Baixada Santista: MP denuncia PMs por atirarem em motoboy nu e desarmado

Caso ocorreu durante a Operação Escudo, deflagrada após morte de soldado da Rota; ação terminou com 28 mortos em 2023

Bruna Lopes, da CNN*, Felipe Souza, da CNN, em São Paulo
Operação Escudo teve início após a morte de um soldado da Rota
Operação Escudo teve início após a morte de um soldado da Rota  • Rovena Rosa/Agência Brasil
Compartilhar matéria

O MPSP (Ministério Público de São Paulo) apresentou, nesta segunda-feira (16), denúncia contra os quatro policiais militares acusados de tentar matar um motoboy em 2023, durante a Operação Escudo, no Morro do José Menino, em Santos, no litoral paulista.

De acordo com o inquérito policial, durante patrulhamento na região, os soldados Thiago Freitas da Silva, Daniel Pereira Noda, Carlos Vinicius Batista Bruno e Lucas Matias dos Santos avistaram Evandro Alves da Silva, que estava nu e desarmado, por uma janela do imóvel onde ele trabalhava.

Ele foi atingido por disparos enquanto estava dentro do local.

Ao tentar escapar, Evandro pulou da janela do banheiro, de uma altura de cerca de sete metros. Após a queda, ele foi novamente alvejado.

Em depoimento, os policiais afirmaram que a vítima estaria armada dentro do imóvel. No entanto, a análise das COPs (câmeras operacionais portáteis) utilizadas pelos militares desmentiu essa versão.

As imagens mostraram que Evandro não portava nenhuma arma de fogo no momento da abordagem.

A CNN entrou em contato com o Tribunal de Justiça para saber se a denúncia já foi aceita e aguarda retorno.

Operação Escudo

A Operação Escudo foi deflagrada pelo governo estadual na Baixada Santista após a morte do policial militar Patrick Bastos Reis, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), em 27 de julho de 2023. À época, o governo afirmou que a iniciativa tinha como objetivo intensificar o combate ao tráfico de drogas na região.

A ação resultou na morte de 28 pessoas.

Marcada por denúncias de execuções, a operação foi alvo de críticas de entidades de defesa dos direitos humanos, que passaram a questionar a legitimidade da atuação. As autoridades, por outro lado, sustentaram que os mortos tinham vínculos com a criminalidade.

Apesar da pressão para que fosse encerrada, a ação prosseguiu e, posteriormente, ganhou o nome de Operação Verão.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos publicou um relatório apontando violações cometidas na ação. Segundo o documento, familiares e pessoas próximas às vítimas apresentaram versões diferentes das registradas pela Polícia Militar.

Outro levantamento, feito pela Defensoria Pública de São Paulo, mostrou que 90% das prisões em flagrante não resultaram na apreensão de armas. O relatório também destacou que 60% dos detidos eram pardos.

*Sob supervisão de Carolina Figueiredo