Eleições 2022

Candidaturas LGBT+ crescem 94% nas eleições de 2022, aponta ONG

Levantamento identificou 214 pedidos de registros de candidaturas deste público na Justiça Eleitoral

Gabriela Ghiraldelli, da CNN, em São Paulo
Compartilhar matéria

Um levantamento da VoteLGBT+, uma organização não-governamental que atua para aumentar a representatividade de pessoas LGBT+ na política, mapeou 304 pedidos de registros de candidaturas desse público nas eleições de 2022.

A quantidade representa um aumento de quase 94% em relação às eleições de 2018. Quatro anos atrás, a ONG identificou 157 candidaturas LGBT+. Esta sigla, que norteou o levantamento, abrange lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e outros grupos como assexuais e não-binários, por exemplo.

O prazo para os partidos registrarem os pedidos de candidaturas na Justiça Eleitoral para as eleições deste ano terminou em 15 de agosto.

Para chegar ao número de candidaturas, a ONG criou um cadastro para os candidatos interessados. Este questionário também foi enviado aos partidos. A ONG ainda fez levantamentos sobre as convenções partidárias que aprovaram as candidaturas.

A confirmação do número final de candidatos foi feita de acordo com a checagem dos pedidos de registros feitos que aparecem no sistema DivulgaCand do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Candidatos que são LGBT+ mas que não demonstraram interesse em participar do levantamento da ONG ficaram de fora da lista de 304 postulantes.

No registro de candidatura, o TSE não questiona a orientação sexual dos candidatos e só possui as opções “masculino” e “feminino”, além de “não divulgável”, no tópico referente a gênero.

Existe, porém, a possibilidade de solicitar o registro da candidatura usando o nome social. De acordo com os dados do tribunal, 34 pessoas optaram por essa opção neste ano.

Confira dados que o estudo da Vote LGBT+ mostrou:

  • 58% das candidaturas LGBT+ deste ano são negras; 27%, trans; e 18% estão presentes em candidaturas coletivas. Além disso, 30,7% se declararam gays; 30,4%, bissexuais; e 23%, lésbicas.
  • São Paulo e Minas Gerais são os estados com maior número de candidaturas LGBT+, com 58 e 28, respectivamente. Rondônia não tem nenhum candidato.
  • Por região, o Sudeste tem mais candidaturas: 113 registros, seguido do Nordeste, com 69. O Norte tem o menor número, com 21 candidatos.
  • A maior parte dos candidatos LGBT+ tenta vaga de deputado estadual, com 182 registros, e deputado federal, com 112.
  • O PT e o PSOL são os partidos com mais candidaturas do tipo, com 67 e 100, respectivamente.
  • Quanto ao grau de instrução, 40 candidatos têm Ensino Médio completo, e 189 têm o superior completo.

A presença LGBT na política

Segundo a pesquisadora Evorah Cardoso, da VoteLGBT+, uma das dificuldades da ONG em levantar os dados estava no fato de que muitas candidaturas não eram declaradas ― exceto por figuras como o ex-deputado federal Jean Wyllys.

“O que a gente fez, nesse início, foi procurar alguma coisa nas redes sociais das candidaturas, no Facebook, que indicasse que ela era pró-LGBT”, explica a pesquisadora.

Segundo ela, a organização levou em consideração a autodeclaração de gênero de sexualidade e raça. Essas informações estavam no questionário disponibilizado no site da ONG.

“A gente foi até Brasília conversar com o ministro Edson Fachin [ex-presidente do TSE] a respeito disso, de que precisaria passar a ser um tipo de dado levantado oficialmente pela Justiça Eleitoral. O problema é que eram sempre informações de terceiros. Então, era alguém dizendo que aquela pessoa era LGBT. Você tinha que ficar checando ali se essa pessoa é ou não é. Não faz sentido isso”, diz Evorah.

À CNN, a pesquisadora se disse feliz com o resultado, mas reforça que é papel do Estado fazer esse mapeamento. “A Justiça Eleitoral, na categoria gênero, ainda trabalha só com o quesito feminino e masculino. Então ela não pergunta se a pessoa é trans, se ela é não-binária.”

“A gente sabe que isso é uma responsabilidade do Estado. O Estado que tem que produzir dados, a gente faz esse esforço na verdade para também tentar pressionar o Estado para que ele produza essas informações”, complementa.

Fotos - Os candidatos a vice-presidente em 2022