Após derrota de MP, Lula diz que governo pensará como taxar fintechs

Presidente declarou estar "muito triste" com o destino de Medida Provisória alternativa à cobrança do IOF e enfatizou que sistema financeiro precisa "pagar o devido imposto a esse país"

Lucas Schroeder, da CNN Brasil, São Paulo
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  • Ricardo Stuckert/PR
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Um dia após a MP (Medida Provisória) com alternativas ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) perder validade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quinta-feira (9), que o governo debaterá a partir da próxima semana propostas para taxar as fintechs.

Em entrevista à Rádio Piatã na manhã de hoje, Lula relatou ter telefonado aos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, depois de o plenário da Câmara dos Deputados ter retirado de pauta, na tarde de quarta (8), a MP que renderia R$ 17 bilhões aos cofres da União.

"Eu liguei para o Haddad, para a Gleisi e falei: 'Vamos relaxar, não vamos perder o nosso final de semana discutindo o que aconteceu no Congresso Nacional'. Eu volto quarta-feira para Brasília [após viagem à Itália] e, aí sim, vou reunir o governo para discutir como vamos propor que o sistema financeiro, sobretudo as fintechs — porque tem fintechs maiores que bancos —, paguem o devido imposto a esse país", disse o presidente.

Em outro momento, Lula declarou estar "muito triste" com a decisão da Câmara de deixar caducar a MP. Segundo o chefe do Planalto, o movimento dos parlamentares não impôs uma derrota ao governo, mas sim ao povo brasileiro.

"Eu fico muito triste, porque ontem o Congresso Nacional poderia ter aprovado para que os ricos pagassem um pouco mais de imposto. É engraçado, porque o povo trabalhador paga 27,5% do seu salário, e os ricos não querem pagar 18%", enfatizou Lula. "Eles acham que votaram e derrotaram o governo, mas derrotaram o povo brasileiro, a possibilidade de melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro tirando mais dinheiro dos ricos e distribuindo para os pobres", concluiu.

O presidente segue para a Bahia, onde cumpre agenda nas cidades de Camaçari e Maragogipe, antes de partir para São Paulo no início da noite.

MP renderia R$ 17 bilhões ao governo

A aprovação da MP era considerada essencial pela equipe econômica e renderia cerca de R$ 17 bilhões aos cofres do governo federal em 2026, ano eleitoral. A proposta alteraria regras de tributação sobre investimentos, fintechs e compensações tributárias.

Para facilitar a votação, o relator da proposta, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), flexibilizou o texto original do governo em diversos pontos e atendeu a demandas de parlamentares ligados ao setor produtivo, principalmente ao agronegócio. Governistas, entretanto, reclamam que o acordo foi quebrado.

Além disso, o ministro da Fazenda se envolveu diretamente nas negociações e nas tentativas de convencimento. Ele chegou a se reunir com Lula e com líderes do Congresso para tratar da MP.

(Com informações de Gabriel Garcia e Mateus Salomão)