 60 dias, acompanhar as buscas e investigar in loco as causas e as providências adotadas diante do desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira, inclusive servindo como subsídio para eventual pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
A data da eventual viagem do colegiado ao Amazonas deve ser definida posteriormente.
Randolfe informou à CNN que devem participar da comissão, além dele próprio, os presidentes da comissão de Direitos Humanos, Humberto Costa (PT-PE), de Meio Ambiente, Jaques Wagner (PT-BA), e Fabiano Contarato (PT-ES), entre outros.
O autor do requerimento quer que os membros da comissão sejam indicados pelos líderes partidários em até 24 horas e disse que deverão investigar também outros casos de violência na Amazônia.
Mais cedo, também no plenário, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que, “caso se confirme o fato de terem sido eventualmente assassinados, caso isso se confirme, é uma situação das mais graves do Brasil”.
“De fato, não por esse acontecimento apenas, mas por todo o contexto de um estado paralelo que se impõe no lugar e que, infelizmente, o Estado Brasileiro não consegue preencher suficientemente, é motivo de alerta e reação do Senado Federal”, declarou.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa informou à reportagem que o colegiado também deve votar medidas relacionadas ao desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira na próxima quarta-feira (15).
A CDH e a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) devem ainda se “organizar para poderem se fazer presentes e identificar quais os reais problemas e diagnosticar esses problemas”, indicou Pacheco, ao negar ainda que a iniciativa tenha motivação política contra o atual governo federal.
Procurado pela CNN, o Itamaraty informou que por meio da Embaixada em Londres, tem “mantido permanente contato com familiares do jornalista Dom Phillips, neste momento de aflição, para afiançar-lhes o máximo engajamento do governo brasileiro, em suas distintas instâncias, na apuração do caso”.
“No mesmo sentido, na medida de sua competência, a Embaixada tem trabalhado para mantê-los informados de quaisquer desdobramentos nas investigações em curso, com o tratamento reservado que deve ser conferido sempre a situações que envolvam vidas humanas”, afirmou.
O Itamaraty sugeriu que as “consultas sobre os pormenores da investigação em si” sejam encaminhadas aos órgãos a cargo das diligências.
O comitê de crise, coordenado pela Polícia Federal informou que as buscas nesta segunda foram realizadas até às 18h (horário de Brasília), mas nada foi encontrado.
“Além dos esforços concentrados no referido local, as buscas continuaram em outras áreas do Rio Itaquaí e as investigações continuam sendo realizadas de forma técnica, sem que esforços materiais e humanos sejam poupados para a completa elucidação dos fatos”, disse, em nota.
“Quanto ao material orgânico aparentemente humano e as amostras de sangue anteriormente coletados, informa-se que a perícia está sendo realizada e o resultado deverá sair no decorrer dessa semana. Os órgãos federais e estaduais reforçam que não há nada mais importante do que a busca pelos senhores Bruno Pereira e Dom Phillips e reiteram a esperança de encontrá-los”, completou.