Barroso pede desculpas a Maria da Penha em nome do Estado brasileiro

Presidente do STF diz que Justiça “falhou, foi tardia e, possivelmente, insuficiente” no caso

Daniel Trevor e Lucas Mendes, da CNN, Brasília
Lei Maria da Penha completa 18 anos nesta quarta-feira (7)  • 05/06/2024 - Andressa Anholete/SCO/STF
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O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Roberto Barroso, fez nesta quarta-feira (7) um pedido de desculpas à farmacêutica e ativista Maria da Penha em nome do Estado brasileiro e do Judiciário.

Conforme o magistrado, a retratação faz parte do acordo assinado pelo Brasil no processo em que foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

O país foi considerado omisso no caso relacionado aos atentados e agressões contra Maria da Penha pelo seu então marido.

“Em nome da Justiça brasileira, é preciso reconhecer que no seu caso, ela [Justiça] tardou e foi insatisfatória. E, portanto, nós pedimos desculpas em nome do Estado brasileiro pelo que passou e pela demora em punir os culpados”, afirmou durante abertura da 18ª Jornada Lei Maria da Penha, em uma escola da região administrativa Sol Nascente, a cerca de 35 quilômetros do centro de Brasília.

Em entrevista a jornalistas depois do evento, Barroso disse que fez o pedido de desculpas em cumprimento do acordo assinado pelo Brasil e “um pouco por dever moral”.

"O caso dela chegou à CIDH, houve o reconhecimento de que o Estado brasileiro foi omisso, tanto na prevenção quanto na punição dos crimes que ela [Maria da Penha] sofreu e, no acordo que o Brasil fez com a comissão, se previu uma retratação que, em rigor, que eu saiba nunca havia sido feita”, declarou.

A Justiça, infelizmente nesse caso, falhou, foi tardia e, possivelmente, insuficiente. Quanto acontece alguma coisa errada na vida a gente deve reconhecer e pedir desculpas”.

A lei que trata do combate à violência doméstica contra mulheres e leva o nome de Maria da Penha completa 18 anos nesta quarta (7).

Entenda

Maria da Penha ficou paraplégica em decorrência de duas tentativas de assassinato cometidas por seu então marido, o colombiano Marco Antonio Heredia Viveros.

Em 1983, Viveros tentou matá-la duas vezes. Primeiro, atirou em suas costas enquanto ela dormia, simulando um assalto. Em consequência, ela perdeu o movimento das pernas. Depois, tentou eletrocutá-la durante o banho. Com a ajuda de amigos, ela conseguiu sair de casa e passou a lutar para que o agressor fosse condenado.

Recentemente, após ameaças, a farmacêutica e ativista foi incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Ceará. A medida foi solicitada pela ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.