Fiocruz avalia vacinação em massa de adolescentes da Maré, no Rio
Pesquisa realizada no conjunto de favelas vai levantar dados sobre avanço de variantes, efetividade de imunizantes e efeitos do coronavírus em crianças
A vacinação em massa na Maré, o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, pode ganhar uma segunda etapa. A Fiocruz avalia imunizar os mais de 12,6 mil adolescentes que moram nas 16 comunidades do complexo, assim como já aconteceu no experimento realizado na Ilha de Paquetá, na Baía de Guanabara. Lá, as pessoas de 12 a 17 anos vão receber a segunda dose do imunizante da Pfizer no próximo domingo (15).
Coordenador do projeto Vacina Maré, o pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza explicou que a imunização dos adolescentes ainda é analisada, com a possibilidade da aplicação de doses de Oxford-Astrazeneca, produzidas pela Fundação Oswaldo Cruz, que ainda precisam de autorização da Anvisa para menores de idade. Até o momento, apenas a vacina da Pfizer está liberada para pessoas de 12 a 17 anos.
Enquanto novos passos são pensados, a Fiocruz tabula os primeiros dados colhidos na Maré após a vacinação de aproximadamente 36 mil pessoas em quatro dias. Os resultados devem ser apresentados até a próxima semana, entre eles qual o percentual de pessoas com anticorpos contra o coronavírus. A medição vai ser repetida em ciclos de três meses, com o próximo pouco antes da segunda dose.
Os pesquisadores também seguem com duas linhas de pesquisa: sobre a efetividade da vacina contra as variantes do coronavírus e o caminho do contágio da doença; e também com o acompanhamento de 2 mil famílias para identificar a transmissão dentro de casa.
“Temos a intensificação das estratégias de vigilância, especialmente genômica. Todas as pessoas sintomáticas vão ser testadas. E todos os positivos vão ter o vírus sequenciado para identificação de variante”, explicou Bozza. O sequenciamento genômico ganha ainda mais importância com o aumento de casos da variante Delta no Rio de Janeiro, que soma 67 casos e uma morte.
Em relação ao acompanhamento das famílias, o trabalho seguirá por seis meses, com foco nas crianças. “Estamos especialmente interessados em saber da circulação dos vírus das crianças. Uma das hipóteses é que, com a evolução da pandemia, a Covid se torne endêmica, causando infecções em crianças. Estamos intensificando a vigilância nas escolas da região da Maré, acompanhando essas famílias”, explicou Bozza.
No Rio, além da vacinação em massa na Maré, ocorre o experimento em Paquetá, onde adultos e adolescentes vão receber a segunda dose no próximo domingo. Outra pesquisa do tipo já mostra resultados promissores em Botucatu (SP), onde houve a finalização do esquema vacinal nesse domingo (8). Após a primeira dose, a cidade teve uma queda de mais de 85% no número de internações por Covid-19.