Acidente com balão em SC não foi causado por ação humana, diz polícia
Inquérito apontou que o conjunto de provas não identificou falhas técnicas, negligência do piloto ou qualquer outro fator humano que pudesse ser considerado causa direta do incêndio em voo
A Polícia Civil concluiu que o incêndio que provocou a queda de um balão de ar quente em Praia Grande, no sul do estado, não teve origem em ação humana. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (8).
O inquérito foi encerrado sem indiciamentos, pois as perícias e depoimentos não comprovaram conduta dolosa ou culposa que tenha causado o acidente, ocorrido junho de 2025, que deixou oito mortos e 13 sobreviventes.
O relatório final, assinado pelo delegado Rafael de Chiara, apontou que o conjunto de provas não identificou falhas técnicas, imperícia ou negligência do piloto, nem qualquer outro fator humano que pudesse ser considerado causa direta do incêndio em voo.
"Os elementos colhidos não permitem afirmar que houve crime”, disse a Polícia, em nota.
O acidente
O balão, operado pela empresa Sobrevoar Serviços Turísticos, decolou na manhã do dia 21 de junho, com 21 pessoas a bordo, incluindo o piloto, Elves de Bem Crescêncio.
Poucos minutos após a decolagem, um fogo começou no cesto, supostamente em um maçarico auxiliar, usado para acionar a chama principal do balão.
Conforme o depoimento do piloto, o equipamento pode ter caído de uma mala e sido acionado acidentalmente. Ele tentou apagar as chamas com o pé e com um extintor, que, segundo relatos, não funcionou. Com o incêndio se espalhando rapidamente, iniciou uma descida de emergência e orientou os passageiros a saltarem quando o balão se aproximasse do solo.
Treze pessoas conseguiram pular, mas a perda de peso fez o balão subir descontroladamente. As chamas atingiram o tecido principal (envelope), o cesto se desprendeu e caiu, matando os oito passageiros que ainda estavam a bordo. Quatro morreram devido à queda e outras quatro foram carbonizadas.
Vítimas e resgate
As vítimas eram turistas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que aproveitavam o feriado de Corpus Christi. Entre elas estavam o médico oftalmologista Andrei Gabriel de Melo, o casal Everaldo e Janaina da Rocha, a engenheira Juliane Jacinta Sawicki e o patinador Leandro Luzzi.
Equipes do Corpo de Bombeiros e do SAMU socorreram os sobreviventes. Cinco pessoas foram levadas ao Hospital Nossa Senhora de Fátima, com queimaduras leves e escoriações. Nenhuma correu risco de vida.
Contexto e repercussão
O acidente em Praia Grande foi o terceiro envolvendo balões em menos de uma semana no país. Em 15 de junho, um balão com 35 pessoas caiu em Capela do Alto (SP), deixando um morto e 11 feridos. Quatro dias depois, outro balão caiu em Maresias (SP), sem feridos.
Na época, autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador Jorginho Mello (SC) e o ministro da Saúde Alexandre Padilha manifestaram solidariedade às famílias das vítimas. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também colocou as forças estaduais à disposição para apoiar o resgate.
A empresa Sobrevoar suspendeu temporariamente suas atividades e divulgou nota lamentando o acidente, afirmando cumprir todas as normas de segurança aplicáveis. Os voos turísticos foram retomados no município em 2 de julho, após recomendação de luto e revisão de protocolos.
A investigação
Durante o inquérito, a Polícia Civil ouviu mais de 20 pessoas, entre sobreviventes, testemunhas, representantes da empresa e da fabricante do balão. A Polícia Científica realizou uma reconstituição simulada em 26 de junho e periciou o maçarico auxiliar e o extintor de incêndio.
Os laudos técnicos, que incluíram exames de engenharia, perícia de local, necropsias e identificação das vítimas, descartaram indícios de sabotagem, falha mecânica intencional ou erro humano. O incêndio foi classificado como acidental e de causa indeterminada.
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O piloto, segundo a ANAC, não possuía licença de PBL (Piloto de Balão Livre), exigida para voos comerciais, e a aeronave não era certificada para transporte de passageiros. No país, atualmente, não há balões autorizados para essa categoria.
O advogado do piloto afirmou, contudo, que ele é instrutor de voo, tem cadastro ativo na ANAC e mais de 700 horas de experiência. As aeronaves da empresa, segundo a defesa, estariam regularmente registradas como desportivas.